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Cotidiano

Papo de Domingo: ‘Se não for bem planejada, não será bem executada’

O comandante da PM na Região, coronel Ricardo Ferreira de Jesus, fala sobre os detalhes da Operação Verão

Publicado em 03/01/2016 às 10:30

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Coronel PM Ricardo Ferreira de Jesus falou ao DL sobre a Operação Verão / Matheus Tagé/DL

A Operação Verão, realizada pela Polícia Militar (PM), conta, nesta temporada, com o maior efetivo de policiais desde a sua criação em 1988. Ao todo, são 2.182 agentes de diversos locais do Estado de São Paulo distribuídos entre 12 municípios – os nove da Baixada Santista e três no Vale do Ribeira - com a missão de complementar o patrulhamento de pelo menos 259 quilômetros de praias e das cidades que têm, durante a temporada, a sua população aumentada.

Em uma pasta, o coronel PM Ricardo Ferreira de Jesus, comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar do Interior (6ºBPMI), guarda todos os documentos pertinentes a organização da operação desta temporada.

Entre eles, ofícios de quatro prefeituras (Cananeia, Iguape, Ilha Comprida e Cubatão) que manifestaram a impossibilidade de convênio devido a “difícil situação econômica”. Na parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, os executivos municipais ficam com a responsabilidade de alojar e fornecer alimentação aos policiais.

Nesta entrevista ao Diário do Litoral, o comandante da PM aborda detalhes e expectativas da Operação Verão 2015/2016, iniciada no último dia 18.

Diário do Litoral - Qual é a expectativa para a Operação Verão desta temporada?
Coronel Ricardo de Jesus -
A expectativa é de muito trabalho e de fazer o melhor possível. Está no meu compromisso pessoal e institucional de procurar fazer o melhor possível e aplicar todos os recursos disponíveis, efetivo e viaturas, na atividade de prevenção e para atender melhor a população. Estamos atentos realmente a tudo que tem acontecido. Neste período é muito propenso que os criminosos migrem de outra região para cá achando que o litoral é melhor, mas posso dizer que a criminalidade vai encontrar policiais militares - usando a expressão - ‘osso duro de roer’, porque o pessoal tem trabalhado mesmo. Tenho passado nos batalhões e estimulado os comandantes em ver o policial abordando.

DL – Qual é o perfil do crime na Região?
Coronel Ricardo de Jesus –
Ele varia de cidade para cidade. No momento de temporada tem uma tendência de haver uma evolução dos roubos e furtos. Os crimes patrimoniais.

DL - Quais os municípios que merecem mais atenção?
Coronel Ricardo de Jesus -
Guarujá, Santos, Cubatão, São Vicente e Praia Grande. Hoje nos preocupamos muito, também, com Peruíbe e Itanhaém, onde a gente tem percebido o aumento de algumas ocorrências.

DL - Praia Grande registrou, durante a madrugada de Natal, dois latrocínios. Há alguma estratégia específica para o município?
Coronel Ricardo de Jesus -
Praia Grande tem 395 policiais, que já reforçam para o comandante do batalhão de dobrar as escalas já existentes lá. Teremos bloqueio no trânsito. É comum recebermos reforço, além do policiamento de verão, de policiais do Choque e da Rota de unidades da Capital. Nós indicamos que todo o reforço de apoio externo que vier possa ser direcionado para Praia Grande. Sobre esse evento, faço questão de dizer que o primeiro foi uma fatalidade. O segundo evento, e até provando que não houve, em relação a ele, uma desatenção nossa, de imediato, a partir do primeiro latrocínio eu quis saber qual foi o comportamento das nossas viaturas. Pedi um levantamento, por meio do sistema inteligente nosso, do GPS da viatura. (Ele mostra à Reportagem o mapa). A viatura passa e dois minutos depois tem a ação criminosa. Nós tínhamos o policiamento ali. Estavam trabalhando e atuando.

