Frei Maurício José Manoel é prior provincial da Província Agostiniana do Brasil / Divulgação/Arquivo Pessoal
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A eleição do novo Papa Leão XIV trouxe uma onda de emoção e surpresa à Ordem de Santo Agostinho. Pela primeira vez em mais de 120 anos, um cardeal agostiniano participou de um conclave — e foi justamente ele quem saiu eleito. Trata-se de Frei Robert, agora Papa Leão XIV, que possui uma longa trajetória dentro da ordem religiosa fundada no carisma de Santo Agostinho.
Para entender a relevância desse momento histórico, conversamos com Frei Maurício José Manoel, prior provincial da Província Agostiniana do Brasil, em São Paulo. A seguir, ele comenta sobre a relação do novo Papa com os agostinianos, as expectativas para seu pontificado e a forte ligação com o Brasil.
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Diário do Litoral - Qual foi a reação da Ordem dos Agostinianos ao anúncio da eleição do Papa Leão XIV?
Frei Maurício José Manoel - Ficamos muito felizes com a eleição, apesar da surpresa. O então cardeal Robert foi nosso superior geral por 12 anos, cuidando da ordem no mundo inteiro, com zelo e atenção ao nosso carisma: o anúncio do evangelho à luz de Santo Agostinho.
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Ele também foi bispo em Shinyanga, viveu em comunidades agostinianas e tem um ardor missionário que conhecemos bem. O fato de termos novamente um agostiniano num conclave — algo que não acontecia há 120 anos — foi surpreendente. Mas sua eleição nos enche de alegria e esperança.
DL - O novo Papa tem ligação direta com os agostinianos? Isso pode influenciar seu pontificado?
Frei - Sim, total. Quando assumiu, ele disse: “Sou filho de Santo Agostinho”. E isso é muito mais do que uma admiração — ele professou votos perpétuos, ele é agostiniano.
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Não se trata de ser adepto; ele pertence à ordem, viveu nossos princípios. Isso certamente influenciará seu pontificado com os pilares do nosso carisma: vida comunitária, amor e serviço à Igreja, e interioridade, ou seja, a busca de Deus dentro de si.
DL - Quais qualidades espirituais e pastorais destacaram Frei Robert para ser escolhido como Papa Leão XIV?
Frei - Além do espírito missionário, ele tem uma grande capacidade de liderança. Governou a ordem por 12 anos, o que exige decisão, sabedoria e firmeza.
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Também conhece profundamente a Igreja, pois viajou o mundo em missão. É alguém com visão global e ao mesmo tempo enraizado espiritualmente. Essas qualidades o tornaram uma escolha natural no conclave.
DL - O pensamento de Santo Agostinho pode impactar a forma como o novo Papa conduz a Igreja?
Frei - Com certeza. Santo Agostinho valorizava a comunhão, o amor à Igreja e o diálogo. Para ele, a comunidade era fundante.
Creio que veremos um pontificado mais atento à escuta, ao diálogo, à unidade na diversidade — como Agostinho dizia. Isso pode ser um marco de Leão XIV.
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DL - Quais são suas expectativas em relação ao pontificado de Leão XIV?
Frei - Minha expectativa é que ele responda com sabedoria às demandas do nosso tempo. Não digo que continuará exatamente o pontificado de Francisco, mas os desafios são os mesmos.
O mundo continua com conflitos e desigualdades. Acredito que ele saberá responder a isso. É matemático, doutor em Direito Canônico, com uma mente brilhante. Esses elementos o capacitam para lidar com as questões atuais da Igreja.
DL - Que mensagem o senhor gostaria de deixar ao Papa, em nome da Ordem dos Agostinianos?
Frei - Queremos dizer que estamos com ele. Aqui no Brasil, temos duas províncias. A minha abrange São Paulo, Paraná, Goiás, Pernambuco e o Uruguai.
Agora, com um irmão agostiniano como Papa, temos a responsabilidade de nos comprometer ainda mais com o Evangelho. Vamos trabalhar mais, nos doar mais, apoiar nosso irmão Papa Leão XIV.
Como dizia Santo Agostinho: devemos amar, cuidar e servir à Igreja. E agora, com mais razão, com um Papa que veio da nossa própria ordem.
DL - O Papa Leão XIV tem uma relação especial com o Brasil?
Frei - Sem dúvida. Ele já residiu em Campinas e visitou comunidades em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Paraná — todas ligadas à nossa ordem.
Dizer que ele fez turismo é um erro. Ele visitou nossas casas religiosas, conviveu conosco.
Ele ama o Brasil, fala bem o português, entende tudo o que dizemos. É um homem aberto, com grande capacidade para línguas e culturas. E, com certeza, na primeira oportunidade, virá ao nosso país.
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DL - Sobre Carlos Acutis, o senhor gostaria de comentar algo em relação à possível canonização?
Frei - Esse tema talvez caiba em outra matéria. Não tenho um grande conhecimento da causa. Sei que a canonização estava próxima, mas foi adiada com a morte do Papa anterior.
Pode ser que a canonização de Carlos Acutis venha a marcar o pontificado de Leão XIV. Carlos foi um jovem que deu resposta ao seu tempo. Esperamos que o Papa faça o mesmo em relação aos desafios atuais da Igreja.
DL - Como o senhor se sente, pessoalmente, com a eleição de um agostiniano para o papado?
Frei - É uma emoção indescritível. Convivi com ele, estive com ele várias vezes. E agora saber que ele é o Papa, e um homem com o coração agostiniano, me enche de alegria.
Santo Agostinho dizia: “Fizeste-nos para vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em vós”.
Essa inquietude nos move. E ver alguém que carrega essa busca agora liderando a Igreja é um presente para todos nós.