Segundo o especialista, há uma cultura de masculinidade tóxica que impede os homens de se expressarem emocionalmente / ImageFX
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De acordo com o Ministério da Saúde, os homens têm aproximadamente 3,8 vezes mais chances de morrer por suicídio do que as mulheres no Brasil. Em 2019, por exemplo, a taxa foi de 10,7 por 100 mil para homens contra 2,9 por 100 mil para mulheres.
Ainda assim, estudos indicam que os homens tendem a buscar menos ajuda psicológica ou psiquiátrica. Em uma plataforma privada de saúde mental, por exemplo, eles representam apenas 33,8% dos atendimentos (Fonte: Telavita/UNB).
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A negligência com a saúde emocional também contribui para a diferença de expectativa de vida: em 2023, os homens viviam em média 73,1 anos, enquanto as mulheres chegavam a 79,7 anos, segundo o IBGE — uma diferença de 6,6 anos.
Para o psiquiatra Dr. Thyago Henrique, pós-graduado em psiquiatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein, esses números não podem mais ser ignorados.
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'A saúde mental masculina é uma crise silenciosa. Muitos homens morrem sem nunca ter falado sobre o que sentem. Precisamos romper o mito do homem forte e criar uma cultura de acolhimento. O Novembro Azul é o momento ideal para ampliar essa conversa.'
A campanha, que tradicionalmente alerta sobre o câncer de próstata, agora também propõe um olhar mais amplo sobre o autocuidado masculino, incluindo o bem-estar emocional.
Desde a infância, muitos homens aprendem a esconder o que sentem. 'Crescem ouvindo frases como ‘engole o choro’ ou ‘homem não chora’. Isso gera adultos que têm medo de demonstrar vulnerabilidade e, muitas vezes, só procuram ajuda quando o sofrimento já está intenso', explica Dr. Thyago.
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Esse comportamento de silêncio e negação tem reflexos graves. 'O isolamento é um dos maiores fatores de risco para o suicídio masculino. Muitos chegam ao limite sem nunca ter pedido ajuda.'
O sofrimento masculino costuma se expressar de forma diferente. Irritabilidade, insônia, perda de interesse, uso excessivo de álcool ou trabalho em excesso são sinais de alerta. 'Muitos pacientes só procuram o consultório por sintomas físicos, como dor no peito ou insônia, mas ao investigar, encontramos uma origem emocional, como ansiedade ou depressão', relata Dr. Thyago.
Segundo o especialista, há uma cultura de masculinidade tóxica que impede os homens de se expressarem emocionalmente. 'Eles se sentem mais à vontade para falar do corpo do que da mente. E ainda carregam o medo de parecerem fracos, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento', destaca.
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'De que adianta cuidar da próstata se a mente está doente?', provoca o psiquiatra. Para ele, saúde física e emocional são inseparáveis. 'Estresse, depressão e ansiedade podem levar a hábitos ruins como sedentarismo e má alimentação, aumentando o risco de doenças físicas. Cuidar da mente é cuidar do corpo — e vice-versa.”
Apesar da resistência ainda ser grande, o especialista vê sinais positivos nas novas gerações. “Jovens estão mais abertos ao autocuidado emocional. Muitos já fazem terapia e falam sobre sentimentos”, conta. As redes sociais têm papel fundamental nesse processo: 'Quando um homem vê outro semelhante dizendo que procurou ajuda e melhorou, isso normaliza o cuidado.'
Além disso, mulheres próximas — mães, irmãs, parceiras — muitas vezes percebem os primeiros sinais e incentivam a busca por ajuda. “Elas têm papel essencial, mas o ideal é que os próprios homens construam redes de apoio entre si.”
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O primeiro passo é oferecer escuta sem julgamento. 'O homem precisa sentir que pode falar sem ser ridicularizado. Linguagem simples, direta e focada em benefícios — como melhorar o sono, o foco ou o desempenho no trabalho — costuma funcionar melhor.'
Dr. Thyago também defende espaços de acolhimento em empresas, grupos de amigos e ambientes institucionais. “Quando o tema é tratado com naturalidade entre iguais, o impacto é maior.”
'Um dos casos mais marcantes foi o de um empresário com insônia e crises de irritação. Acreditava que era só estresse, mas ao iniciar o tratamento, foi diagnosticado com ansiedade. Em poucas semanas, ele dormia melhor, convivia melhor com a família e se sentia mais produtivo. Ele disse: ‘Não mudei de emprego, mudei de mentalidade’. E é isso que acontece quando o homem decide cuidar da mente.'
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