Chevrolet Corsa Wind 1995 tem preço de R$ 9 mil, segundo a Tabela Fipe / Divulgação
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Embora pareçam sinônimos, os termos "carro de coleção" e "carro clássico" carregam significados distintos no universo dos veículos antigos — e a definição pode variar de acordo com a instituição ou mesmo com a cultura automotiva de cada país.
Pelas normas da Federação Internacional de Veículos Antigos (Fiva), todo veículo com 30 anos ou mais é considerado de coleção. A entidade internacional, respeitada no meio, divide os carros colecionáveis em oito categorias, abrangendo desde os modelos fabricados a partir de dezembro de 1904 até os que hoje completam três décadas de vida, classificados como "Categoria H".
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No Brasil, a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), filiada à Fiva, adota os mesmos critérios. Para que um carro seja reconhecido oficialmente como de coleção e receba a desejada placa preta, precisa manter pelo menos 80% de originalidade.
Nos Estados Unidos, país sem uma federação oficial, a classificação é diferente. Veículos produzidos entre 1919 e 1930 são considerados vintage ou históricos, enquanto os fabricados até 1975 entram na categoria de antigos. No entanto, para receber tal status, precisam ser originais e bem conservados — isso se nenhuma mudança de legislação alterar os critérios.
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Apesar dessas diretrizes, os conceitos continuam gerando interpretações subjetivas. Muitos chamam qualquer carro de coleção de clássico, termo que carrega um charme a mais — e, muitas vezes, um preço inflado. Mas será que um Corsa Wind 1.0 de 1995, que agora se enquadra como veículo de coleção, pode ser considerado um clássico?
Para o colecionador e comerciante de carros antigos Maurício Marx, a resposta é não. Ele falou em reportagem do Autoesporte: “Para ser considerado clássico, um veículo precisa ter relevância histórica, design marcante e certa raridade”, afirma.
Ainda assim, modelos como o Corsa são valorizados por seus donos e anunciados na internet por valores que ultrapassam três vezes o preço sugerido pela tabela Fipe. Um exemplar em bom estado chega a ser anunciado por cerca de R$ 30 mil. Versões esportivas, como a GSI 1.6 (1995–1996), podem valer ainda mais, especialmente se forem de único dono ou tiverem a cobiçada placa preta.
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No entanto, Marx aponta que o mercado está em desacordo com a realidade. “Os preços dos carros de coleção caíram muito nos últimos anos, mas quem está vendendo nem sempre percebe isso”, diz.
A discussão sobre o que faz de um carro um clássico se estende ao futuro. Maurício Marx acredita que a nova geração de elétricos poderá, sim, entrar para esse seleto grupo — embora a relação afetiva com eles ainda esteja em formação. “Um bom indicador de que um carro é clássico é observar se as crianças torcem o pescoço para vê-lo passar. Se isso acontecer com um carro elétrico daqui a algumas décadas, ele pode, sim, ser considerado clássico.”
Já Rodrigo de Almeida, diretor da Associação Brasileira de Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), é mais cauteloso. “Quem tem um elétrico não se apega ao modelo, mas à tecnologia”, afirma. Segundo ele, isso explica o número reduzido de clubes dedicados a veículos eletrificados. Fundada em 2017, a Abravei conta com “centenas” de associados e tem papel ativo no diálogo com montadoras e órgãos reguladores.
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O cenário para os carros clássicos — e colecionáveis — passa por transformações importantes. A escassez de mão de obra especializada para restaurar modelos antigos e o desaparecimento de mecânicos que saibam, por exemplo, ajustar carburadores ou motores de dois tempos podem impulsionar adaptações. Assim, pode não ser surpresa ver, num futuro próximo, um Mustang 1966 desfilando pelas ruas com motor elétrico — ainda torcendo muitos pescoços por onde passa.