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Ossuário de Tiago pode ser primeira evidência física de Jesus, diz instituto

Objeto funerário com inscrição controversa levanta debate sobre historicidade do cristianismo primitivo

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 10/08/2025 às 12:38

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Objeto funerário com inscrição controversa levanta debate sobre historicidade do cristianismo primitivo / Paradiso/Wikimedia Commons

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Um pequeno caixão de calcário, conhecido como Ossuário de Tiago, pode representar uma das descobertas arqueológicas mais impactantes ligadas ao cristianismo primitivo.

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A peça, típica do século I, traz a inscrição: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”, o que tem gerado debates intensos desde que foi apresentada ao público.

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Estudos indicam que o ossuário pode ser a primeira evidência arqueológica direta relacionada a Jesus de Nazaré. Porém, ainda existem controvérsias sobre a autenticidade da inscrição, especialmente da frase “irmão de Jesus”.

O Instituto Bíblico de Arqueologia (IBArq), em entrevista ao Portal iG, esclarece que Jesus e Tiago são reconhecidos como personagens históricos por ampla maioria de estudiosos da Antiguidade, baseando-se em textos independentes e registros escritos.

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“Entre os especialistas sérios, não há dúvida sobre as existências, dadas a quantidade e variedade de registros escritos independentes que os mencionam”, afirma o IBArq.

Confira a entrevista: 'Jesus foi um jovem da periferia', afirma reverendo.

A singularidade do ossuário e seu contexto arqueológico

Ossuários com inscrições eram comuns no mundo antigo, mas raramente mencionavam relações familiares, especialmente irmãos, o que torna este exemplar singular.

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A frase “irmão de Jesus” indica a notoriedade dessa figura, sugerindo que Tiago, o sepultado no ossuário, seria um parente próximo de alguém de grande importância — neste caso, Jesus.

Para especialistas, essa situação só seria possível se o irmão fosse uma figura mais proeminente, como indica o instituto.

Achados arqueológicos relacionados a personagens bíblicos são raros e normalmente vinculados a elites, como o ossuário do sumo sacerdote Caifás ou inscrições com o nome de Pôncio Pilatos.

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Jesus e Tiago, sem cargos oficiais ou riqueza, dificilmente teriam deixado muitos vestígios físicos, o que aumenta a relevância da peça.

Autenticidade e debates

O ossuário passou por rigoroso processo judicial em Israel durante os anos 2000, onde foi investigada a possibilidade de fraude na inscrição. Nenhuma falsificação foi comprovada e a maioria dos especialistas considera a peça genuína, datando-a do século I.

A principal controvérsia permanece se a inscrição “irmão de Jesus” foi adicionada posteriormente.

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No entanto, renomados arqueólogos, epigrafistas e cientistas defenderam a autenticidade da inscrição completa com base em critérios técnicos, incluindo a análise da epigrafia, da pátina, da continuidade dos sulcos e da coerência linguística com outras inscrições da época.

A menção a Tiago como “irmão de Jesus” também está presente em fontes históricas, como o historiador judeu Flávio Josefo, que escreveu: “Tiago, irmão de Jesus, que era chamado de Cristo”.

Desafios do contexto de descoberta

Um problema para a credibilidade do ossuário é que ele surgiu no mercado de antiguidades, não em uma escavação controlada, o que dificulta a análise do seu contexto arqueológico original. Segundo o IBArq:

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“Quando um objeto surge fora de uma escavação controlada, perdemos informações valiosas sobre seu contexto original, o que dificulta a análise e gera dúvidas sobre a autenticidade.”

Apesar disso, a origem comercial não implica necessariamente falsidade. Muitas peças autênticas foram adquiridas fora de escavações formais e hoje estão em museus renomados como o Louvre e o British Museum.

A missão da arqueologia bíblica

A arqueologia bíblica não busca provar ou refutar a fé, mas contextualizar historicamente personagens e eventos mencionados em textos sagrados.

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“Seu objetivo não é confirmar ou negar a fé, mas reconstruir os contextos históricos e culturais nos quais esses textos e personagens surgiram”, explica o IBArq.

Nas últimas duas centenas de anos, inúmeras descobertas reforçaram a historicidade de eventos e costumes bíblicos, sem que nenhuma tenha expressamente refutado seu conteúdo — embora questões teológicas fiquem fora do âmbito científico.

Assim, caso seja autêntico, o Ossuário de Tiago pode se tornar uma peça-chave para a arqueologia bíblica, fortalecendo a evidência histórica de Tiago e Jesus, além de contribuir para a compreensão do ambiente familiar de Jesus e da formação do cristianismo.

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