Saúde
Explosão no consumo do medicamento entre jovens sem disfunção erétil preocupa especialistas e revela impactos da falta de educação sexual no país
Maiores consumidores de tadalafila são os paulistas, com 12,7 milhões de unidades vendidas em 2024 / Divulgação
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As vendas de tadalafila - medicamento vasodilatador indicado para o tratamento da disfunção erétil - triplicaram no Brasil nos últimos quatro anos, acendendo um alerta entre médicos e especialistas em saúde sexual.
Dados da IQVIA e da PróGenéricos apontam que, em 2024, foram comercializadas mais de 61 milhões de unidades da substância, um aumento de 193% em relação a 2019.
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O fenômeno batizado por profissionais de saúde como Geração Tadalafila reflete o uso indiscriminado de remédios para ereção por homens jovens, muitos sem qualquer diagnóstico clínico de disfunção erétil.
Segundo o infectologista e urologista Dr. Flavio Ribeiro, "o que se observa na prática é um quadro de ansiedade de desempenho e medo de falhar, levado para a farmácia em vez de ser investigado em consultório".
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Os maiores consumidores de tadalafila são os paulistas, com 12,7 milhões de unidades vendidas em 2024, seguidos por Minas Gerais (7,6 milhões), que registrou um salto de 47,3% no último ano. Essa alta concentração de vendas sugere hábitos de automedicação alimentados por impulsos psicológicos, e não por prescrição médica.
Saiba qual o medicamento - comum em casas e farmácias brasileiras - é proibido em outros lugares do mundo por conta dos riscos que causa à saúde.
Apesar de aprovada pelas agências regulatórias, a tadalafila não é isenta de efeitos colaterais. Os usuários podem apresentar dor de cabeça, rubor facial, visão turva, dores musculares, taquicardia e queda de pressão arterial.
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Ainda mais preocupante, alerta Dr. Flavio, é o impacto na autoestima masculina: "o uso recorrente sem necessidade médica pode desencadear dependência psicológica — o homem chega a crer que só consegue ereção com a ajuda do remédio".
Você sabia que os medicamentos sofrerão um reajuste em março deste ano? Saiba qual o percentual de aumento.
A internet tornou o acesso à tadalafila fácil e sem supervisão. Sites e redes sociais propagam o remédio como item obrigatório no “kit balada”, frequentemente associado a álcool, energéticos e outras substâncias. "É uma combinação perigosa, que banaliza a saúde sexual e coloca vidas em risco", afirma o especialista.
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Para Dr. Flavio, o boom na venda de remédios para ereção revela um déficit grave de educação sexual no Brasil. "Meninos e homens crescem sob o mito da performance perfeita, sem espaços seguros para dialogar sobre ansiedade, vulnerabilidade e prazer", diz.
O Instituto Homem, organização dedicada à saúde sexual masculina, tem ampliado seu atendimento com foco em acolhimento e orientação multidisciplinar. "Não basta restringir o acesso ao remédio; é fundamental debater masculinidade, emoções e autocuidado para quebrar o ciclo da dependência medicamentosa", conclui o médico.