Trilhos de trem em bairros de Cubatão oferecem perigo às crianças

A morte trágica do garoto de oito anos no último domingo - um dia depois do Natal - após ser atingido por um trem voltou a ligar o sinal de alerta em Cubatão. Isso porque 13 bairros da Cidade são margeados por linhas férreas de transporte de cargas. Por elas atravessam, todos os dias, cerca de oito mil estudantes.

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E esse número pode triplicar se for levado em conta os demais moradores. A Vila dos Pescadores, Vila Esperança, Costa Muniz e Jardim 31 de Março apresentam situações especiais porque os trilhos estão muito próximos das moradias e estabelecimentos comerciais. Há anos se registra casos de crianças atingidas por trens.

No 31 de Março, os trilhos passam por entre residências e as ligações entre os pontos seccionados do bairro são feitas por passagem de nível. Na Vila dos Pescadores, o problema é agravado pela intensa movimentação de veículos e pedestres sobre a via férrea, também em passagem de nível.

Já a parte residencial da Vila Nova é separada da via férrea pelas duas pistas da Avenida Nove de Abril. A Vila São José é separada pela Avenida Tancredo Neves e o Parque Fernando Jorge, Jardim Anchieta, Jardim das Indústrias, Jardim São Francisco e Centro por ruas locais e faixas de domínio da estrada de ferro. Nestes casos, não há pontos de ultrapassagem dos trilhos por pedestres ou veículos.

Lembrando que, em 2015, o DL reportou a história de G.M.O, que perdeu a inocência e, junto com ela, o braço e a perna esquerda, dilacerados por um trem na tarde do dia 29 de outubro do ano anterior.

O menino não estava só. Ele e um amigo tinham acabado de assistir a uma partida de futebol num campo próximo à rodoviária da Cidade e, no caminho de volta para casa, viram que o trem trafegava devagar. Para testar seus limites, eles resolveram subir na composição que, segundos depois, passou a imprimir velocidade. Ambos ficaram com medo de pular.

Em cima do vagão, G.M.O foi atingido por um fio da rede de telefonia que estava presa ao viaduto sobre a linha férrea e caiu entre um vagão e outro. Ele ficou um bom tempo sangrando no chão até ser assistido por um parente.

Em junho de 2018, outro menino de 12 anos caiu de um trem em movimento e foi decapitado. O garoto brincava com um amigo em um dos vagões do trem quando houve o acidente. O outro menino teve ferimentos leves.

O trem passava pelo bairro Vila Natal. As crianças também se depararam com um fio aéreo, se desequilibraram e caíram do vagão. O menino que morreu caiu perto da roda. O amigo dele, de 13 anos, teve ferimentos leves. Ele foi levado para o Hospital Municipal de Cubatão e depois ao Conselho Tutelar.

No caso recente, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) chegou a ser acionado, mas a criança já havia falecido no local. Segundo a Polícia Civil, o menino jogava bola em um campo de futebol ao lado da linha férrea, ele teria ido buscar a bola, se desequilibrado e caído.

A Rumo, empresa responsável pelo trem, já se posicionou lamentando o ocorrido e informou que o maquinista não percebeu o ocorrido. O caso foi registrado na Delegacia Sede de Cubatão e ainda será investigado pela Polícia Civil.

Vale lembrar que todos os municípios da Baixada Santista são cortados por linhas férreas, mas o único município em que trens de carga operam em área urbana é Cubatão. Nas demais cidades, os trens são utilizados somente na área portuária.

Em Santos e São Vicente, por exemplo, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) reutilizou o modal para implantar o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). Mesmo assim, os cuidados são redobrados e já houve acidentes envolvendo o transporte sobre trilhos.

O último, por exemplo, ocorreu no último dia 10 de dezembro, quando uma mulher de 35 anos ficou ferida após o carro em que estava colidir contra o VLT em movimento. O acidente aconteceu na Rua Silva Jardim.

ESPECIALISTA.
Doutor em Engenharia de Produção, pela Universidade Metodista de Piracicaba (Piracicaba - SP), com o tema Cenários do Transporte de Cargas para o Porto de Santos com Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa, José Manoel Ferreira Gonçalves, também especialista em outras áreas e presidente da Frente Nacional pela Retomada das Ferrovias (Ferrofrente), afirmou ontem à Reportagem que enviou um ofício à Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem) e ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) pedindo providências.

"São necessários investimentos contínuos na manutenção da rede ferroviária, modernização tecnológica e renovação da frota, além de treinamentos de funcionários e campanhas educativas", afirma.

Gonçalves revelou ainda que o MP-SP pode agir abrindo "a caixa preta" e avaliar o que está ocorrendo envolvendo a circulação de pessoas nas linhas e quais as medidas de segurança podem ser adotadas. "A Câmara de Cubatão deveria abrir uma audiência pública para tratar esse assunto", finaliza Gonçalves.