Enfrentando gordofobia desde a infância, diretora santista vai lançar documentário

'Gordos Não Vão para o Céu - Qual o Poder de Escolha de uma Pessoa Gorda?' está em fase de finalização por um grupo de alunos do curso de Produção Multimídia da Unisanta

30 AGO 2021 • POR • 07h32
O documentário conta a história de três mulheres gordas e o esforço que fazem para serem aceitas - Divulgação

Uma jovem foi barrada na entrada de uma festa em uma casa noturna de Miami na segunda semana de agosto. O motivo? Seu peso. Fallon Melillo, de 27 anos, protestou nas redes sociais, suas postagens viralizaram e acabaram por reaquecer o debate sobre corpos fora de padrão. Gordos enfrentam problemas nas festas, no mercado de trabalho, no transporte público, nos consultórios médicos, nos relacionamentos sociais. A boa notícia é que em todo o mundo o movimento contra a gordofobia avança, cobrando a integração ampla, geral e irrestrita dos corpos gordos em todas as camadas da vida social. A discussão lança luz sobre o documentário “Gordos Não Vão para o Céu - Qual o Poder de Escolha de uma Pessoa Gorda?”, em fase de finalização por um grupo de alunos do curso de Produção Multimídia da Unisanta.

Era para ser apenas um trabalho de conclusão do curso, mas já na fase final da montagem, seus roteiristas e diretores sonham com premiação em festivais pela qualidade que vêm conseguindo imprimir à narrativa e a expansão do projeto com a série documental.  

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O documentário conta a história de três mulheres gordas e o esforço que fazem para serem aceitas em uma sociedade regida por padrões rígidos de aparência. Suas vivências e sobrevivências dentro da construção social, do padrão normativo de um ideal de beleza inatingível, perfeição compulsória, que sufoca, delimita e oprime. Reportagens, estatísticas e pesquisas compõem a narrativa. A origem advinda do machismo, dogmas e política. Intercalado com comentários de nomes das artes e profissionais da saúde.

“Gordos não vão para o céu – Qual o poder de escolha de uma pessoa gorda?” sugere uma nova perspectiva da pressão estética sobre os corpos acima do chamado “peso ideal”.

A autora do roteiro e diretora do documentário, a aluna Mariana Mussi dos Santos Infanti, de 37 anos, que lida com a gordofobia desde a infância, também dá o seu testemunho e conduz a linha narrativa. Mussi tem trabalhos indicados e exibidos em festivais como Curta Santos, Santos Film Fest, Mostra Fiocruz, Festival do Minuto e já dirigiu e produziu diversas ficções em linguagem audiovisual.

Para ela, “é de extrema e urgente importância um registro que aborda com totalidade as origens da gordofobia, consequências no dia a dia das pessoas acometidas e o impacto social dos movimentos. Além do caráter de datar e propor a discussão, reflexão sobre o tema, servirá para amplificar projetos de acessibilidade e principalmente a criação de leis de proteção, antidiscriminatórias, que não existem no Brasil.”

“Uma vida tardia. O “Gordo feliz”. “Coisa de gordo”. “Gordice”. Na Idade Média, a igreja passou a considerar a gula como um dos sete pecados capitais. Segundo estudos da Universidade de Marburgo e Leipzig, gordos são mais estigmatizados, casam-se menos, têm menos oportunidades educacionais e carreira, com renda menor que as ditas pessoas “padrão”. A discriminação ocasiona implicações na saúde fisiológica e psicológica.

Uma pesquisa recente de uma marca de cervejas apontou que 92% da população brasileira é gordofóbica e somente 10% assumem seu preconceito.

Entre os recortes abordados, segundo Mariana, estão “a sobrevivência dentro de um mundo que não é feito para você existir; a invisibilidade ou centro das atenções; da desumanização até a ausência de direitos básicos, como tratamento hospitalar (gordofobia médica); representatividade em histórias/novelas/filmes/jogos, dentro das próprias minorias; o dia a dia de pessoas obesas, não muito obstantes vistas como inválidas e entretenimento “humorístico”; estigmas de desvio mental e comportamental; objetificação e hipersexualização”.
 
“Apresentar também a esperança e avanços reais, com a militância, movimentos como o body positive, influencers em redes sociais e novos estudos científicos. Desmistificar e elucidar que uma pessoa gorda pode sim ser saudável, se relacionar, ser apta para o mercado de trabalho e ter uma vida normal, ativa, como a de qualquer outra”, finaliza a diretora.

Ficha técnica

Roteiro e Direção: Mariana Mussi
Co Direção:  Caio Malta
Cinegrafista: Caio Malta e Mariana Mussi
Diretor de fotografia e fotógrafo: Antonio Ferreira e Mariana Mussi
Design Gráfico: Matheus Viana e Rodrigo do Carmo
Produção: Jessica Godoi, Matheus Viana, Oscar Fornari e Silvia Diaz
Trilha Sonora: Oscar Fornari
Narrações: Iasmin Alvarez
Edição: Diego Gomez e Mariana Mussi