Interesse cai e só a seleção brasileira pode ‘virar o jogo

Escândalos financeiros e protestos esfriam interesse do brasileiro na Copa do Mundo. Para especialistas, só a seleção pode mudar esse cenário

25 MAI 2014 • POR • 00h52

Em 2007, a maioria dos brasileiros festejou a vitória do país na conquista pelo direito de sediar a maior competição de futebol do mundo. Pentacampeão mundial, o Brasil receberia os amantes do esporte mais popular do planeta e ainda teria a chance de exorcizar o vice de 1950, única vez em que o Brasil sediou a Copa do Mundo.

Porém, o tempo foi passando e o clima foi mudando. Os escândalos foram se tornando constantes, investimentos superfaturados, obras atrasadas e muito dinheiro público sendo liberado pelo Governo, inclusive para construções privadas, revoltaram boa parte da população brasileira, que é obrigada a conviver com a falta de hospitais, escolas e moradias.

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“É importante destacar que a vida do povo brasileiro está cada vez mais difícil. Com a volta da inflação real, bem maior do que a anunciada pelo Governo, com o aumento da sensação de insegurança e os escândalos de corrupção se sucedendo a todo instante é natural que o ânimo do brasileiro tenha esfriado”, explica o cronista José Calil.

O fato da Copa do Mundo acontecer no Brasil tem se mostrado o fator principal para o dito “desânimo” da população. A grosso modo, o brasileiro se acostumou a enxergar o Mundial simplesmente pelo lado futebolístico, alegre, uma paixão nacional. Agora, analisando de perto e acompanhando tudo que envolve a organização do evento, a concepção das pessoas parece ter mudado.

“Talvez seja porque esse ano estamos vendo a Copa por dentro e como ela é. Nos outros Mundiais a nossa seleção vai jogar, leva a esperança de um povo apaixonado pelo futebol e ninguém tem a exata noção de como tudo aconteceu. Agora não. Estamos todos insatisfeitos com os rumos da nossa Copa”, analisa o jornalista Eduardo Barazal, antes de completar. “Estádios super, mas superfaturados. Obras em aeroportos que estão atrasadas, obras de estrutura ao longo dos estádios que serão concluídas de qualquer jeito e manifestações. Tudo isso tira um pouco o brilho de nossa Copa e o povo parece torcer, mas com um pouco de vergonha. Acho que o brasileiro está com um pé na frente e outro atrás, por isso ainda não deslanchou”, concluiu.

O clima ‘frio’ pode ser percebido nas ruas. Há pouco menos de três semanas do início da Copa (a abertura acontece dia 12 de junho), ruas pintadas e bandeiras nas janelas, tão tradicionais nessa situação, são vistas em ocasiões esporádicas.

“Não é de hoje que o patriotismo vem perdendo espaço. Muito por conta dos nossos políticos. Gente que rouba e não cumpre pena, violência no futebol e etc. Acho que o brasileiro vai deixar para comemorar na hora. Enfim, o nosso Mundial somente vai começar para o brasileiro quando a bola rolar”, opinou Barazal. “De algum tempo para cá o povo perdeu um pouco do encanto com a Seleção Brasileira. Provavelmente por ela ser formada apenas por jogadores que atuam fora. De qualquer forma acredito ainda que mais ruas estarão pintadas à medida que o início da Copa se aproximar”, concordou Calil.

No comércio, a situação não é diferente. Adereços que fazem alusão à Copa do Mundo e à seleção brasileira já não fazem o mesmo sucesso de outros tempos, como confirma Clemente Junior, responsável pelo setor de vendas de uma loja que investiu em produtos para a Copa, em Santos.

“Não está a mesma coisa. Não está por causa das manifestações. Antes todo mundo pintava (as ruas) e hoje a gente não vê a mesma coisa. Está cada vez mais (piorando)”, comentou Junior, mostrando-se realista com o momento. “Quero que eles joguem bem e ganhem porque a gente vende mais, mas é complicado. A esperança não é essa, não”, resumiu.

Para os especialistas, a esperança é a seleção brasileira de Luis Felipe Scolari despertar a paixão do povo com bons resultados em campo. Mesmo com o clima tenso dos protestos que se acumulam às vésperas da Copa do Mundo, o amor pelo futebol e a vontade de conquistar o Hexa em casa pode ser revitalizada a tempo, como se viu durante a Copa das Confederações, ano passado, quando o povo se manifestava do lado de fora dos estádios, mas cantava o hino brasileiro com orgulho do lado de dentro.

“Quando a bola rolar tudo será esquecido”, finalizou Barazal. “Na verdade ainda está um pouco longe o início da Copa para esse interesse todo. Creio que, ao se aproximar o dia da abertura e com o passar dos jogos, o apelo popular pelo Mundial vai crescer. Com o passar dos jogos e se a Seleção caminhar bem, o entusiasmo e a empolgação voltarão”, completou Calil.