26 de Abril de 2024 • 07:09
Foto aérea mostra o tamanho da área já desmatada na Mata Atlântica / Divulgação
O vereador de Praia Grande Antônio Carlos Rezende (PSDB) foi autuado (B.O. 313687) por desmatar 0,4912 hectares (4,9 mil metros) de vegetação nativa em estágio médio de Mata Atlântica, no local conhecido como Sítio Taquaruçú, no bairro do Melvi, em zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar.
Os policiais aplicaram uma multa de R$ 13.152,00 e embargaram o complemento da obra que estava sendo realizada pelo vereador. Rezende confirmou a autuação e garante que a área é de sua família (ver nesta reportagem).
A iniciativa da Polícia Florestal ocorreu no ano passado e foi motivada pela denúncia da assistente social Rosana Marques que, há um ano, fez um levantamento da situação e preparou um dossiê completo de 83 páginas, com fotos e dois vídeos, feitos por intermédio de um parapente, entregue a autoridades regionais e estaduais.
GAECO
O Ministério Público, por intermédio do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (GAEMA) abriu e mantém investigação para apurar responsabilidades sobre a degradação ambiental e a possível não utilização, por parte da Prefeitura, dos recursos para fiscalizar.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) também foi acionado. O mesmo dossiê foi protocolado no Ministério Público Federal e ainda no Gabinete do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Trabalho minucioso e arriscado. Rosana Marques já foi até ouvida pela Polícia Civil de Praia Grande. Procurada pela Reportagem, ela passou os detalhes do trabalho minucioso e arriscado que realizou pelo meio da mata, iniciado em julho do ano passado, primeiro com auxílio de uma motocicleta e depois de um parapente.
“Pelo caminho, constatei manilhas espalhadas pelo chão. Depois, chegamos à entrada da fazenda quando percebi o desmatamento gigantesco. Fiz algumas fotos. Na volta, chegamos a flagrar uma picape branca do vereador Rezende e um homem com uma motosserra fazendo desmatamento para a passagem de carros até a fazenda. Ao pedir informações a um funcionário da base da Sabesp (Saneamento Básico do Estado de São Paulo), pois as áreas das cachoeiras estão sob a guarda da estatal, fui informada que as chaves para a entrada na área estariam de posse do vereador Rezende”, afirma.
Para ter uma dimensão exata do tamanho do desmatamento e do empreendimento, a assistente social contratou uma pessoa que sobrevoou a área com um parapente.
Gravações
As gravações ocorreram em 27 de julho de 2015. “São impressionantes! Descobri tanques enormes. Contei pelo menos 15 e outros ainda em fase de construção, que deve ser o que a Florestal flagrou. O empreendimento todo ocupa uma área equivalente a oito campos de futebol e é um enorme criadouro de peixes para serem comercializados”, acredita.
Cachoeira
Rosana Marques explica que a situação ainda possui um agravante: uma das onze cachoeiras que existe no entorno, a do Guariúma, que possui uma queda d´água de cerca de 30 metros, estaria supostamente sendo usada para manter o empreendimento particular em funcionamento.
Vale lembrar que o endereço apontado no B.O. é Avenida Wilson de Oliveira, antiga Estrada da Sabesp.
No dossiê consta a foto de uma placa alertando que a área é restrita, que degradação é crime ambiental e confirmando que é parte do Parque Estadual da Serra do Mar.
Sem licença
“Eu verifiquei com o GAEMA e não existe licença ambiental. A área é reduto de dezenas de animais. Não dá para mensurar o estrago. Um absurdo! Por que isso nunca foi fiscalizado pela Prefeitura?”, questiona.
Rosana culpa a Prefeitura que, segundo informa, “vem recebendo, desde 2006, verbas do Governo Federal e apoio de entidades internacionais de preservação da área de Praia Grande, do Parque Ecológico da Serra do Mar, somando o montante de mais de R$ 5 milhões, para evitar a degradação. Por isso, o Ministério Público também investiga quando, onde e como esses recursos foram gastos”, acredita.
A assistente social termina com um desabafo: “sobre a área sobrevoam vários helicópteros, inclusive da Polícia Militar, e nunca viram o desmatamento? Eu denunciei tudo isso e até agora só eu fui chamada para depor na Polícia”.
GAEMA cobra vereador
Em 23 de fevereiro último, o vereador Antônio Carlos Rezende esteve dando explicações à promotora Almachia Zwarg Acerbi, do GAEMA. Ele explicou que a área em questão, de 600 hectares, era uma fazenda de banana de ingleses, que foi deixada para seus caseiros que, por sua vez, venderam a posse para seus antecedentes. Ele apresentou cópia da escritura de cessão e transferência de direitos possessórios, desde 1984. Segundo Rezende, aproximadamente 55 hectares foram arrendados por uma cooperativa japonesa para plantação de gengibre, não ocorrendo desmatamento. A piscicultura foi implantada em 2004, com aprovação do IBAMA.
A promotora recomendou que o vereador não proceda qualquer intervenção na área, supressão de vegetação, drenagem, limpeza de terreno, construção, edificação sem autorização ou licenciamento ambiental, devendo o Ministério Público ser sempre comunicado, inclusive de eventual início de licenciamento ambiental.
Rezende confirma e Administração explica
O Diário tentou falar com Rezende pelos dois telefones que constam no B.O. e não o encontrou. Por meio da assessoria de imprensa da Câmara, o parlamentar confirmou que já foi notificado sobre o caso e apresentou defesa prévia (conforme consta na reportagem). Também citou a audiência no GAEMA para prestar esclarecimentos e ratificou que a área pertence a sua família, que o local já abrigou uma fazenda de bananas, passou a ser uma plantação de gengibre e atualmente existe um projeto de piscicultura em andamento.
Prefeitura
Sobre a cobrança da assistente social com relação ao investimento recebido, a Prefeitura de Praia Grande informa que possui um amplo serviço de fiscalização de suas áreas de proteção, executado por fiscais da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e Guarda Ambiental. Recursos oriundos das esferas federal e estadual, quando recebidos, vêm somar ao investimento já realizado nessa área. A Administração Municipal, quando solicitada, está à disposição do Ministério Público para eventuais esclarecimentos.
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