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Você lembra? Banho da Dona Doroteia coloca Santos na vanguarda do Carnaval brasileiro

Criada há mais de 100 anos, a folia de Carnaval de membros dos clubes de regata da Ponta da Praia marcou uma geração que desejava rasgar a fantasia em um banho de mar

Luana Fernandes

Publicado em 06/02/2024 às 18:40

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Homens fantasiados de mulher desfilavam na Ponta da Praia e terminavam mergulhando no mar / Reprodução

Quem curte atualmente os desfiles das escolas de samba de Santos uma semana antes do feriado de Carnaval pode não imaginar que, há 100 anos, este fim de semana era reservado a um banho de mar inusitado com muita marchinha e fantasia de papel, criado pelos clubes de regatas situados até hoje na Ponta da Praia.

Conforme apontam os registros da história santista, em um domingo anterior ao carnaval de 1922, aconteceu o primeiro banho de mar à fantasia registrado pela imprensa da Cidade, por iniciativa do Bloco Pé no Fundo, do Clube Internacional de Regatas. Após o desfile, na areia da praia do Gonzaga, os foliões com fantasias de papel foram tomar banho de mar. Naquele mesmo ano, o pessoal do Saldanha da Gama também promoveu um desfile na sexta-feira anterior à Corte do Rei Momo, com direito à fantasia, muita folia e mergulho no mar em frente ao clube.

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Os anos seguintes também ganharam edições desta festa que, já naquela época, passou a ser conhecida como “Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda?”. A origem deste nome tem várias versões, mas, a mais famosa é de que a denominação foi retirada de uma peça do jornalista e teatrólogo Chico Sá, levada à cena em meados da década de 20, no antigo Teatro Guarany. A partir de 1926, a festa começou a ser reconhecida, tornando-se com o passar do tempo uma das maiores atrações carnavalescas da região da Baixada Santista.

Até a década de 40, o desfile foi realizado na Ponta da Praia. O encerramento era sempre marcado pelo mergulho da matrona Dorotéia, do noivo e da noiva (personagens principais da festa), do antigo trampolim localizado no bairro. A tônica era a mesma: blocos improvisados, formados por foliões ostentando fantasias de papel de seda, crepom ou celofane, levando o calção por baixo para o mergulho apoteótico.

Os blocos eram formados sempre por homens vestidos de mulher, seguindo a tradição da festa. Além da disputa entre eles, havia também a concorrência dos foliões avulsos, que se apresentavam imitando algum artista de cinema ou satirizando políticos. Nos anos 40, as fantasias de tecido começaram a aparecer e o desfile ia ganhando personalidade: com temas, marchinhas próprias e caminhões alegóricos.

Já a partir da década de 50, a festa foi transferida para a praia do Gonzaga. O desfile já ostentava temas belíssimos, fantasias luxuosas e carros alegóricos deslumbrantes. Sem deixar para trás os foliões que iam como queriam e como podiam, com fantasias improvisadas e sem ostentação. Em 1956, O Banho da Doroteia chegou a contar com 22 blocos classificados e, em 1960, foi dividido em duas categorias: Arte Carnavalesca, para os blocos organizados, e Patuscada, para os improvisados.

Mesmo sendo promovido pelo Saldanha da Gama, o desfile pré-carnavalesco foi oficializado no calendário carnavalesco de Santos e passou a contar com o apoio do antigo Conselho Municipal de Turismo e, depois, da Secretaria de Turismo de Santos. Apesar da realização no Gonzaga, os foliões voltavam em caminhões para a Ponta da Praia, onde acontecia o tradicional mergulho do trampolim nas águas do canal, o ponto alto da festa durante todos os anos.

Voltando a ser realizado na Ponta da Praia a partir de 1961, o Banho da Dorotéia foi caindo em decadência. Em 1962, por exemplo, quando foi realizado na praia do Boqueirão, a festa registrou a participação de apenas oito blocos.

De 1967 a 1970, o Bloco foi paralisado, voltando apenas em 1971 na Ponta da Praia, assim como nos primeiros anos de glória. Em 1973, os foliões celebraram o cinquentenário do Banho e, só a partir daí, que as mulheres também começaram a participar dos desfiles, quebrando o antigo tabu de só permitir a presença de homens.

A festa seguiu por muitos anos e inspirou o carnaval de muitas cidades, como aconteceu em Cubatão, que criou o Banho da Dona Doroti. A intenção era a mesma… Homens fantasiados de mulheres e vice-versa desfilando até chegar ao banho de caminhão-pipa, no final da Avenida Brasil, no Jardim Casqueiro. Ambas as festas acabaram por conta dos casos de violência registrados. No caso de Santos, o Banho da Dona Dorotéia aconteceu até 1997.

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