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Cerca de R$ 20 milhões somem da Alfândega de Santos e desfecho surpreende

Caso ocorreu em 1877 e reviravolta nas investigações parece coisa de cinema

Jeferson Marques

Publicado em 03/04/2024 às 14:55

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Cerca de 20 milhões de reais somem da Alfândega de Santos em 1877. / Foto de Skitterphoto/Pexels

Santos, 1877. Um roubo ousado e misterioso choca o Império da época. Do cofre da Alfândega de Santos desaparecem 185 mil contos de réis, o equivalente nos dias atuais a cerca de R$ 20 milhões. O dinheiro foi arrecadado pelo recolhimento de impostos e taxas de empresários do café. Porém, como um equipamento até então "inviolável" foi arrombado? Quem fez isso? Como fez?

Era uma sexta-feira nublada quando um funcionário da Alfândega santista fazia as últimas contagens do cofre, o trancava e ia para a sua casa curtir o final de semana. Até então, um procedimento padrão e corriqueiro da época. Já na segunda-feira seguinte a imprensa noticiava que todo o valor guardado havia sido roubado. Como assim?

Um famoso empresário, ex-político da cidade e tesoureiro do lugar (Antonio Eustachio Largacha) foi apontado pela polícia como o principal suspeito do crime. A razão principal? Somente ele tinha a chave do cofre.

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Para a polícia, Largacha entrou na Alfândega tarde da noite, quando não havia mais ninguém, e tentou abrir o cofre com uma chave micha. Sem sucesso, usou a sua própria chave, tirou todo o valor de dentro do cofre e espalhou objetos pelo lugar para simular uma invasão, além de ter arrancado algumas telhas do lugar, reforçando que o suposto ladrão teria invadido o prédio por ali.

É aí que entra na história o advogado Luiz Gama (1830-1882).

Abolicionista e negro, era conhecido por sua inteligência aos detalhes e raciocínio rápido. De cara ela achou a acusação frágil e sem sentido, pois, seu cliente (Largacha) não precisaria fazer todo este teatro para roubar a quantia.

Mesmo com os esforços de Gama, duas instâncias condenaram Largacha pelo crime.

Mais de 200 pessoas foram ouvidas na época, detre elas um serralheiro alemão que, apontado como perito, disse que o cofre, de fabricação inglesa, só poderia ser aberto com a chave de Largacha. Ele disse que o objeto era "impenetrável" e que não havia outra forma de violá-lo. Gama, o advogado de Largacha, debochou do laudo do serralheiro e ainda apontou que ele estava envolvido no crime, apresentando um documento que comprovava que o profissional, três meses antes do roubo, fez manutenção no cofre e, assim, sabia todo o seu funcionamento e possíveis vulnerabilidades de segurança.

Gama apresentou, ainda, uma reportagem de um jornal italiano que trazia a informação de que aquele mesmo modelo de cofre, da mesma fabricante, teve a sua segurança colocada à prova com a empresa oferecendo um recheado prêmio em dinheiro para quem o abrisse sem a chave original. "É impossível", dizia a propaganda da empresa. Um serralheiro o abriu usando apenas um arame, em poucos segundos.

A outra grande contradição foi quando um jornalista do Rio de Janeiro, amigo de um grande empresário de Santos, enviou um telegrama ao seu editor às 11h da segunda-feira dando detalhes do roubo, a quantia levada e mais outras informações. Porém, como ele sabia disso se, neste horário, a polícia ainda não havia sido chamada?

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Para Gama, o serralheiro alemão, o empresário santista famoso e seu amigo jornalista faziam parte da quadrilha que roubou o dinheiro. Ainda mais que os dois últimos, na mesma manhã, haviam embarcado em um navio para o Rio de Janeiro, levando malas pesadas e bem lacradas.

Largacha ficou 10 meses preso até que Gama publicou os achados de suas investigações. A justiça, então, decidiu soltá-lo.

Não se tem registros do que ocorreu com os três homens apontados como formadores de quadrilha e os reais ladrões do cofre.

Segundo o historiador Bruno Lima, em entrevista à BBC, é possível que nenhum deles tenha respondido pelo crime.

O dinheiro jamais foi recuperado.

Este roubo é considerado o maior do período imperial brasileiro (1822-1899).

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