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Analistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, acham até possível que o dólar venha bater na marca de R$ 3 em 2014, mas acreditam ser pouco provável que uma desvalorização do real nesta magnitude venha a se concretizar neste ano. O valor sugerido parte de alguns investidores internacionais e de economistas brasileiros desenvolvimentistas, que veem na depreciação cambial a mola propulsora de um crescimento da atividade a taxas iguais ou superiores a 4,5% ao ano. Estes últimos associam o baixo crescimento da economia brasileira à incapacidade do governo, nos últimos anos, de realinhar o câmbio.
Em dezembro, ao desembarcar no Brasil de uma viagem internacional, o ex-diretor de do Banco Central (BC) e sócio do Banco Plural, Mário Mesquita, disse ao Broadcast que os investidores estrangeiros já projetam o dólar em R$ 3,00 em 2014 Na semana passada, durante o seminário "The Fifth Latin American Advanced Programme on Rethinking Macro And Development Economics (Laporde)", na Fundação Getúlio Vargas (FGV), economistas brasileiros e estrangeiros fizeram defesa de um dólar em R$ 3,00.
Para o professor de Economia Internacional do Institute for Management Development (IMD), de Lausanne, Suíça, Carlos Primo Braga, o valor sugerido, de R$ 3 por dólar, implicaria uma política bem mais agressiva, com desvalorização de 25% no câmbio "Certamente isso jogaria mais lenha na fogueira inflacionária. Em outras palavras: um ajuste adicional seria bem-vindo, mas não creio que tenhamos espaço para um ajuste de 25% no curto prazo", descartou.
O professor do IMD avaliou que, embora tenha havido um desalinhamento nos últimos anos, ao longo de 2013 ocorreu uma correção importante no câmbio. "Concordo que ainda pode estar sobrevalorizado, mas as últimas estimativas que vi sugerem que uma depreciação de cerca de 10% seria suficiente para corrigir o desequilíbrio", afirmou.
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O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e sócio-diretor da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, não descarta a possibilidade da taxa de câmbio no Brasil vir a atingir R$ 3 por dólar. Mas diz achar pouco provável que uma desvalorização nesta magnitude venha a ocorrer neste ano.
De acordo com ele, na eventualidade de um cenário de recuperação mais forte da economia americana, e não só pelo tapering, mas por uma conjuntura de juros mais altos nos Estados Unidos, seria possível o dólar bater nos R$ 3 aqui no Brasil. "Mas acho pouco provável porque não vejo hoje no Brasil pressões que realimentem a depreciação como em 2002", afirma Schwartsman. Ele lembra que naquele ano o dólar subia e batia na dívida, que batia de novo no dólar, que voltava a subir.
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Em 2008, lembra o ex-diretor do BC, o diferencial do cenário eram os derivativos cambiais de posse das empresas. Quando o câmbio subia, as empresas tinham que comprar dólares e isso realimentava a desvalorização. "Hoje não vejo mecanismos neste sentido, não há derivativos exóticos e o governo é credor em dólar. Tem a exposição das empresas, mas me parece um fenômeno de curto prazo", afirmou o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. "Eu vejo o câmbio para cima, mas entre R$ 2,40 e R$ 2,60. Ninguém consegue prever ao certo a taxa de câmbio", ressalvou.
Perguntado se um eventual rebaixamento do rating do Brasil pelas agências de classificação de risco não poderia contribuir para uma disparada do dólar, Schwartsman disse que não porque um eventual downgrade já estaria precificado pelo mercado de câmbio "Não acredito nisso porque já está no preço. Parte da alta dos CDSs (Credit Default Swaps) - uma importante medida de risco usada pelos investidores - é por causa disso", diz.
Neste contexto, o diretor-executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes nas Américas da Nomura Securities Internacional, Tony Volpon, entende que tentar saber para onde vai o câmbio é o que menos importa. Volpon também não descarta a possibilidade de o dólar bater na marca dos R$ 3, mas antecipa que isso não vai abrir caminho para uma taxa maior de crescimento se o resto da economia não estiver funcionando bem. "Os preços dos produtos não comercializáveis (serviços) têm subido mais que os comercializáveis desde 2006 como resultado dessa política do governo de promover aumentos salariais acima do crescimento da produtividade", afirma.
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De acordo com o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) Luís Eduardo Assis, o tema do câmbio tem tudo para dominar o debate em 2014. Segundo ele, ninguém sabe para onde o câmbio vai. No entanto, ele não descarta a possibilidade de o dólar alcançar a cotação de R$ 3 entre outras coisas porque "não resta dúvida de que a visão externa é negativa em relação ao Brasil." E mesmo porque, de acordo com Assis, os juros americanos vão subir, o que poderá pressionar ainda mais o real
Seja como for, comenta o ex-diretor de Política Monetária do BC, o tempo para o governo decidir o que fará com o câmbio já passou "O mercado tomou a dianteira. A preocupação agora é com a inflação. Meu palpite é que o BC tem todas as condições de coordenar esta desvalorização cambial, evitando um overshooting", disse.
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