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Saúde

O que é o câncer metastático, doença que fez prefeito Bruno Covas se afastar do cargo

O licenciamento será oficializado nesta segunda-feira (3), com um pedido médico que a equipe que o assiste no Hospital Sírio-Libanês encaminhará à prefeitura

Folhapress

Publicado em 02/05/2021 às 22:00

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Bruno Covas (PSDB) é prefeito da cidade de São Paulo / Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), voltou a ser internado na tarde deste domingo (2) e decidiu se licenciar do cargo a partir desta segunda (3). Ele está se tratando de um câncer no sistema digestivo com metástase óssea.

O licenciamento será oficializado nesta segunda-feira (3), com um pedido médico que a equipe que o assiste no Hospital Sírio-Libanês encaminhará à prefeitura.

O que é metástase?

O prefeito não está com um novo câncer no fígado ou nos ossos. O que está acontecendo com ele é uma metástase, um processo de disseminação da doença para outros órgãos do corpo, que vai acumulando mutações que as células não conseguem controlar, remover ou matar.

"As células do tumor acumulam alterações genéticas que trazem vantagens de crescimento e invasão, tornando-se mais agressivas. E essa agressividade acaba resultando em uma maior invasão de tecidos e de órgãos, o que se traduz no surgimento de metástases", explica Leandro Machado Colli, professor, chefe e coordenador do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

O especialista acrescenta ainda que essa invasão chega em vasos e faz com que as células circulem em outros locais, ou seja, a doença não está mais apenas localizada. O prefeito sofre de um câncer inicial no estômago, mas também é bastante comum o surgimento de metástases em câncer no fígado, pulmão e até nos ossos.

"Quando se trata de um tumor com metástase, significa que nós temos um quadro mais agressivo do que tinha antes, uma célula mais resistente, e com maior necessidade de tratamentos sistêmicos, como quimioterapia e imunoterapia", diz o chefe e coordenador do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

Baseado em exames de imagens e patológicos, os cânceres têm várias classificações que vão desde o nível I até o IV - que é o estágio mais avançado, onde a doença já se espalhou para outros órgãos, ou seja, existe metástase.

"Quanto maior o estágio, mais difícil é, em geral, o tratamento. No estágio IV, temos uma menor perspectiva de sobrevida, mas existem pacientes que possuem excelente respostas. Assim, não é infrequente a gente encontrar pacientes metastáticos que vivem durante muito tempo, até décadas, dependendo do tumor de origem", conta Colli.

Haila Bockis Mutti, oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo e do Oncocenter (Centro Médico Oncológico) acrescenta que alguns tumores metastáticos são curáveis, como o câncer de testículo. Outros, como câncer de intestino e melanomas, dependendo do caso, podem ser curáveis, com terapêuticos mais recentes.

"Quando a doença é metastática, a gente precisa particularizar o câncer primário para saber se tem grande chance de cura ou não. Mas, de uma forma geral, doença metastática, a gente fala em controle de doença" completa Mutti.
O que faz a quimioterapia?

Existem vários protocolos para quimioterapia ou imunoterapia, neste caso, vamos falar especificamente sobre os de câncer no estômago.

A quimioterapia pode ser feita de diversas formas, uma delas é quando o paciente recebe uma bombinha (ou uma bolsinha) que dura 46h, e ele pode ir para a casa recebendo o medicamento, além de ter recebido no hospital. Tem outras que ele recebe no hospital e fica 24h com a bombinha e vai para a casa.

No processo de quimioterapia são usados alguns medicamentos que promovem a parada do crescimento do tumor e, assim, a morte das células. As drogas e esquemas (combinação de quimioterápicos) utilizados são específicos para cada tipo de tumor.

"E por que quimioterapia é para quem tem metástase? Porque age de forma sistêmica, ela precisa tratar todo os órgãos, todo o organismo. Então, ela vai para o fígado, gânglios, ossos. Então são medicamentos que caem na circulação e são tóxicos para as células", relata a oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

No entanto, segundo a especialista, a técnica causa a morte das células tumorais, que estão em alta replicação celular, mas também das normais, que estão se replicando. "Ela não é tão específica para determinado alvo", diz Mutti.
E a imunoterapia?

Ela também é uma medicação na veia que age sistemicamente, porém, tem mecanismos de ação diferente da quimioterapia. "A imunoterapia é um anticorpo que "acorda" o sistema imunológico. Ela vai bloquear alguns pontos das células para deixá-lo mais acordado", descreve a oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

Isso ocorre porque as células tumorais têm uma característica de deixar o sistema imunológico mais "lentificado". E ele, às vezes, não consegue enxergar as células tumorais para combatê-las, por isso a importância de "acordá-lo" com a imunoterapia.

"Então, por um lado, a quimioterapia causa a morte celular e a imunoterapia estimula o sistema imunológico a reagir às células tumorais", diz Mutti.
Quais são os possíveis efeitos colaterais desses tratamentos

De acordo com os especialistas, não é possível determinar quais os efeitos colaterais que a quimioterapia trará, pois depende da classe dos medicamentos que serão administrados, isto é, dos quimioterápicos.

Mas em geral, é comum que os pacientes tenham fadiga, às vezes perda de apetite, náuseas, vômito, diarreia, queda de cabelo, alguns mexem com a imunidade causando anemia, formigamento e dormência das mãos e dos pés. Mas de novo: tudo isso é muito individual.

Já a imunoterapia é uma medicação que apresenta outros efeitos colaterais. "Ela pode dar todos os efeitos relacionados aos processos inflamatórios: tireoidite, pancreatite, hepatite, meningite, dermatite, nefrite, pneumonite, colite, gastrite, ou seja, pode atingir qualquer um desses órgãos causando um processo inflamatório", explica a oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

Mas vale ressaltar que a imunoterapia, apesar da diversidade, ainda tem menos efeitos colaterais que a quimioterapia, porém, por sua vez, pode ter quadros mais graves.

Histórico

Bruno Covas foi diagnosticado em outubro de 2019 com um câncer na cárdia, uma área anatômica do estômago. Na ocasião, foram constatadas também uma metástase no fígado e uma lesão nos linfonodos.

Ao longo de quatro meses, ele passou por oito ciclos de quimioterapia. Em cada sessão ele passava 30 horas recebendo a medicação.

Em fevereiro do ano passado, os médicos avaliaram que o tratamento havia sido satisfatório, mas não suficiente e, por isso, ele começou a fazer imunoterapia.

No dia 17 de fevereiro deste ano, um nódulo no fígado foi detectado e a imunoterapia foi interrompida. Na ocasião, os médicos informaram que Covas faria quatro sessões de 48 horas de quimioterapia.

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