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Amazônia tem recorde de desmate em abril, com mais de 1.000 km2 derrubados

Tamanha área derrubada não é costumeira em qualquer mês do ano, mas, historicamente, quando ocorre, é a partir de junho, período em que já teve início a estação seca

Folhapress

Publicado em 06/05/2022 às 21:47

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As áreas com alertas de desmatamento na Amazônia alcançaram um recorde absoluto no histórico recente do Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para o mês de abril. Foram derrubados 1.012,5 km² de floresta.

É a primeira vez que um dos primeiros quatro meses do ano apresenta desmatamento que ultrapassa a casa de mil quilômetros quadrados. Pode ainda haver um aumento no dado, considerando que o Inpe divulgou a taxa registrada até o dia 29 do mês passado.

O valor, mais um recorde de destruição da floresta sob o governo Jair Bolsonaro (PL), representa um salto expressivo de 74% em relação aos alertas de desmate registrados em abril do ano passado, cerca de 580,5 km², um número que também era o recorde para o mês.

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Os mais de 1.000 km² destruídos chamam a atenção pelo momento em que ocorrem. Abril ainda está dentro do período de chuvas da Amazônia, no qual, normalmente, as derrubadas são menores, exatamente pelas dificuldades impostas pelo tempo para a prática de desmate -que, no bioma, em sua maioria são ilegais.

Tamanha área derrubada não é costumeira em qualquer mês do ano, mas, historicamente, quando ocorre, é a partir de junho, período em que já teve início a estação seca.

Para efeito de comparação, o município de São Paulo tem cerca de 1.521 km², segundo a Fundação Seade. O total desmatado em abril na Amazônia seria equivalente a derrubar mais de 66% de uma cidade de São Paulo cheia de árvores -ou seja, toda a cidade, menos, aproximadamente, as áreas das subprefeituras de Parelheiros, Itaquera, Pinheiros e Butantã (entre outras combinações possíveis).

Em maio do ano passado, o desmate ficou acima de 1.000 km², algo também historicamente incomum para o mês.

Os dados são provenientes do programa Deter, programa do Inpe que dispara alertas de desmatamento praticamente em tempo e que, dessa forma, tem a função de auxiliar ações de fiscalização ambiental. O histórico da medição tem início no segundo semestre de 2015 (o monitoramento começou antes, mas mudanças tecnológicas impedem comparações diretas com os dados mais antigos da plataforma). Mesmo não sendo sua função primária a mensuração de desmate, a partir do Deter é possível ver tendências de derruba com o passar dos meses.

E a situação que se pinta para o desmatamento no ano já preocupa. Até o momento, três dos quatro meses de 2022 tiveram recordes de alertas de desmatamento. Somente março ficou um pouco abaixo do valor máximo de derrubada anterior (que foi março de 2021).

ANO ELEITORAL

Historicamente, anos eleitorais, como é o caso de 2022, possuem taxas de desmatamento maiores. O que amplia a preocupação sobre o assunto é o fato de a Amazônia estar vindo de três anos consecutivos de aumento de destruição, com valores já superando a casa de 13 mil km² de mata devastada.

Bolsonaro, desde antes de assumir a presidência, coloca-se contrário a ações de fiscalização ambiental e falava em uma suposta e nunca comprovada indústria da multa ambiental.

Ao assumir o Palácio do Planalto, o presidente começou a questionar e desautorizar operações em andamento.

O presidente e seus apoiadores, por diversas vezes, também criticaram o Inpe, instituto do próprio governo nacional que disponibiliza, com transparência ativa, taxas de desmatamento e queimadas. As falas do presidente levaram à demissão do antigo diretor do Inpe Ricardo Galvão.

A fiscalização ambiental, muito criticada por Bolsonaro, também sofreu perdas durante o mandato do atual presidente. As multas por crimes ambientais chegaram aos menores números dos últimos 20 anos, apesar de o desmatamento ser crescente. Além disso, dados recentes mostram que o governo Bolsonaro fiscalizou menos de 3% dos alertas de desmatamento no país desde 2019.

Enquanto Bolsonaro minimizava o desmatamento e as queimadas -ações normalmente associadas- na Amazônia, pesquisadores alertavam que esse tipo de discurso poderia incentivar a prática de crimes ambientais e fazer crescer a derrubada da floresta, tal qual vemos atualmente.

"As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro", afirma, em nota, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne dezenas de instituições ambientais do país. "O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja."

"É um alerta da imensa pressão que a floresta está sofrendo nesse ano", afirma, em nota, sobre a taxa registrada, Mariana Napolitano, gerente do WWF-Brasil para ciências.

Também do WWF-Brasil, em nota, Raul Valle, diretor de justiça socioambiental, afirma que "os desmatadores dobraram a aposta em 2022, após três anos de impunidade e em clima eleitoreiro". Valle diz ainda que, no Congresso, há um pacote de projetos de lei que promovem a destruição. "A floresta fica cada vez mais perto de um ponto em que ela não vai conseguir se recuperar", afirma.

O Observatório do Clima, porém, faz uma ressalva em relação ao dado e ao potencial do Deter para registrar desmates. As detecções do sistema costumam ser muito atrapalhadas por nuvens, especialmente nos meses chuvoso. Por isso, nos mais de 1.000 km² podem estar presentes derrubadas feitas em meses anteriores e não avistadas antes pelos satélites do Deter.

De toda forma, afirma o Observatório do Clima, a magnitude do dado surpreende e aponta que o desmate em 2022 deve, novamente, ultrapassar os 10 mil km².

Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente enviou o link de uma nota publicada conjuntamente com o Ministério da Justiça. Segundo as Pastas, os alertas têm finalidade de fiscalização e área apontada seria somente uma estimativa.

"O Governo Federal tem empenhado grandes esforços no combate aos crimes ambientais", afirma a nota. Apesar da afirmação, como já mencionado anteriormente, dados apontam índices baixos de fiscalização e o menor patamar de multas em duas décadas, apesar dos altos níveis de desmate.

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