Um grande aparato policial foi montado para retirar 110 famílias da área conhecida como Andaraguá em PG / Luiz Torres/DL
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Junto com a ação legal de reintegração de posse de uma área particular de cerca de 70 mil metros quadrados, conhecida como Andaraguá, localizada no quilômetro 288 da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, realizada ontem pela Polícia Militar, envolvendo 110 famílias (aproximadamente mil pessoas), podem existir outras ações ilegais, envolvendo violência e, segundo as denúncias, realizadas por guardas municipais à paisana (sem uniforme) e armados.
As informações foram obtidas com exclusividade pelo Diário do Litoral. Um pastor evangélico, uma moradora e um líder comunitário prestaram depoimentos dramáticos à Reportagem. Os guardas estariam agindo à noite e já são conhecidos na área por quebrarem barracos e ameaçarem ocupantes com armas em punho. A situação já vem sendo analisada pela Defensoria Pública do Município, por intermédio do defensor Gustavo Goldzveig e a defensora Renata Bernardini, que encaminharam o caso ao Ministério Público. Eles estavam buscando os direitos de permanência dos moradores.
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“Estamos com relatos de violação de direitos por pessoas não identificadas com armas de fogo, que ameaçaram moradores. A Defensoria está tentando buscar evidências e identificar essas pessoas junto à Prefeitura. Foi feito um boletim de ocorrência. O Ministério Público já abriu um inquérito civil para apurar tudo. Há indícios que as ações teriam sido realizadas por agentes públicos que não estariam agindo em nome da Prefeitura, mas ainda estamos apurando”, disse ontem Gustavo Goldzveig, que acompanhou o trabalho de reintegração.
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Moradora relata ação dos agentes públicos que estariam à paisana
Belaiza Cruz Costa era uma das moradoras que teve que sair da área ontem. Em janeiro último, ela e mais três vizinhos assinaram um boletim de ocorrência (BO) no 2º Distrito de Praia Grande (46/2016). O caso virou inquérito policial. Eles apresentaram mais três testemunhas sobre a ação de três guardas e um motorista. Com os guardas, que utilizaram um veículo Blazer, cor preta, os policiais apreenderam facões, pés de cabra, marretas, alicates e outras ferramentas. Também foi registrada a tentativa de incendiar um barraco. “Os guardas chegam aqui à paisana e armados. Eu os reconheci, por intermédio de fotos na Corregedoria, no meio de mais de 200 guardas. Está tudo no BO”, afirma Belaiza.
No BO, os guardas revelaram que estavam apenas fazendo ronda, com o objetivo de evitar que novas famílias invadissem a área de uma empresa. À polícia, eles admitiram que prestam serviços de segurança particular para a empresa fora de seus horários na Guarda.
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Francisco Marcos da Conceição Pereira, um dos líderes da comunidade, confirmou a ação clandestina dos guardas. “Eles botam terror na população. Não sei se são os guardas, mas chegam à noite, com tocas tipo ninja e tentam arrancar as pessoas na marra”, afirma Pereira, ressaltando que tem pessoas que moram no local há 20 anos.
Pastor Contrin escapa da morte
A reportagem também obteve o depoimento do pastor evangélico Dorivaldo Rondon Contrin, que conseguiu escapar de dois tiros após uma investida do grupo. Ele conta que no último dia 9, por volta das três da madrugada, avistou três homens perseguindo uma moradora. Contrin alertou a população e os homens se esconderam. “Eu fui em direção ao local que eles se esconderam. Fui recebido com dois tiros. Não me acertaram, mas ficaram aguardando uma oportunidade para me pegar”, disse o pastor.
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Dorivaldo Contrin, que mora no local há cinco anos, confirmou que denunciou o episódio na Defensoria e no Ministério Público. O pastor também confirmou o uso da Blazer preta. “Um rapaz que morava aqui, o Cebola, foi ameaçado psicologicamente por eles e, num domingo, ao sair para comprar um frango, não voltou mais. Já fomos na delegacia, no Instituto Médico Legal (IML) e não o localizamos”, revela.
Reintegração começou de madrugada e durou o dia todo
Ontem a reintegração ocorreu de madrugada. Os moradores foram surpreendidos, protestaram e houve tumultos. A ação envolveu dezenas de policiais militares, cerca de 10 viaturas da polícia, uma do Corpo de Bombeiros, duas da Ecovias e uma retroescavadeira. Também equipes de ação social da Prefeitura de Praia Grande.
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A área é da empresa Icipar Empreendimentos e Participações Ltda, tem 70 metros quadrados e deve abrigar o futuro Complexo Andaraguá - aeroporto de cargas de Praia Grande.
O coronel PM João Alves Diniz Neto disse a Polícia apenas acompanhou o cumprimento de uma ordem judicial. “Alguns moradores estão encontrando dificuldades de encontrar abrigo, mas estão saindo. Houve um pouco de resistência, com bloqueio da pista, mas tudo já foi equacionado”.
O oficial de Justiça Jonailson Moura, confirmou a determinação judicial. “Após 30 dias de preparação, estamos efetuando a retirada. A empresa forneceu alimentação e transporte dos móveis dos moradores”, disse.
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O diretor da Icipar, André Ursini, também no local, disse que a empresa possui segurança na área por conta de crime de desmatamento. “No processo de licenciamento ambiental para supressão de vegetação, fizemos uma acordo que nos obriga a manter a área em ordem. Por isso, contratamos segurança”, disse, negando o uso de guardas municipais.
Prefeitura
O Diário do Litoral pediu informações à Prefeitura de Praia Grande sobre a questão envolvendo os guardas. Questionou se o prefeito Alberto Mourão sabe da situação, se Corregedoria da Guarda também tem ciência do ocorrido.
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Até o fechamento da edição, não houve retorno por parte da Administração Municipal.