19 de Maio de 2024 • 00:10
Manifestantes pró-governo causaram tumultos nunca vistos em Aparecida, causando constrangimento de religiosos e fiéis / Reprodução
"Do ponto de vista religioso, houve desrespeito ao sagrado e à fé católica, o que consideramos sacrilégio, com atos de profanação do espaço e de pessoas religiosas. Do ponto de vista legal, houve crime contra o sentimento religioso, com atos bem caracterizados pelo artigo 208 do Código Penal", explica, em nota emitida ontem, a Diocese de Santos sobre o episódio ocorrido em 12 de outubro último, Dia de Nossa Senhora Aparecida, quando simpatizantes do Governo Federal promoveram vaias a padres e arcebispos, agressões a jornalistas, trabalhadores e outros visitantes.
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O artigo referido aponta que "escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso gera pena de reclusão de um a três anos e multa".
Segundo a Diocese, não apenas quem estava presente naquele dia, mas toda a Igreja sentiu-se desrespeitada e agredida, "pois isso aconteceu na casa de nossa querida Mãe Maria, como uma invasão a este lar de todos nós, independentemente da posição partidária pessoal de cada um. De fato, estes atos destoaram completamente da harmonia que normalmente acontece com a presença dos romeiros em Aparecida, onde todos se sentem em casa, em segurança, em clima de confraternização, de alegria e paz".
Ainda conforme nota, o que aconteceu foi muito grave, e precisa receber a devida correção por parte das autoridades competentes, pois aconteceram agressões a pessoas que tinham ido para a festa e estavam no espaço do Santuário, a ministros sagrados e a profissionais de imprensa.
SEM CONHECIMENTO
A Diocese de Santos informa ainda que, até o momento, não tem conhecimento de qualquer manifestação de repúdio por parte dos responsáveis pela campanha do atual presidente ou distanciamento das atitudes manifestadas.
Antes que isso acontecesse, completa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota publicada no dia 11 de outubro, já havia alertado para o fato grave que vem acontecendo de exploração da fé e da religião com fins eleitoreiros.
"Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a CNBB lamenta e reprova tais ações e comportamentos".
ALGUNS EPISÓDIOS
Na quarta-feira (12), durante visita do presidente à Basílica, apoiadores do Governo causaram tumulto e hostilizaram profissionais de imprensa. As cenas, envolvendo em especial uma equipe da TV Vanguarda, foram transmitidas ao vivo pela CNN. Na mesma ocasião, o arcebispo de Aparecida foi vaiado por pessoas vestidas de verde e amarelo que ouviam a missa do lado de fora ao falar sobre "vencer o dragão do ódio e da fome".
As ações tiveram início no lado de fora. Com copos de bebidas alcoólicas nas mãos, os apoiadores de Governo gritaram contra os profissionais de comunicação que cobriam a data.
Chegaram a fazer gestos de ameaças, como o sinal de arma. Entre os registros feitos nas redes sociais, os alvos foram jornalistas e cinegrafistas da afiliada da TV Globo no interior, a TV Vanguarda, e da própria TV Aparecida, emissora oficial do Santuário.
Em outro momento, um jovem que caminhava de camiseta vermelha passou a ser perseguido e xingado pelos manifestantes. O rapaz teve de correr e se esconder para não ser agredido fisicamente.
Mas as confusões também ocorreram dentro da Basílica. Um dos momentos mais chocantes foi durante a missa do padre Eduardo Ribeiro, celebrada no início da tarde. Ele foi interrompido por diversas vezes.
MILHARES
A Basílica de Aparecida recebeu, entre os dias 3 e 12 deste mês, 330.738 visitantes, de acordo com o Santuário Nacional. Nesse período, o local teve uma programação especial em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, que tem o dia 12 de outubro como data para ser celebrada pelos católicos. O número é 21% maior do que o registrado no mesmo período em 2021, quando cerca de 272 mil devotos visitaram o Santuário.
Apesar do aumento na comparação com o ano passado, a quantidade de visitante foi 28,7% menor do que a contabilizada em 2019, último ano antes da pandemia da Covid-19. Naquele ano, no mesmo período, 463 mil fiéis visitaram a Basílica.
A festa deste ano foi marcada pelo fim das restrições. Com isso, o Santuário conseguiu abrigar até cerca de 35 mil pessoas por celebração. Entre os dias 3 e 11, foi realizada a Novena de Nossa Senhora Aparecida, no Altar Central da Basílica. No dia 12, houve sete missas em homenagem à Padroeira.
Nos últimos dois anos, a Igreja adotou alternativas para as celebrações por causa da pandemia. Em 2020, somente pessoas ligadas à Igreja puderam assistir presencialmente às missas, enquanto no ano passado houve limite de 2,5 mil pessoas por missa.
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