DL - Há informação de que algumas prefeituras não estariam dando apoio à Operação Verão desta temporada. Isso procede?
Coronel Ricardo de Jesus -
No total de 12 cidades que estão recebendo reforço no policiamento, oito assinaram o convênio com a Secretaria de Segurança Pública. Por meio do convênio forma-se uma parceria com obrigações. A obrigação do Estado é prover o reforço de policiamento nas 12 cidades que vão participar da Operação Verão. Onze delas têm orla de praia. Ao mesmo tempo, esse município que recebe o reforço, tem uma coparticipação fornecendo o alojamento e alimentação a esses policiais militares. Visitei o Vale do Ribeira, no começo do ano, justamente na tentativa de estimular as prefeituras de lá, que já não vinham instrumentalizando esse convênio. Obtive como resposta que o reforço do policiamento era importante para eles, mas a condição de não nos apoiar foi formalizada. Tenho hoje quatro ofícios dos executivos municipais dizendo que não têm condições de colaborar por questão econômica.

DL – Essas quatro cidades estão na região do Vale do Ribeira?
Coronel Ricardo de Jesus -
Três no Vale do Ribeira (Cananeia, Iguape e Ilha Comprida) e Cubatão, na Baixada Santista. Criou um impasse para gente, porque eu precisava acomodar esses policiais. Ficou o problema na nossa mão. A solução seria alojá-los em outras cidades. As outras cidades pagariam alimentação e alojamento, mas eles não trabalhariam na própria cidade. Diante dessa dificuldade, e ante a formalização documental dos municípios declararem que não poderiam nos apoiar, eu não poderia, depois da estratégia montada, deixar de ter o reforço policial. No ofício enviado por Cubatão, eles citam que nem seria possível implantar a Operação Verão no município. Eu falei: vamos encontrar alternativa.

DL – E Cubatão hoje é um dos municípios que tem situação crítica, por conta das ocorrências nas estradas, e pela primeira vez é integrada à operação.
Coronel Ricardo de Jesus -
Mais crítico e que houve uma constante reinvindicação. De um lado quero falar que o relacionamento da Polícia Militar com a senhora prefeita de Cubatão é perfeito. É um relacionamento muito bom e positivo, como todas as outras prefeituras. O que nós falamos nesse momento é que fiz todas as gestões necessárias ao comando da polícia militar para que nós tivéssemos o reforço de policiamento, inclusive em Cubatão. Como alternativa encontramos umas casas da Emae, que é a Empresa de Águas e Esgoto da Usina de Henry Borden. Pedimos autorização para o Estado, mas não era a responsabilidade, e os colocamos ali. Alimentação conseguimos por meio da Ciesp Cubatão, isso é um exemplo de parceria que é formada, o fornecimento de 40 cafés da manhã, 40 almoços e 40 jantares. Como é um anseio da sociedade civil organizada para atender, esse foi o caminho que nós tivemos ai.

DL - Qual foi a solução encontrada nas outras três cidades do Vale do Ribeira?
Coronel Ricardo de Jesus
- Nas outras cidades tive que recorrer a uma postura de licitar a acomodação desses policiais militares para cada cidade, e que é uma dificuldade em licitar. Primeiro ao comprometimento de recursos de custeio do Estado. Quando a gente licita eu tenho que pegar um ente privado que vai participar. Impossibilita, muitas vezes, até o aumento do efetivo para aquela cidade. Nessas cidades, o orçamento saiu da própria polícia.

DL - Dentro das dificuldades que vocês têm em tocar essa operação todos os anos, quais as principais?
Coronel Ricardo de Jesus -
Todo o planejamento tratado é nunca fazer menos do que foi feito no ano anterior. Assim que acaba uma Operação Verão já começamos a planejar a outra. O que começamos a planejar? Primeiro pensamento: os convênios. Havendo o convênio assinado já sei que vai ter o suporte legal de ter a condição de acomodação. A partir do momento que tem a condição de acomodação eu consigo sugerir para o comando da PM o efetivo que a gente precisa. Não adianta falar que quero ter cinco mil homens se eu não tenho como abrigar e alimentar. A partir desse dimensionamento eu sugiro o aumento efetivo. O aumento do efetivo implica no aumento dos meios equipamentos que vem para cá também. Preciso ver a capacidade da corporação de prover esses equipamentos.

