Ao longo dos séculos, as tradições mudaram, e o uso de sobrenomes passou a refletir estruturas sociais, familiares e até religiosas / ImageFX
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, pela primeira vez, nesta terça-feira (4/11), a lista dos sobrenomes mais populares no Brasil. O levantamento analisou cerca de 200 mil sobrenomes registrados no país e revelou aquilo que muitos já desconfiavam: Silva é, de longe, o mais comum entre os brasileiros.
Segundo o IBGE, aproximadamente 34 milhões de pessoas no país carregam o sobrenome Silva — o equivalente a 16,76% da população. Em segundo lugar está Santos, presente em 21,4 milhões de registros (10,4%).
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A região com maior concentração de 'Silvas' fica no Nordeste. Alagoas e Pernambuco lideram: nesses estados, mais de um terço da população tem o sobrenome. Em Belém de Maria (PE), ele aparece em 63,9% dos habitantes, o maior índice municipal do país.
De acordo com o IBGE, os sobrenomes mais usados pelos brasileiros são:
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Silva — 34.030.104 registros
Santos — 21.367.475
Oliveira — 11.708.947
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Souza — 9.197.158
Pereira — 6.888.212
Ferreira — 6.226.228
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Lima — 6.094.630
Alves — 5.756.825
Rodrigues — 5.428.540
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Costa — 4.861.083
Sousa — 4.797.390
Gomes — 4.046.634
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Nascimento — 3.609.232
Araújo — 3.460.940
Ribeiro — 3.127.425
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Almeida — 3.069.183
Jesus — 2.859.490
Barbosa — 2.738.119
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Soares — 2.615.284
Carvalho — 2.599.978
Um dos mais antigos e difundidos do mundo lusófono, Silva tem origem no latim, significando 'selva' ou 'floresta'. O termo surgiu na Roma Antiga, desapareceu com o fim do Império Romano e ressurgiu no século XI na Península Ibérica.
No Brasil, o sobrenome ganhou força com a colonização portuguesa e, posteriormente, passou a ser imposto a pessoas escravizadas, muitas vezes acompanhado de 'da', como forma de indicar posse. Hoje, também é comum em países lusófonos e, em menor escala, na Espanha e Itália.
A adoção de sobrenomes começou na Idade Média europeia, como forma de diferenciar pessoas com o mesmo nome próprio. Muitos surgiram a partir de profissões (como Smith, Ferreira, Carvalho), locais de origem, características físicas ou nomes de ancestrais (patronímicos, como Gonçalves e Johnson).
Ao longo dos séculos, as tradições mudaram, e o uso de sobrenomes passou a refletir estruturas sociais, familiares e até religiosas.
A tradição de a mulher adotar o sobrenome do marido vem perdendo força no Brasil. Dados de cartórios mostram que o número de casamentos em que a esposa muda de nome caiu 30% entre 2002 e 2022. Já casais que mantêm os sobrenomes originais cresceram 41,5% no mesmo período.
Hoje, filhos podem receber um ou ambos os sobrenomes dos pais, em qualquer ordem — prática que reflete uma sociedade mais igualitária e diversa.
Os dados do IBGE revelam mais do que estatísticas: mostram a construção cultural do país, marcada pela miscigenação, pela herança linguística e pelas histórias individuais que moldaram o Brasil. Cada sobrenome carrega um capítulo dessa trajetória — da casa grande à senzala, do imigrante ao indígena, do anonimato ao renome.
Porque, no fim, nossos nomes carregam nossa história — e ajudam a contar quem somos como povo.