Espionagem ameaça prejudicar política externa dos EUA

O presidente Barack Obama tem defendido as ações de vigilância contra líderes da Rússia, México, Brasil, França e Alemanha

27 OUT 2013 • POR • 10h59

O secretário de Estado norte-americano John Kerry chega a Roma e Paris para discutir questões relacionadas ao Oriente Médio, mas a indignação com as atividades de espionagem dos Estados Unidos no exterior altera a pauta das conversas do chefe da diplomacia. O presidente Barack Obama tem defendido as ações de vigilância contra líderes da Rússia, México, Brasil, França e Alemanha.

Documentos secretos divulgados pelo ex-funcionário terceirizado da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden sobre as táticas da organização - que supostamente incluíam a escuta de telefones celulares de 35 líderes mundiais - ameaçam prejudicar a política externa norte-americana em várias áreas.

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No sábado, em Washington, manifestantes ergueram cartazes nos quais se lia "Obrigada, Edward Snowden!" durante passeata nas proximidades do Capitólio. O objetivo da manifestação foi exigir que o Congresso investigue os programas de vigilância da NSA.

"A magnitude das escutas telefônicas foi o que nos chocou", disse o ex-ministro de Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, em entrevista a uma rádio. "Sejamos honestos, também fazemos escutas. Todos estão escutando os demais. Mas não temos os mesmos meios dos Estados Unidos, o que nos deixa com inveja."

As relações diplomáticas são construídas com base na confiança. Se a credibilidade dos norte-americana está em questão, os Estados Unidos poderão ter dificuldades para manter alianças, influenciar a opinião mundial e selar tratados comerciais.

As informações sobre as ações da NSA podem conferir poder aos europeus nas negociações com os Estados Unidos sobre um acordo de livre-comércio, que deve reunir metade da economia mundial. "Se formos para as negociações e sentirmos que as pessoas com as quais estamos negociando sabem tudo o que queremos negociar antecipadamente, como podemos confiar uns nos outros?", questionou Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu.

Para Henry Farrell e Martha Finnemore, da George Washington University, os danos causados pela divulgação das atividades da NSA podem "prejudicar a capacidade de Washington de agir de forma hipócrita sem sofrer as consequências disso".

Em artigo para a revista Foreign Affairs, a dupla disse que as revelações forçaram Washington a abandonar sua "campanha de acusação contra as atividades de invasão de computadores da China"

A resposta de Washington à indignação em relação à espionagem tem sido a de que o país reúne o mesmo tipo de informações de inteligência externa que é recolhido por todos os países e que é necessário proteger os Estados Unidos e seus aliados de ameaças de segurança.