Rio estuda proibir polícia de socorrer vítimas

Especialistas dizem que a prática, em muitos casos, é uma maneira de policiais desfazerem cenas de crimes e mascararem execuções

21 MAR 2014 • POR • 13h39

Após o caso da servente Claudia Silva Ferreira, arrastada por uma viatura da Polícia Militar depois de ter sido baleada numa operação policial, no domingo, 16, a Secretaria de Segurança do Rio admite que está analisando a possibilidade de proibir que policiais socorram vítimas de crimes violentos ou suspeitos baleados em confronto com os agentes.

Especialistas dizem que a prática, em muitos casos, é uma maneira de policiais desfazerem cenas de crimes e mascararem execuções. Conforme o jornal O Estado de S.Paulo noticiou na quinta-feira, 20, em 72% dos 62 autos de resistência em que os PMs que arrastaram Claudia já se envolveram, o suspeito baleado foi retirado do local pelos próprios policiais para ser levado ao hospital, mas não resistiu.

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A medida entrou em vigor em janeiro de 2013 em São Paulo. Com isso, o número de mortes em decorrência de intervenção policial (os "autos de resistência") caiu de 546 em 2012 para 334 no ano passado, uma redução de 39%.

"Até esse lamentável episódio (da mulher arrastada), realmente não havia nenhum pensamento nesse sentido. Até porque a gente já vinha desenvolvendo uma série de estratégias para diminuir o auto de resistência. No ano passado, (o número de autos de resistência) foi o melhor da série histórica do Rio. Ainda com números altos, mas numa linha descendente forte", afirmou Roberto Sá, subsecretário de Segurança do Rio, após participar de um seminário sobre segurança cidadã nesta quinta-feira.

Na opinião de Sá, a proibição de socorro pela polícia é um tema polêmico, já que pode haver casos que a demora possa causar mortes. "É preciso saber se as outras estruturas (Samu, bombeiros, prefeituras) teriam suporte para poder atender essa demanda. Se a estrutura de atendimento das cidades teriam condições de prestar esse socorro (e temos muitas áreas em regiões metropolitanas com prefeituras pobres). O contexto é multidisciplinar e não depende só da polícia. Se a polícia não atende, quem vai atender? Será que a pessoa vai, na frente de todo mundo, sangrar até a morte? Ou será que o socorro (pela polícia) é que vai agravar?", disse o subsecretário.

Também presente ao seminário, o secretário de Segurança de São Paulo, Fernando Grella Vieira, explicou que os policiais não foram completamente proibidos de socorrer vítimas. "Nós preconizamos que o policial acione o socorro, como ocorre nos acidentes de trânsito. Se ele chegou ao local do crime e tem uma pessoa baleada, ele avisa ao Centro de Operações da PM, o Copom. O Copom entra em contato com o Samu ou o Resgate, e diz ao policial que a ambulância deve estar lá em 'X' minutos. Se o Copom achar que vai demorar muito, o próprio Copom autoriza o policial a fazer o socorro e levar (a vítima) para a unidade hospitalar mais próxima. Mas quem controla isso é o oficial do Copom. E isso fica registrado no atendimento", declarou Grella.