Prejuízo de aéreas brasileiras atinge R$ 3,5 bi em 2012

Os dados são auditados e foram informados pelas empresas à Agência Nacional de Aviação Civil e divulgados na quarta-feira, 6, no Anuário do Transporte Aéreo

7 NOV 2013 • POR • 11h26

A crise na aviação civil fez as companhias aéreas brasileiras amargarem R$ 5 bilhões de prejuízos nos últimos dois anos. As perdas se intensificaram em 2012 e somaram R$ 3,5 bilhões, mais do que o dobro do ano anterior. Os dados são auditados e foram informados pelas empresas à Agência Nacional de Aviação Civil e divulgados na quarta-feira, 6, no Anuário do Transporte Aéreo.

As líderes de mercado TAM e Gol responderam por mais de 80% das perdas em 2012 -R$ 2,93 bilhões, já considerando o resultado da Webjet, que foi incorporada à Gol no ano passado. Do total de dez empresas listadas, apenas a Absa, cargueira controlada pela LAN e hoje incorporada à TAM Cargo, teve lucro no ano passado.

Leia Também

Macacos utilizam cérebro para mover braços virtuais

Polícia busca menino desaparecido no interior de São Paulo

Grella diz que ainda não viu relatório da PF sobre atos

Brasil registra 268,2 milhões de celulares em setembro

Receita abre consulta do sexto lote de restituição

O anuário da aviação civil, no entanto, mostra um cenário adverso também para as empresas menores. As perdas somadas de Azul e Trip, que estão em processo de fusão, atingiram R$ 380 milhões em 2012, mais do que o dobro do registrado no ano anterior.

"As empresas correram para comprar aviões e aumentar seu market share (participação de mercado) nos últimos anos. Fizeram guerra de tarifas e o preço da passagem caiu além do limite", explica Jorge Leal, professor da USP e especialista em aviação. "A conta chegou."

Os números comprovam a tese. A frota das companhias aéreas saltou de 416 aeronaves, em 2009, para 518, em 2012 - a maioria jatos de Boeing e Airbus. Para encher aviões novos e maiores, as empresas reduziram o preço das passagens no período, mesmo em cenário de alta do custo do combustível.

O valor médio de um bilhete aéreo caiu de R$ 383 para R$ 294 entre 2009 e 2012, segundo a Anac. No mesmo período, o preço do barril de petróleo, um dos principais fatores de precificação do querosene de aviação, subiu de US$ 75 para US$ 100. Essa conta ficou ainda mais cara com a valorização do dólar frente ao real, que saltou da faixa de R$ 1,75, em 2009, para R$ 2, no ano passado.

"A deterioração do resultado das empresas é reflexo do aumento do combustível", disse o consultor técnico da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Adalberto Febeliano. Os dados da Anac apontam que o peso do combustível nos custos das empresas aéreas brasileiras saltou de 29,8% para 38,5% entre 2009 e 2012.

Ajustes

Depois de amargar prejuízos bilionários, a indústria de aviação civil brasileira iniciou um ajuste de oferta e preço, em uma tentativa de recuperar a rentabilidade. Os preços das passagens aéreas voltaram a subir no segundo semestre do ano passado, após sete semestres consecutivos de queda, segundo dados da Anac. Entre janeiro e junho deste ano, o preço médio das passagens aéreas nos voos nacionais foi de R$ 302,98, uma alta de 4,15% em relação aos valores praticados no mesmo período de 2012.

Sem conseguir encher os aviões com o preços maiores, as empresas cortaram voos menos rentáveis. O volume de passagens à venda em dezembro de 2012 era 7,4% abaixo do registrado um ano antes. E, em setembro deste ano, o último dado disponível, a oferta se retraiu mais 2,94% em relação ao mesmo mês de 2012.

O corte de voos refletiu também nos empregos. Depois de um ciclo de contratações expressivas, que elevaram em 25% o número de trabalhadores do setor entre 2009 e 2011, o setor aéreo cortou vagas em 2012. O ano passado encerrou com 61.120 pessoas empregadas em companhias aéreas brasileiras, cerca de 600 a menos do que em 2011. Esse número reflete o fim da Webjet e as demissões em massa na Gol, mas ainda não mostra o corte de vagas feito neste ano pela TAM.

Para o consultor da Abear, o emprego na aviação passa por uma estabilidade. "O corte foi irrisório perto do tamanho do prejuízo das empresas. É um setor altamente empregador", disse Febeliano.

A expectativa dele é de que o ajuste de oferta e preço traga resultados melhores para o setor em 2013. "Espero prejuízos menores do que em 2012, mas não um retorno à lucratividade", disse. Segundo ele, a desaceleração da demanda e o aumento do dólar mantêm um cenário adverso para a aviação neste ano.