Mãe da atriz, autora Glória Perez liderou um movimento nacional que resultou na inclusão do homicídio qualificado na lista de crimes hediondos / Reprodução
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Há 33 anos, o Brasil era confrontado com um crime que marcaria para sempre a história policial, jurídica e social do país. Em 28 de dezembro de 1992, a atriz Daniela Perez, então com apenas 22 anos, foi assassinada a facadas no Rio de Janeiro, em um episódio que chocou o país pela brutalidade e pela proximidade entre vítima e assassino.
Filha da autora Gloria Perez, Daniela vivia o auge da carreira ao interpretar a personagem Yasmin na novela De Corpo e Alma, da TV Globo. Jovem, talentosa e em ascensão, ela teve a vida interrompida de forma violenta por alguém de seu próprio convívio profissional.
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Embora o termo “feminicídio” só tenha sido incorporado à legislação brasileira décadas depois, o assassinato de Daniela Perez apresenta todos os elementos que hoje caracterizam esse tipo de crime: violência extrema, motivação ligada a controle, ressentimento e punição, além do fato de a vítima ser uma mulher em posição de vulnerabilidade diante do agressor.
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O autor do crime foi o ator Guilherme de Pádua, colega de elenco da vítima, com a participação de sua então esposa, Paula Thomaz.
Segundo a investigação, a motivação envolveu ciúmes profissionais e insatisfação com o rumo da trama da novela — fatores que revelam uma lógica de posse e punição frequentemente observada em crimes de gênero.
O assassinato teve enorme repercussão midiática e mobilizou a opinião pública como poucos casos até então. O julgamento, acompanhado de perto pela sociedade, terminou com a condenação de Guilherme de Pádua a 19 anos de prisão e de Paula Thomaz a 18 anos e seis meses. Ambos, porém, cumpriram apenas parte da pena, o que gerou indignação e reforçou o debate sobre impunidade.
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A comoção foi além do tribunal e expôs fragilidades do sistema penal, especialmente em crimes cometidos contra mulheres, reacendendo discussões que seguem atuais.
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A dor da perda levou Gloria Perez a transformar luto em mobilização. A autora liderou um movimento nacional que resultou na inclusão do homicídio qualificado na lista de crimes hediondos, alterando a legislação brasileira e endurecendo penas.
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Anos depois, o país avançaria com leis específicas de proteção às mulheres, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio. Ainda assim, o Brasil continua registrando números alarmantes de mulheres assassinadas, muitas vezes por pessoas próximas, em contextos semelhantes ao de Daniela Perez.
Trinta e três anos depois, o assassinato de Daniela Perez permanece como o caso de feminicídio mais chocante da história recente do país. Relembrar o crime não é apenas um exercício de memória, mas um alerta sobre a persistência da violência de gênero no Brasil.
A história de Daniela simboliza milhares de outras mulheres que tiveram suas vidas interrompidas pela mesma lógica de ódio, controle e silenciamento. Um caso do passado que, infelizmente, ainda reflete uma realidade urgente do presente.
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