SV: Moradores abandonados à própria sorte

Sem previsão de conclusão, obras do canal da Avenida Alcides de Araújo, no Catiapoã, se arrastam há mais de quatro anos; cenário é de revolta e lamentação

31 JAN 2015 • POR • 04h20

A vida de quem mora às margens do canal da Avenida Alcides de Araújo, no Catiapoã, em São Vicente, não é fácil. Basta um pequeno sinal de chuva para que a apreensão tome conta dos moradores, já acostumados a terem suas casas invadidas pelas enchentes. Uma obra, iniciada há mais de quatro anos, prometia amenizar a situação que se arrasta há décadas, no entanto, trouxe mais complicações. A grama virou matagal e os bueiros foram assoreados. O canteiro de obras foi tranformado em depósito de entulho e abriga uma pequena lagoa. O leito da via está praticamente intransitável.

“Quando iniciaram as obras foi formada uma comissão com 10 moradores para avaliar e acompanhar os serviços. Foi tudo registrado em cartório. Mas para que? A Termaq abandonou e depois veio a Vila Nova e abandonou também. Isso não vai acabar nunca. Na última enchente a água em relação ao nível do canal atingiu 90 centímetros. Em 1994, antes das obras, o nível atingia 45 centímetros”, desabafa o aposentado José Carlos dos Santos.

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O morador conta que, ao longo dos anos, por diversas vezes precisou aumentar o nível da calçada. Quando alaga quem está na rua não entra e quem está em casa não sai. “Até sai, mas se for pelado e levar a roupa numa sacola. Está cada vez pior. A chuva para, mas demora pelo menos um dia para a água baixar”, conta o aposentado. A Avenida Alcides de Araújo é uma das principais vias de acesso ao Centro da Cidade.

José Carlos, que mora no Catiapoã há 50 anos, relatou que o assoreamento de bueiros fez com que a situação ficasse pior. “A água não tem vazão. Fomos obrigados a quebrar uma parte da guia para que a água fluísse. Os bueiros foram obstruídos ao longo do tempo pela terra que sai dos buracos da rua e pela lama que sobra das enchentes. Cansei de pedir que viessem resolver e nada”.

O aposentado disse que a galeria de esgoto, que passa paralela ao canal, também está com problemas. “É um odor muito forte que exala. Existem duas bombas subterrâneas que puxam essa água. Quando uma delas não funciona sobe tudo. Não precisa nem estar chovendo e o canal estar cheio. O alagamento é de esgoto mesmo”.

José Carlos afirmou que procurou a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semurb) a fim de solucionar o problema. O morador também possui dois protocolos de reclamação na Sabesp. “O responsável da regional veio aqui e a galeria do meio da rua que estava quebrada foi arrumada. O engenheiro da Sabesp também esteve aqui agora há pouco e disse que na segunda-feira vai mandar uma equipe para ver o problema”, disse.

Abandono

Mas não é só a falta de conclusão da obra do canal e o vazamento de esgoto que incomoda os moradores. O cenário do local é de completo abandono. A grama que foi colocada nas margens do canal virou mato. Nem mesmo a calçada de uma escola municipal de ensino infantil foi poupada da vegetação em abundância. Os paralelepípedos da via, que apresenta imensas crateras, foram deslocados. O canteiro de obras, utilizado pelas empresas durante a execução dos serviços, se transformou em local de descarte de lixo e entulho. Restaram apenas algumas aduelas e uma dúzia de tubos de concreto. O resto, segundo os moradores, foi tudo saqueado.

“É rato, é mosquito é tudo. Já faz tempo que não vejo manutenção aqui. A última vez que jogaram isca para rato no canal foi há uns cinco anos. Segunda-feira começam as aulas. Olha lá o estado da calçada da escola”, destacou José Carlos. A unidade de ensino referida é a EMEI Cidade de Naha.

No último dia 5, o Diário do Litoral publicou matéria relatando a situação. Na oportunidade, o prefeito Luis Cláudio Bili (PP) afirmou que a limpeza da área seria realizada nos próximos dias — o que não ocorreu. “Vamos limpar nos próximos dias. A avenida também será pavimentada ainda no primeiro semestre”, disse ele não ocasião.

“Não queremos acabar com o prefeito. Entendemos que ele já pegou a obra nessa situação, mas queremos um pouco mais de atenção até porque pagamos nossos impostos. Se não vai terminar a obra tudo bem, mas que não deixem a gente nessa situação que vocês estão vendo”, desabafa José Carlos. “Até lembro a data que começou essa obra, dia 27 de agosto de 2010 com prazo para terminar em 27 de agosto de 2012 e depois 2014, e agora nem sei mais”, completa.

Ontem, novamente, após as chuvas, a Avenida Alcides de Araújo ficou alagada.


Bacias do Catiapoã

A obra de drenagem das bacias do Catiapoã compreende dois canais, o da Avenia Alcides de Araújo, no Catiapoã, e da Rua Louviral Moreira do Amaral, no Sá Catarina de Moraes.

Os serviços tiveram início em agosto de 2010, com previsão de conclusão de dois anos. No entanto, o rompimento do contrato com a empresa vencedora da concorrência impediu a continuidade dos trabalhos. Uma nova empresa assumiu a obra, que teve a conclusão estendida para 2014, mas também desistiu.

O valor do convênio com o Ministério das Cidades é de R$ 10.268.992,80. De 2010 até dezembro do ano passado, a obra consumiu R$ 6.090.079,75, mas está longe de ser concluída. O último repasse foi feito em 19 de dezembro do ano passado, no valor de R$ 27.407,42.

Questionada pelo Diário do Litoral sobre a situação do canal da Avenida Alcides de Araújo, a Prefeitura de São Vicente informou por meio da Secretaria de Obras e Meio Ambiente (SEOBAM), que a vencedora da licitação decidiu não renovar o contrato para a conclusão da obra.

A secretaria ressaltou ainda que o projeto foi atualizado e aprimorado e que o mesmo está dentro do cronograma, porém não informou o prazo de execução.

O órgão destacou, sem informar os valores, que foi realizada atualização da planilha de custos e que aguarda autorização da Caixa Econômica Federal para a licitação necessária para a contratação da nova empresa.

A Prefeitura não se manifestou em relação à limpeza da área e não confirmou a pavimentação da via.