Professora dona Terezinha fala da primeira escola de datilografia em Itanhaém

Aos 93 anos,ela conta sobre a abertura da escola de datilografia, que funcionou entre as décadas de 1960 a 1990, na Cidade

23 OUT 2023 • POR Nayara Martins • 08h30
Dona Terezinha ainda mostrauma antiga máquina de escrever, em sua casa, em Itanhaém - Nayara Martins/DL

Um exemplo de boa memória e de batalha para ganhar o sustento da família. Essa é a história de uma das pioneiras a fundar uma escola de datilografia em Itanhaém,a professora aposentadadona Tereza Simplício Souza, de 93 anos.

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Ela conta a sua trajetória, como chegou na Cidade e abriu a primeira escola de datilografia, que funcionou entre os anos de 1960 e 1990.

“É uma história muito grande. Cheguei em Itanhaém no final do ano de 1959 e não tenho vergonha de dizer que sou paraibana,vim de João Pessoa, a capital daParaíba. Decidi visitar meu irmão que era administrador da colônia de férias da CMTECE e conhecer a Cidade”, explica.

Dona Terezinha foi professora concursadanas redes municipal, estadual e no Mobral, em João Pessoa, na época.

Porém, ao chegar em Itanhaém, ela foi procurar uma escola para dar aulas,mas não conseguiu. 
“Como já tinha o diploma de datilografia, decidi dar aulas e abrir uma escola de datilografia, que funcionou regularizada, entre os anos de 1960 a 1990”.

Ela conta que se casou em Itanhaém, mas acabou se separando do marido. Teve cinco filhos, duas meninas que faleceram antes de completar um ano, além de três meninos que criou sozinha e, hoje, já estão formados.

Para ela, a datilografia é a mãe do computador, que começou no início dos anos 90. Na escola chegou a ter 15 máquinas de datilografia, entre manuais e elétricas, que funcionava na sua própria casa, onde ela mora até hoje. A casa onde mora ela comprou com a renda da escola. 

“Os alunos mais inteligentes se formavam em seis meses, mas os mais fracos levavam até um ano. Todos os alunos recebiam certificados de conclusão do curso. A escola tinha uma diretora e eu como professora. Funcionava das 8h às 18 horas, de segunda a sexta-feira”.

Além das aulas de datilografia, a professora também dava aulas de reforço aos alunos de escolas públicas e preparatórias para concurso público, à noite. “Para alguns alunos tive que ensinar o português, pois eles não sabiam redigir uma carta”, lembra. 

“Ainda guardo uma máquina de escrever, de lembrança, a última linha da marca Olivetti. Tinha máquinas mais antigas e novas e, ainda,fazíamos a manutenção e a limpeza delas com a ajuda de meus filhos”. Elamostra um antigo cartaz, com as letras do alfabeto e a posição das mãos na máquina.

Ex-alunos  

Dona Terezinha perdeu as contas do número de alunos que passaram por sua escola de datilografia, ao longo de 30 anos. 

“Hoje ainda encontro com meusex-alunos, como advogados que atuam no Fórum e em outros locais”. Ela recebeu uma mensagem de uma ex-aluna advogada que aparabenizou pelo dia do professor, dia 15 deste mês.

E conta várias histórias engraçadas dos seus ex-alunos. “Uma das alunas dizia para a mãe que vinha para a datilografia, mas ela ia à praia com o namorado. Como fazia a chamada dos alunos, percebi a falta dela por vários dias e contei pra sua mãe. Ela voltou ao curso, mas com cara feia”, lembra.

No dia 10 setembro, dia de seu aniversário, uma ex-aluna passou em frente à sua casa e a chamou “dona Tereza a senhora ainda mora aqui?Ela entrou e me abraçou, chorando de emoção”.  

Diz que a datilografia foi importante e necessária para o trabalho, mas que, agora, é a computação.“Acho que a tecnologia está avançando muito. Hoje só se fala em computador e em celular, não condeno, pois a evolução é necessária. Mas as pessoasdevem ter cuidado em não usar de forma exagerada”, frisa.    

Boa memória

A professoraconta, ainda, o segredo emter uma boa memória. “Fui bem criada pelos meus pais e isso conta muito, pois quandoa criança passa fome, a inteligência já não é a mesma. Minha mente ainda está em dia”, salienta.
Eladá um conselho. “Quem quiser progredir na vida tem que trabalhar com o que gosta, se for só pelo dinheiro não dá certo”, conclui.