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Cotidiano

Papo de Domingo: Modernização dos bancos preocupa funcionários

A transição prevista para atendimentos online gera dúvidas entre os bancários e o futuro da profissão

Vanessa Pimentel

Publicado em 26/03/2017 às 10:30

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'Sempre existem assuntos que precisam ser resolvidos cara a cara. Se muitas agências se transformarem em negócios virtuais, as poucas físicas que restarem serão sobrecarregadas' / Matheus Tagé/DL

A modernização dos serviços bancários em sistemas online, pela internet e caixas eletrônicos, traz benefícios aos usuários, mas preocupa os bancários do país.

Em conversa com o Diário do Litoral, a presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Eneida Koury fala sobre os pontos positivos e negativos das transformações advindas da ­tecnologia.

Diário do Litoral - Os bancos estão cada vez mais informatizados e a bandeira levantada por eles indica as facilidades para a vida dos clientes. Acredita nisso?

Eneida Koury – Do ponto de vista do cliente, para quem tem contato com o meio digital, isso realmente facilita porque ele não precisa mais ir até a agência, pode resolver as coisas pelo computador, ou no autoatendimento. Porém, vale lembrar que possivelmente ele continuará pagando as tarifas bancárias mesmo se auto atendendo. Em Santos, se não me engano, a população idosa chega a 18%, e ela não tem domínio dessas ferramentas. A intenção dos bancos não é só facilitar para o cliente, já que existe um projeto de reduzir o número de agências pensando em termo de custo.

DL – As chefias geralmente alegam que a tecnologia aumenta a produtividade dos funcionários. Como os bancários enxergam esse argumento?  

Eneida - Para os bancários isso não é necessariamente algo positivo. As inovações tecnológicas tem uma consequência que é a redução do número de trabalhadores. Quanto à produtividade, o que na maioria das vezes acontece é que um profissional passa a realizar a função que dois ou três realizavam, manuseando diversas ferramentas ao mesmo tempo. Então falar em aumento de produtividade é relativo. A vitrine, o roteiro que se vende não condiz com a realidade. Antes, um gerente atendia uma cartela com 300 clientes, hoje são mais de 500. Os bancários têm meta de quantos clientes eles conseguem fazer com que cadastrem a digital que é para depois poder falar “vá lá fora resolver as suas coisas”.  

DL - Quais os impactos dessa reformulação, tanto para os bancários quanto para a ­população?

Eneida - Para os bancários é perder o emprego, para quem fica é o aumento de trabalho e de metas. Com a justificativa dos sistemas digitais e das diversas ferramentas, o funcionário será cobrado cada vez mais por resultados. Os bancos oferecem hoje diversos canais de atendimento ao cliente, mas não contam com o número necessário de bancários para atender. A tecnologia é algo que vai acontecer, está acontecendo, mas não pode ser desrespeitosa com ambas as partes. Sempre existem assuntos que precisam ser resolvidos cara a cara. Se muitas agências se transformarem em negócios virtuais, as poucas físicas que restarem serão sobrecarregadas.

DL – Algumas pesquisas apontam que cada vez menos as pessoas vão aos bancos porque migraram para as plataformas de atendimento digital. Mesmo com menos clientes, acredita que haverá sobrecarga nas agências físicas?

Eneida – O que eu vejo é que a grande maioria da população brasileira não tem acesso às facilidades tecnológicas. Há também uma parcela bancalizada, mas de baixa instrução e essas pessoas continuarão procurando as agências bancárias físicas. Mas, de fato, há uma queda no atendimento presencial. No ano de 2015, de acordo com a Pesquisa de Tecnologia Bancária da Febraban, as transações bancárias realizadas pelo celular e internet banking passaram de 0% em 2011 para 21% em 2015, juntos respondem por mais de 54% do volume de ­operações.

DL - Alguns clientes citam que preferem não ir ao banco porque não são bem atendidos...

Eneida - Eu quero destacar que essa expulsão do cliente de dentro da agência é uma política do banco, não são os bancários que estão tomando essa decisão. O bancário quer o cliente porque se tem dois caixas, mas poucas pessoas para atender, um dos dois vai perder o emprego. Quem força essa expulsão do cliente são as políticas dos bancos que estão forçando o atendimento digital.

DL – Em quanto tempo acha que os bancos funcionarão totalmente de forma virtual?

Eneida - Eu não arriscaria em quantos anos isso irá acontecer, mas vai depender muito das condições das pessoas assimilarem isso. O Itaú, por exemplo, prevê que em 10 anos terá reduzido pela metade as agências físicas. O Banco do Brasil também fez uma reestruturação e fechou mais de 400 agências no Brasil e em torno de 300 foram transformadas em postos de atendimento.

DL – Saberia dizer em números quantos bancos já fecharam após a implantação dos bancos com ­atendimento ­online?

Eneida - Na década de 90, quando começou a implementação de novas tecnologias, nós tínhamos aqui na região oito mil bancários. No país eram 800 mil. De lá pra cá, reduziu para 400 mil no Brasil e a Baixada Santista também acompanhou e agora possui quatro mil bancários. A tendência é diminuir ainda mais se isso se aprofundar. Além disso, tem as fusões. Há alguns anos tínhamos o HSBC, Bamerindus, Unibanco, Nacional, Real. Hoje, existem em torno de oito bancos, sendo que cinco são os principais. Isso acarreta demissões e esses funcionários acabam trabalhando para bancos por empresas terceirizadas, como as centrais de atendimento e vigilantes. Então os serviços continuam, mas de forma precarizada.

DL - Na Baixada Santista, quantas agências já fecharam?

Eneida - Seis agências do Banco do Brasil e seis do Itaú.

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