“Lava-Pés é um gesto profundo de humildade”

A origem do costume se refere à hospitalidade nas civilizações antigas

18 ABR 2014 • POR • 11h00

Antes de sentar à mesa para realizar a Última Ceia com seus apóstolos, Jesus sabia que após a cerimônia e, antes do fim da Páscoa, era chegada sua hora de passar desse mundo ao Pai. Assim, ele resolveu conceder um último gesto de exemplo e amor para os seus discípulos e demais seguidores. Conta João, em seu Evangelho (13,1- 15), que Cristo disse ao lavar os pés do primeiro discípulo, Simão Pedro: “Ora vós estais limpos, mas não todos”. A esta frase, Jesus se referia à traição de Judas Iscariotes que aconteceu na mesma noite.

O gesto de lavar os pés remete a uma tradição na antiguidade, na qual o anfitrião em gesto de hospitalidade concedia ao convidado um servo, mulher ou criança, de acordo com a importância do mesmo, e uma bacia com água para que lavasse os pés. A cerimônia era seguida por todos os membros que residiam nas casas dos anfitriões e tinha ares de uma festa. Em muitas passagens do Antigo Testamento é possível encontrar versículos que relatam tal costume, como em Gênesis 18:4 e Samuel 25:41.

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Ao lavar os pés dos seus discípulos, Jesus tinha como objetivo deixar mais um exemplo de amor ao próximo e de humildade. No Evangelho de João, é possível encontrar a passagem que Jesus responde a Pedro o porquê do ato de lavar os pés dos apóstolos, sendo que ele, o Cristo, era o senhor e mestre de todos. Disse Jesus: “Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros; porque vos dei exemplo, a fim de que, como eu fiz, assim façais vós também”.

Por isso, ontem à noite, toda a comunidade Católica celebrou a Última Ceia de Cristo antes do calvário da crucificação, morte, e ressureição ao terceiro dia. “Ele que é senhor deu como exemplo uma atitude de escravo, de servo. Ou seja, ele então se esvaziou de si mesmo, na condição de senhor para servir a humanidade, e para dar um exemplo à Igreja de que ela é servidora”, afirmou frei Claudemir Vialli. Para ele, o gesto do lava-pés recupera uma liturgia muito antiga, e Jesus se coloca nessa condição, “se junta aos seus discípulos, mas porque ele quer dá um exemplo profundo de serviço. Por isso, ele repete no Evangelho: ‘Como eu fiz também façais uns aos outros’”. 

Frei Vialli interpreta o gesto de Jesus Cristo na atualidade afirmando que é importante que percebamos o valor das coisas gratuitas, e a satisfação de servir, cuidar e amar uns aos outros. Ele explica que a Semana Santa não celebra a morte, mas sim, a vida, a ressureição e o amor de Cristo e seu exemplo de humildade perante os seus discípulos, no lava-pés, e para a humanidade, em geral, para nos deixar um recado. “Em uma sociedade que cada vez mais está voltada para a ditadura do mercado financeiro, é importante que percebamos que aquilo que é gratuito, tem muito mais valor”, disse.

A mensagem de Cristo aos apóstolos no lava-pés realizado na Última Ceia, foi a de que nem todos “estavam limpos”, se referindo à traição que Judas ia cometer na mesma noite. “Cristo lavou os pés dos apóstolos para que os discípulos também se façam servos. Ou seja, que nós nos amemos uns aos outros e que nós cuidemos uns dos outros”, finalizou frei Vialli.