Manter a pressão controlada pode salvar seu cérebro / Freepik
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Por muito tempo, a hipertensão foi ligada a problemas no coração e rins. Contudo, estudos recentes revelam que o cérebro também sofre impactos diretos, muitas vezes de forma silenciosa, e muito antes dos sintomas aparecerem.
Em um levantamento publicado no The Journal of Physiology, pesquisadores alertam que a pressão alta prolongada altera elementos vitais da saúde cerebral: a pressão intracraniana (PIC), a complacência craniana (ICC) e a barreira hematoencefálica (BHE).
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Essas mudanças, muitas vezes despercebidas, podem comprometer a capacidade do cérebro de funcionar adequadamente. A manutenção do equilíbrio de volumes e pressões dentro do crânio é essencial.
Quando a hipertensão perturba esse equilíbrio, o risco de comprometimento cognitivo, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e até mesmo o desenvolvimento precoce de demência aumenta.
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Um aspecto central observado no estudo é a "onda de pressão intracraniana". Em um cérebro saudável, o pico P1 é maior que o P2. Inverter essa relação sinaliza uma redução na complacência cerebral, indicando que o cérebro perdeu sua capacidade de se adaptar a alterações internas de pressão.
Outro impacto significativo da hipertensão é sobre o sistema nervoso autônomo. A longo prazo, a pressão alta provoca uma hiperatividade do sistema simpático, que controla funções importantes como a frequência cardíaca e a própria pressão arterial, criando um ciclo vicioso prejudicial.
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Essa condição leva o cérebro a perder sua capacidade de autorregulação. A hipertensão, então, afeta diretamente o cérebro, que por sua vez, perde o controle sobre sua própria pressão, perpetuando o problema e acelerando danos neurológicos silenciosos.
A integridade da barreira hematoencefálica (BHE) é fundamental e também é comprometida. Com essa estrutura danificada, o cérebro fica mais vulnerável a substâncias inflamatórias, o que pode acelerar processos neurodegenerativos e outros problemas.
Em entrevista ao Jornal da Unesp, o neurocientista Eduardo Colombari, um dos autores do levantamento afirma: "A ruptura da BHE pode preceder até a perda de memória, funcionando como um gatilho para o declínio cognitivo". Essa afirmação reforça a gravidade e o caráter silencioso do problema.
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O estudo sublinha a importância de monitorar a pressão arterial e os sinais cerebrais precocemente para evitar danos graves. A boa notícia é que medicamentos como a losartana mostraram-se eficazes na reversão de danos à PIC, ICC e BHE em modelos experimentais, oferecendo esperança.
Entretanto, outras drogas, como a hidralazina, não oferecem os mesmos benefícios neurológicos, reforçando a necessidade de terapias específicas e direcionadas. A escolha do tratamento é crucial para proteger o cérebro de forma eficaz.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda métodos como o MAPA (monitoramento ambulatorial) e o MRPA (monitoramento residencial). Esses monitoramentos ajudam a identificar a ausência de queda da pressão arterial durante o sono (o chamado non-dipping), um fator que aumenta os riscos cerebrais significativamente.
Colombari conclui que "Observar padrões como o índice P2/P1 e a integridade da BHE permite intervenções antes do surgimento dos sintomas. Isso é o que pode mudar a trajetória de muitos pacientes".