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Cotidiano

Diretor do Teatro do Kaos é ameaçado de morte em Cubatão

Lourimar Vieira luta para impedir que casas geminadas do Largo do Sapo se tornem prostíbulos

Carlos Ratton

Publicado em 04/03/2017 às 08:00

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Artistas não querem que as casas geminadas se tornem prostíbulos / Matheus Tagé/DL

O ator e diretor do Teatro do Kaos, Lourimar Vieira, foi ameaçado de morte em Cubatão por tentar impedir que casas que envolvem o conhecido Largo do Sapo sejam alugadas e transformadas em prostíbulos. O artista, que luta para que o patrimônio histórico seja transformado em um complexo cultural, registrou um boletim de ocorrência para que a Polícia tome previdências e para resguardar sua integridade.

À Reportagem, Vieira contou que foi abordado por um homem no interior de sua escola de teatro, que fica no Largo, dias após se posicionar, via rede social, sobre a possibilidade das edificações geminadas do local servirem como ele define: casas de lazer sexual.

“Do nada, durante 15 minutos, ele deixou claro que eu deveria desistir de lutar contra porque tem muita gente perigosa envolvida e eu estaria correndo risco de morte. Tenho testemunhas, gravei ele e a polícia está investigando. Estou assustado. Quero viver e fazer muito teatro ainda”, disse o diretor.

Apelo

Se mostrando bastante apreensivo, Lourimar Vieira disse esperar que o prefeito Ademário da Silva Oliveira (PSDB) não permita que o lugar se transforme num prostíbulo, não só pelas 160 crianças e adolescentes que fazem curso em sua instituição, pelos menores que frequentam o Círculo de Amigos dos Menores Patrulheiros - CAMP (cuja sede fica próxima ao Largo) mas porque teria assumido um compromisso com os artistas da cidade, durante o período eleitoral.

“Quando Ademário era candidato, assinou um compromisso com 10 coletivos de teatro se prontificando a viabilizar o complexo cultural no Largo do Sapo. Ele ganhou as eleições, nada ocorreu e, agora, essa possibilidade das casas de lazer sexual, que está me causando toda essa pressão psicológica. Portanto, faço um apelo ao prefeito para que faça uma reunião urgente com as empresas e artistas visando dar uma solução para esse problema”, completa Vieira.

Prefeito

Procurado, o prefeito Ademário Oliveira disse que a situação é “gravíssima” e que não permitirá que a área abrigue prostituição por ser uma atividade ilegal por parte de quem a explora.

“Mas para viabilizar o complexo é preciso parceiros, investimentos. Temos também que mudar a rota dos caminhões que acessam as empresas próximas, que já possui alternativas. Tive no Ministério da Cultura com o Roberto Freire e coloquei o Largo do Sapo em pauta. Por parte da Prefeitura, não há qualquer impedimento”, revela.

Ademário disse que vai aguardar um contato e uma projeto do diretor Lourimar Vieira, que possibilite a captação de recursos via leis federais de incentivo à Cultura. “Lourimar é muito bom em elaborar projetos. Vamos tentar viabilizar esse sonho”, completou o prefeito.                       

Luta dos artistas

O complexo cultural, como a retomada das obras do Teatro Municipal de Cubatão, são dois sonhos antigos da classe artística da cidade.

O Largo do Sapo é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal. Os dois empreendimentos dependem de dinheiro, mas o segundo já ganharia um avanço com uma canetada, que seria a proibição de circulação de caminhões que causam prejuízos às edificações do entorno.               

Além de agora estar preocupado com sua segurança, Lourimar Vieira, há anos, vem lutando para garantir que no espaço só circulem artistas, cenários, figurinos e outros profissionais, e materiais relacionados ao mundo das artes.

“Esse local é incompatível com a circulação de veículos pesados. Qualquer pessoa que tem um pouco de sensibilidade percebe a degradação diária do patrimônio. Essa situação se arrasta desde o governo do prefeito Clermont Castor. Basta uma mudança de fluxo para o problema ser 70% resolvido”, afirma Vieira.

Nova via

O diretor já apresentou um projeto de transformação do Largo em um complexo cultural. Ele afirma também que um empresário doou um terreno para a criação de uma nova via de circulação. “Mas até agora nada e as edificações continuam tendo rachaduras. Estamos pensando a recorrer ao Ministério Público (MP), porque Dom Pedro I passou por aqui. É um local histórico. Falta vontade política para que esse sonho, de 15 anos, se realize, só isso”, afirma o diretor.

Desapropriação

Conforme Lourimar, além de impedir o tráfego de veículos, a Administração teria que desapropriar os imóveis históricos, hoje nas mãos de particulares. Ele acredita que, com vontade política, alguns empresários conseguiriam o dinheiro para compra dos imóveis para posterior doação ao município.

Abaixo-assinado

Em fevereiro de 2015, quando se comemorou 482 anos da Fundação do Povoado de Cubatão, foi entregue um abaixo-assinado à prefeita Marcia Rosa (PT) solicitando a implantação do complexo cultural.  

O tombamento do Largo do Sapo compreende a Praça Coronel Joaquim Montenegro, o conjunto de casarios, situado no mesmo endereço sob os números 70, 76, 80, 84, 88, a edificação situada na Praça, cujo uso atual é permitido ao “Teatro do Kaos”, bem como a edificação situada na Avenida Nove de Abril, 1.205, cujo prédio pertenceu a antiga Associação de Socorros Mútuos e foi sede da primeira Prefeitura do Município como patrimônio histórico municipal.

O Largo do Sapo recebeu este nome no início do século XX por causa da enorme quantidade de sapos que havia no local. Naquela época, ali morava a elite cubatense.

Um exemplo disso foi a presença do presidente Washington Luís, que sempre que vinha a Santos parava na residência do casal Bernardo Pinto e Izolina Couto, para descansar. No Largo do Sapo também já foi instalado o Porto Geral, nos idos do século XVII, local de grande importância devido ao fluxo de pessoas e mercadorias entre Santos e São Paulo.

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