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Toca de Assis

Resgate

Quando o amor é o principal motivo do serviço

Publicado em 27/03/2014 às 14:25

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Além do carisma da adoração ao Santíssimo Sacramento e da entrega diária de serviço a Deus, a Toca de Assis também trabalha com o carisma de dedicação ao próximo, principalmente àqueles que mais necessitam e que estão em situação de plena miséria (tanto física, quanto espiritual). É com esse intuito, que a Pastoral de Rua “caça” moradores de rua durante a noite. “Vamos depois das 19h30, que é o horário em quem eles já estão procurando um lugar para ficar e dormir. Conversamos com eles, damos toda a atenção e cuidado necessários e os alimentamos. Mas o que eles mais prezam são as conversas. Buscamos sempre aqueles que estão sozinhos em um canto, aqueles que estão mais necessitados de atenção. Foi assim que encontramos as senhoras que moram aqui”, explica a Irmã Bernadete.

Segundo ela, a fraternidade não é voltada para idosas, mas as mais necessitadas nas ruas sempre são mais velhas. “Por termos pouco espaço, sempre procuramos aquelas que estão mais precisadas de cuidados médicos e espirituais. E para as mais velhas, a rua é muito difícil, principalmente as que têm dificuldades de locomoção”, completa a religiosa.

Desta forma, que as irmãs encontraram senhoras como a Dona Sueli. Ela foi encontrada na Praça da Sé, em São Paulo, pela assistente social da Toca de Assis. Um fato curioso é que o lugar onde Sueli ficava, mesmo que no meio-fio, era muito limpo. Ela mantinha o seu ambiente limpo da forma que dava. “Ela está há, mais ou menos, 10 anos de Toca”, explicou a Irmã Maria Regina.

Crédito: Matheus Tagé

A condição de rua de Sueli, de 66 anos, era tão intensa que, ao ser recolhida pela Toca, ela não conseguia dormir dentro de um quarto fechado com um cama limpinha. Na hora do sono, preferia ficar do lado de fora de casa e dormir no chão, como fazia na rua. “Hoje ela está bem mais sociável. Parou de fumar por ela mesma, é independente (não precisa que uma pessoa para tomar banho, por exemplo) e se socializou muito bem. Ela tem uma preocupação de mãe com todos, é outra pessoa”, explica a religiosa.

Encontrar a Toca de Assis também mudou a vida de Dona Cida, que hoje é feliz dentro da entidade e produz bonecas de fuxico para esquecer as dificuldades que vida já lhe trouxe. “E também para ganhar um dinheirinho, né?”, brinca a interna.

Dona Cida, de sorriso fácil, muda a expressão quando começa a contar a sua história de vida. “Não conheci meu pai. Minha mãe morreu muito cedo e, para eu não passar dificuldades, me colocou em colégio interno, na Casa da Criança de Santos. Eu tinha nove anos. Foi lá que aprendi a ler, que aprendi tudo. Tenho outras duas irmãs, uma eu perdi há pouco tempo. Aos 15 anos, precisei sair do colégio por conta da idade e o juiz determinou que fossemos encaminhadas para uma casa de família. Foi então que comecei a trabalhar e ter o meu dinheiro. Com 18 anos, já trabalhava como empregada doméstica e, então, resolvi morar sozinha porque gostava das minhas farras e queria privacidade. Vivia como queria, mas nunca tive problema com a polícia. Depois, conheci um ‘doidão’ como eu e tive um filho, mas esse menino nasceu com problemas mentais por causa do meu envolvimento com álcool”, conta a idosa.

O filho de Cida tem retardo mental. É um homem, mas pensa como uma criança de sete anos. As perceber os problemas do menino e já em dificuldade, Cida deixou a criança na associação situada onde hoje funciona a Toca de Assis. Só depois que ele foi transferido para Avaré. “Eu não tinha condições de cuidar nem de mim. Estava em abandono extremo, era eu e uns lixos. Passou um cidadão, que chamou as irmãs da Toca e elas me recolheram. Eu estava uma calamidade, achava que os pombos iam me comer. Hoje eu estou feliz aqui, gosto das atividades e amo os meus fuxicos. Também, não tenho mais condições de ir para outro lugar”, explica.

A reportagem teve dificuldade de falar com as internas. A única que falou conosco lucidamente foi Dona Cida. “Todas têm dificuldade para contar história e até falar da própria vida devido à esquizofrenias e problemas mentais”, explica irmã Maria Regina.

Este é o caso de Dona Neuza. Ela morou muitos anos na rua, nas proximidades do Viaduto do Chá, em São Paulo. Quando a Toca a encontrou ela estava muito debilitada e debaixo de chuva. Ela ainda está em fase de adaptação. Tem manias da rua, por exemplo, não gosta de comer comida, apenas lanches, e tudo dela é não. Para tudo a resposta dela é não como se fosse um bicho do mato.

A Pastoral de Rua acontece toda as sextas-feiras, por volta das 19h30. “A gente conversa, escuta as histórias e tenta ajudar do jeito que dá. A comida é só um pretexto para chegarmos perto e escutar o que eles querem desabafar, eles se sentam muito sozinhos. Deixar de dar o alimento para eles não vai tirá-los da rua, não vai resolver o problema”, explica a irmã Bernadete.

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