O diagnóstico precoce é muito importante para o tratamento da doença / Freepik
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A picada da mosca tsé-tsé não se compara à de insetos comuns. Ao contrário do mosquito, que perfura a pele de forma quase imperceptível, essa mosca possui uma boca com pequenas serrilhas que cortam a pele para alcançar o sangue, tornando a mordida dolorosa.
O risco maior, no entanto, não está no ferimento, mas no parasita que ela transmite. A mosca é responsável pela disseminação da doença do sono, nome popular da Tripanossomíase Humana Africana, uma infecção grave que pode levar à morte quando não tratada.
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A enfermidade é causada por parasitas do gênero Trypanosoma e continua sendo um problema de saúde pública em diversas regiões do continente africano.
Existem duas principais formas do parasita que infectam seres humanos. A Trypanosoma brucei gambiense é a mais comum, respondendo por cerca de 95% dos casos e predominando na África Ocidental. Sua evolução é lenta e pode levar anos até se tornar fatal.
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Já a Trypanosoma brucei rhodesiense é menos frequente, mas muito mais agressiva. Essa variante pode provocar a morte em poucos meses se não houver tratamento rápido.
Nos estágios iniciais, os sintomas costumam ser genéricos, como febre, dores de cabeça e dores musculares. Com o avanço da doença, surgem fadiga intensa, alterações de personalidade, confusão mental e problemas de coordenação. A sonolência progressiva é a marca registrada da enfermidade.
Ao longo do século 20, a doença do sono causou epidemias devastadoras. No início desse período, centenas de milhares de pessoas eram infectadas anualmente.
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Com programas de vigilância e diagnóstico precoce, os números caíram de forma expressiva. Em 2009, foram registrados menos de 10 mil casos, e em 2015, esse total caiu para menos de 3 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Mesmo assim, especialistas alertam que muitos casos podem passar despercebidos, especialmente em áreas rurais com pouco acesso a serviços de saúde.
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Pesquisas recentes mudaram a forma como a doença é compreendida. Um estudo publicado em 2016 mostrou que o parasita não fica restrito ao sangue, podendo se esconder também na pele e no tecido adiposo.
“Achamos que a pele é, portanto, um reservatório escondido da infecção”, afirmou Annette MacLeod, da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, à BBC. Segundo ela, isso ajuda a explicar como pessoas sem sintomas aparentes ainda conseguem transmitir a doença.
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Outro desafio é a capacidade do parasita de driblar o sistema imunológico. Em 2014, Etienne Pays, da Universidade de Bruxelas, descreveu essa relação como uma “corrida armamentista”. Ele explicou à BBC que uma proteína humana, a apolipoproteína L1, conseguia eliminar versões antigas do parasita, mas que as cepas que infectam humanos evoluíram para escapar dessa defesa.
Estudos mais recentes indicam ainda que a doença não ocorre em apenas duas fases, como se acreditava. Hoje, os cientistas falam em três estágios distintos.
Michael Duszenko, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, explicou à BBC que o parasita pode permanecer por longos períodos em uma fase intermediária, liberando substâncias que induzem o sono e retardam sua entrada no cérebro.
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Apesar do avanço no conhecimento científico e do desenvolvimento de novos medicamentos, a doença do sono ainda é considerada uma enfermidade negligenciada, com investimentos limitados da indústria farmacêutica.
Pesquisadores acreditam, no entanto, que compreender melhor os mecanismos do parasita pode levar a tratamentos mais eficazes no futuro. Mesmo menos comum hoje, a doença segue como um alerta sobre os riscos das infecções tropicais e a importância do monitoramento contínuo.