Cotidiano
Pesquisa mostra que apenas 9% das partículas ficam no estuário, enquanto maior parte segue para o mar aberto e alcança outras áreas da costa
Maior parte dos microplásticos presentes no estuário de Santos não permanece nas praias ou margens da cidade / Divulgação/PMS
Continua depois da publicidade
A maior parte dos microplásticos presentes no estuário de Santos não permanece nas praias ou margens da cidade, mas segue em direção ao mar aberto, aponta um estudo do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Segundo a pesquisa, publicada nesta sexta-feira (28) na revista Ocean and Coastal Research, apenas 9% das partículas ficam retidas no fundo ou nas margens do estuário. O restante permanece suspenso na coluna d'água (68%) ou é transportado para o oceano (23%).
Continua depois da publicidade
Uma vez em mar aberto, os fragmentos plásticos alcançam rapidamente a corrente marítima brasileira, podendo se deslocar ao longo da costa e ampliar o alcance da contaminação.
Veja também: Luz misteriosa surge no mar de Santos durante a madrugada e intriga pescadores
Continua depois da publicidade
O oceanógrafo Arian Dialectaquiz, um dos autores do estudo, explica que partículas suspensas têm maior probabilidade de serem ingeridas por organismos marinhos. "Elas estão em constante movimento e degradação, com maior chance de entrar na cadeia alimentar", afirma.
Os microplásticos fragmentos com menos de 5 milímetros chegam ao estuário principalmente por meio de resíduos urbanos carregados pelos canais de drenagem, além de atividades portuárias, pesca e navegação, que contribuem com a degradação de redes, cordas e boias.
A geografia da região, cercada por Guarujá e São Vicente, favorece ainda o acúmulo temporário desses materiais na baía.
Continua depois da publicidade
O comportamento das partículas, porém, varia de acordo com as condições do mar. Durante ressacas ou eventos de elevação extrema do nível do mar, elas são empurradas para a costa, acumulando-se nas praias, canais urbanos e áreas como a face da Ilha Porchat voltada para São Vicente.
Veja também: Ruídos misteriosos no mar e previsão de taróloga fazem alerta climático a Santos
Em períodos de mar menos agitado, tendem a permanecer dispersas na coluna d'água, facilitando o transporte ao oceano onde podem ser consumidas por esponjas, moluscos e pequenos peixes. Depois de ingeridas, alertam os pesquisadores, dificilmente se degradam.
Continua depois da publicidade
O Arquipélago de Alcatrazes, importante refúgio de vida silvestre a cerca de 50 quilômetros da costa, está entre os possíveis destinos das partículas exportadas pelo estuário.
"É provável que esses microplásticos cheguem rapidamente às ilhas vizinhas, algo que pesquisas futuras devem confirmar", diz Dialectaquiz.
Para identificar o percurso das partículas, o estudo combinou três modelos computacionais: um hidrodinâmico, que simula as correntes; um de ondas de superfície; e outro de deriva de partículas, capaz de acompanhar virtualmente o deslocamento de milhares de microfragmentos.
Continua depois da publicidade
Os resultados estão alinhados com levantamentos anteriores. Em 2023, um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado na revista Science of the Total Environment, mostrou que o estuário de Santos está entre os mais contaminados por microplásticos no mundo especialmente na região da travessia de balsas entre Santos e Guarujá.
Ostras e mexilhões analisados naquele trecho apresentaram, em média, de 12 a 16 partículas por grama de tecido e pior estado nutricional.
Maior porto da América Latina, Santos recebe resíduos industriais e domésticos de diversos municípios vizinhos, o que intensifica a carga de poluentes na água.
Continua depois da publicidade
Para Dialectaquiz, o cenário exige ações urgentes. "O próximo passo é entender quais áreas são mais afetadas e quais condições favorecem a poluição para desenvolver soluções direcionadas", conclui.