É possível mapear como os bebês registram informações, mesmo sem conseguir expressar que se lembram / Reprodução/Freepik
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É raro encontrar alguém que se lembre dos primeiros anos de vida, quase nunca lembramos de acontecimentos de quando éramos bebês. Mas isso não significa que o cérebro estava "desligado" ou que não registrava o que acontecia ao redor.
Pelo contrário: a ciência mostra que as lembranças da primeira infância não desaparecem totalmente — elas podem apenas ficar inacessíveis com o tempo.
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Essa é a hipótese levantada por um estudo publicado na revista Science, que reforça algo que muitos pais já percebem no dia a dia: bebês reconhecem rostos, vozes e lugares, mesmo sem saber falar ou se expressar claramente. O cérebro deles está ativo, aprendendo e formando conexões — mesmo que, anos depois, essas memórias pareçam ter sumido.
Desde os primeiros meses, o cérebro infantil trabalha a todo vapor. É nesse período que os bebês começam a reconhecer os pais, a reagir a gestos e expressões, a identificar padrões e a construir os primeiros vínculos afetivos. Todo esse aprendizado, ainda que não consciente, fica registrado de alguma forma.
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O responsável por organizar e consolidar essas memórias é o hipocampo, uma região do cérebro que ainda está em desenvolvimento na primeira infância. Por isso, embora os bebês absorvam muitos estímulos, nem todas as informações são armazenadas como acontece com crianças mais velhas ou adultos.
Durante anos, estudos com animais já vinham sugerindo que memórias podem ser formadas muito cedo, mas tendem a desaparecer se não forem reativadas. A grande dúvida era: essas lembranças se perdem para sempre ou continuam ali, escondidas?
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Para investigar essa questão em humanos, pesquisadores acompanharam 26 bebês enquanto eles viam imagens de rostos, objetos e paisagens. Depois de um intervalo de tempo, as mesmas imagens foram reapresentadas e a atividade cerebral monitorada.
O que os cientistas observaram foi animador: por volta de um ano de idade, o hipocampo dos bebês já mostra sinais claros de participação na formação de memórias — principalmente nos mais velhos do grupo.
Investigar o que se passa na mente de um bebê é um desafio. Como eles ainda não conseguem se comunicar verbalmente, os cientistas precisam ser criativos e cuidadosos. Uma das técnicas mais usadas é o monitoramento de ondas cerebrais, observando como o cérebro reage a imagens repetidas.
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Outros estudos usam chupetas especiais, estímulos visuais e medição do tempo de atenção para detectar sinais de reconhecimento. Com isso, é possível mapear como os bebês registram informações, mesmo sem conseguir expressar que se lembram.
Mesmo com o hipocampo já funcionando, a maioria das pessoas não consegue acessar lembranças anteriores aos três anos de idade. Essa condição é conhecida como amnésia infantil, e ainda intriga os cientistas.
Existem algumas explicações possíveis: as memórias dessa fase podem não ter sido consolidadas em longo prazo, podem ter se perdido ao longo do tempo ou simplesmente ficado inacessíveis por mudanças na estrutura do cérebro durante o crescimento.
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Um dos autores do estudo, o pesquisador Nick Turk-Browne, está conduzindo novas pesquisas para entender melhor esse fenômeno. Em um dos experimentos, ele investiga se crianças mais velhas reconhecem imagens que viram ainda bebês.
Os primeiros resultados sugerem que algumas memórias permanecem até por volta dos três anos — mas se tornam cada vez mais difíceis de acessar depois disso.
Mesmo que a gente não consiga se lembrar com clareza dos nossos primeiros passos, do cheiro do colo da mãe ou do tom de voz do pai, essas experiências continuam nos moldando de maneiras sutis. A ciência está apenas começando a decifrar esse baú invisível de lembranças.
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O que já se sabe é que o cérebro dos bebês está sempre aprendendo, absorvendo e construindo a base emocional e cognitiva que levamos para o resto da vida — mesmo que a gente não se lembre exatamente de onde tudo começou.
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