Intolerância com idosos reflete uma sociedade que rejeita o próprio futuro / Freepik
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Andar devagar, esquecer palavras, precisar de ajuda: atitudes comuns na velhice são, muitas vezes, motivo de irritação. Mas essa impaciência tem nome e consequência. Drauzio Varella chama isso de etarismo.
“Eles andam devagar, falam devagar — e isso nos incomoda”, diz o médico em vídeo publicado no seu canal do Youtube. O incômodo, segundo ele, revela um preconceito silencioso que afasta os idosos da convivência social.
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A sociedade moderna parece não saber lidar com a lentidão. Mas o que está por trás dessa pressa é o desprezo por quem viveu mais — e a recusa em aceitar o próprio envelhecimento.
A jornalista Roberta Zampetti fez um depoimento em seu canal contando sua experiência.
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O preconceito contra pessoas idosas não se manifesta de forma escancarada, mas se infiltra nas interações mais simples. E o mais grave: poucas vezes é reconhecido como discriminação.
Drauzio Varella afirma: “É impressionante como nós temos pouca paciência com os mais velhos.” Esse comportamento, repetido todos os dias, acaba reforçando a exclusão dos idosos.
Quando um idoso é interrompido, apressado ou ignorado, ele entende: sua presença incomoda. O problema não é ele, mas a forma como lidamos com tudo que foge da pressa.
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“Você anda devagar e já tem um atrás buzinando, querendo passar”, afirma Drauzio. Situações assim mostram que os idosos são vistos como obstáculos no ritmo frenético do cotidiano.
Jorge Félix, especialista em envelhecimento, reforça no vídeo: “O envelhecimento não é uma doença. Mas o idoso é tratado como doente crônico.” É como se viver muito fosse um problema.
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A pressa coletiva transforma a convivência em disputa de espaço. Quem anda mais devagar, fala com mais pausa ou precisa de tempo vira alvo da intolerância disfarçada de normalidade.
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A origem dessa rejeição é profunda: “Os jovens acham que não vão envelhecer. Mas vão”, lembra Drauzio. A impaciência com os outros é, muitas vezes, medo de olhar para o próprio futuro.
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Vivemos em uma cultura que valoriza juventude, agilidade e aparência. Tudo o que o envelhecimento contraria vira sinônimo de fracasso — ou motivo para ser ignorado.
Mas ao negar o envelhecimento, negamos também a sabedoria, a escuta, o tempo vivido. E empobrecemos as relações, afastando as gerações umas das outras.
“Vamos ter que nos preparar para viver numa sociedade mais velha”, alerta Drauzio. Com o aumento da longevidade, o Brasil precisa aprender a incluir — não apenas tolerar — seus idosos.
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Isso passa por rever hábitos, mudar a linguagem, respeitar o tempo do outro. Significa também reconhecer que o valor de uma pessoa não está na velocidade com que ela anda ou fala.
Cuidar melhor dos idosos é cuidar do nosso futuro. O preconceito que hoje se manifesta na impaciência voltará para quem o pratica — só que de outro lado.