DL – Como é feito esse planejamento?
Coronel Ricardo de Jesus -
Essa é a terceira vez que estou no comando e que participo do planejamento da operação. É fácil planejar. A gente trata na mesa. Reuniões desde fevereiro. Na pasta de planejamento tenho os indicadores dos anos anteriores e a evolução em gráfico. Nós criamos essa metodologia de trabalho. A gente estabelece um cronograma de atividades e começamos a seguir fiel o cumprimento. A Operação Verão é a maior operação sistemática e sistêmica que a Polícia Militar tem. Se ela não for bem planejada, não será bem executada. Procuramos o melhor nível de planejamento para que nós tenhamos um maior nível de padrão de execução. E ainda temos, além de tudo isso, algumas variáveis. Este ano, por exemplo, fizemos um acompanhamento econômico do país e já projetávamos que teríamos dificuldades lá no final. Então, para que não ocorresse, qual foi a alternativa? Antecipar todas as providências, inclusive todas as licitações pertinentes que nos cabe. Um único policial militar que aumente, que seja acrescido na operação, todos os custos diretos e indiretos vão aumentar também.

DL – O senhor fala muito em parcerias. Fazer parcerias é uma das suas características à frente do comando da PM?
Coronel Ricardo de Jesus -
Formar parcerias com a comunidade sim. Parcerias com a comunidade e a sociedade civil organizada. Constantemente a gente está recebendo ideias. E eu gosto de receber ideias. Analisamos no ponto de vista legal das nossas atividades e se for algo para agregar ao que nós fazemos e atender aos anseios da comunidade é prontamente posto em prática. Temos exemplo de parceria feita com alunos do Senai na reforma do prédio do Baep. A gente transformou o prédio do Baep em um laboratório. O TCC deles foi uma empresa virtual, que nós contratamos e tínhamos um problema que era colocar a rede do Baep para funcionar. Eles encamparam a ideia. Na realidade já tinham feito, mas foi como se nós tivéssemos contratado. Isso estimulou parceria futuras. Já está aberto o protocolo de intenções. Toda essa interação é uma das ­características da polícia ­comunitária. A polícia comunitária um dos pilares que sustenta a atividade da PM e é calcada na gestão pela qualidade, nos direitos humanos e no policiamento comunitário.

Centro de Operações da PM (Copom) é considerado o coração da Operação Verão

As informações que municiam a Operação Verão são originadas no Centro de Operações da PM (Copom). O setor é considerado pelo coronel Ricardo Ferreira de Jesus, comandante do 6° BPMI, o coração da atividade. Nele, os policiais recebem e repassam os chamados e fazem o monitoramento de imagens.

“Eu consigo melhorar o padrão do policiamento quanto mais informação eu tiver. Informação de estatística criminal, da população, da imprensa, dos Consegs. A gente recebe informação e devolve informação para o policial militar. O Copom recebe a informação da população, processa e transmite. Se não tiver habilidade para receber a informação e depois repassá-la ao ponto mais extremo, que é o policial, eu posso matar o policial e não atender a população”, explicou o comandante.

Antes do início da Operação Verão, no último dia 18, o Copom recebia, em média, seis mil ligações por dia. Agora, a média diária é de oito mil chamados. Devido a importância do setor, os cuidados com o sistema são constantes.

“Se o sistema não funcionar 24 horas por dia a informação não vai chegar. O Copom é o coração. O coração faz o que? Recebe o sangue e bombeia para resto do corpo. Se o coração parar você parou. O dia que o Copom parar, a Operação Verão para. Não sei quantos dias a gente vai resistir se isso acontecer. Por isso, ele não pode parar. Tudo foi testado. Tudo tem que estar funcionando 100%”, destacou o coronel.

Na virada do ano, o sistema contou com uma nova parceria. Imagens da orla de Santos, captadas por um site da região, foram disponibilizadas para a Polícia Militar e estão auxiliando no monitoramento. Segundo o comandante da PM, o novo recurso agregará aos já disponíveis. “É uma parceria livre. Não há nenhum comprometimento de recursos públicos. Estamos recebendo as imagens dele. A partir da câmera dele, a gente consegue ver toda a orla da praia, e, inclusive, a praia do Góes, também conhecida como Pouca Farinha, que tem tráfego de embarcações que praticam roubos no Porto”.

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