Cotidiano

Lama no fundo de lago revela 100 anos de poluição silenciosa em São Paulo

Cilindros de lama retirados por mergulhadores mostraram que o lago, represado em 1893, sofreu diferentes impactos com o tempo

Luna Almeida

Publicado em 01/05/2025 às 19:09

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A análise utilizou uma técnica conhecida como paleolimnologia / Divulgação/Governo de SP

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No fundo do Lago das Garças, na cidade de São Paulo, repousa um extenso registro da transformação ambiental da maior metrópole do país. 

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Pesquisadores revelaram que os sedimentos acumulados nesse corpo d’água guardam sinais claros de um século de poluição, especialmente por metais pesados, revelando as consequências da industrialização e do crescimento urbano desordenado.

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A análise, conduzida no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, utilizou uma técnica conhecida como paleolimnologia, capaz de examinar as camadas de lama como se fossem páginas de um livro. 

Cada camada preserva vestígios do que ocorreu em sua época, oferecendo um retrato fiel das mudanças ambientais ao longo do tempo.

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Camadas contam a história da contaminação

Cilindros de lama retirados por mergulhadores mostraram que o lago, represado em 1893, sofreu diferentes impactos conforme a cidade crescia. 

Até 1950, os níveis de poluição eram baixos. Esse período reflete um momento em que São Paulo ainda era pouco industrializada e o lago era usado para abastecimento de água.

Com o avanço urbano, especialmente entre 1950 e 1975, os níveis de poluentes começaram a subir. 

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A expansão das indústrias no ABC Paulista, o crescimento desordenado da cidade e a intensificação das atividades no Aeroporto de Congonhas contribuíram para essa elevação. 

Já entre 1975 e 2000, os índices de metais como chumbo, níquel, cobre e ferro atingiram os patamares mais altos, impulsionados pela construção da Rodovia dos Imigrantes e pelo aumento do tráfego de veículos.

Mudanças industriais

O estudo identificou oito metais pesados nos sedimentos: cobalto, cromo, cobre, ferro, manganês, níquel, chumbo e zinco. O acúmulo dessas substâncias está diretamente ligado à ação humana, principalmente a atividades industriais e ao crescimento urbano.

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Um marco importante foi a queda nos níveis de chumbo após 1986, ano em que o Brasil proibiu o uso de gasolina com chumbo. 

A redução é atribuída à implementação do Programa de Controle de Emissões de Veículos (Proconve), que demonstrou como políticas públicas podem gerar efeitos concretos na qualidade ambiental.

Ainda assim, nos anos 1990, outros metais continuaram a crescer. Isso pode ter relação com alterações no perfil produtivo de indústrias da região, como a mudança de uma siderúrgica próxima do lago que passou a produzir artefatos metálicos.

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Proteção ambiental exige ação integrada

Os pesquisadores alertam que áreas de conservação, como o parque onde está localizado o Lago das Garças, não estão imunes à poluição. 

Mesmo cercadas, essas regiões sofrem com a contaminação do ar, da água e do solo proveniente do entorno urbano. Parte dessa poluição, inclusive, já está permanentemente registrada no fundo dos lagos e rios.

Esse acúmulo, chamado de passivo ambiental, representa um desafio para a recuperação dos ecossistemas. Para restaurar esses ambientes, é essencial entender como eram antes da poluição. 

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As descobertas reforçam a importância de ações mais rigorosas para o controle de poluentes e a necessidade de planejamento ambiental que considere não apenas a preservação futura, mas também a remediação dos danos já causados.

A história enterrada no fundo de um lago paulistano serve de alerta: as marcas da negligência ambiental permanecem visíveis por muito tempo. Conhecer esse passado é essencial para construir um futuro mais sustentável.

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