Cotidiano

Famoso bichinho que faz furos na areia volta a desaparecer e acende alerta global

Desaparecimento dos tatuís acende sinal de alerta sobre o impacto humano nas praias brasileiras

Luna Almeida

Publicado em 21/07/2025 às 20:01

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Os tatuís passam por um longo período de desenvolvimento em mar aberto antes de retornar à areia / Mariana Terossi/UFRGS

Continua depois da publicidade

A redução na presença de tatuís nas praias brasileiras voltou a preocupar a comunidade científica. Pesquisadores do Rio de Janeiro observam uma nova fase de desaparecimento desses pequenos crustáceos, fenômeno que já vem sendo registrado em diversas partes do mundo, incluindo Estados Unidos, Índia, Irã, México e Uruguai.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Com papel essencial no ecossistema costeiro, os tatuís são considerados bioindicadores da qualidade ambiental. Sua sensibilidade a impactos causados por atividades humanas e variações naturais do ambiente os torna um termômetro da saúde das praias arenosas.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Anfíbio sagrado, que se regenera, pode desaparecer e agora une cientistas e indígenas

• Famosa praia do litoral está desaparecendo por conta da 'erosão costeira'

• Famoso bichinho que faz furos na areia pode indicar qualidade das praias

Alerta aceso: queda populacional e impactos humanos

O sumiço dos tatuís, da espécie Emerita brasiliensis, não é novidade. Ao longo das últimas décadas, os registros de sua presença vêm oscilando, com períodos de recuperação seguidos por novos desaparecimentos. 

Recentemente, pesquisadores de instituições como UERJ, UNIRIO e Fiocruz, com apoio da FAPERJ, revisaram mais de 60 estudos sobre o tema. 

Continua depois da publicidade

O trabalho apontou seis principais fatores antrópicos como causadores do declínio: poluição por toxinas, presença de microplásticos, impacto direto sobre a areia (como pisoteio), aumento da temperatura da água, alterações na descarga de água doce e obras de engenharia na faixa litorânea.

Esses fatores contribuem para o desaparecimento não apenas no Brasil, mas também em diversos países. A situação reforça a necessidade de entender se as ausências são parte de ciclos naturais ou resultado direto da degradação ambiental.

Ciclo de vida e vulnerabilidade

Os tatuís passam por um longo período de desenvolvimento em mar aberto antes de retornar à areia, onde vivem enterrados. Nessa fase inicial, as larvas são transportadas por correntes e marés, o que cria uma dinâmica ecológica conhecida como metapopulação. 

Continua depois da publicidade

Algumas praias funcionam como fontes, com condições ideais para reprodução e crescimento, enquanto outras são sumidouros, locais onde os tatuís chegam, mas não conseguem se estabelecer.

Mesmo com alta fecundidade – uma única fêmea pode gerar milhares de ovos –, a sobrevivência até a fase adulta é mínima. Estima-se que menos de 1% dos ovos gerados na Praia de Fora e na Restinga da Marambaia resultem em indivíduos adultos, devido a perdas naturais e à ação humana.

Verão: temporada crítica para os tatuís

O ciclo de chegada dos jovens tatuís às praias acontece majoritariamente no verão, entre dezembro e março. Coincidentemente, é nesse período que as praias recebem mais turistas. 

Continua depois da publicidade

Essa sobreposição aumenta a vulnerabilidade da espécie, já que os juvenis ainda não possuem carapaça resistente e estão mais expostos a impactos físicos causados pela presença humana, como o pisoteio e práticas de limpeza intensiva.

Nas praias mais impactadas, como Copacabana e Praia Vermelha, os tatuís quase não aparecem ou são vistos apenas nesse estágio inicial, sem conseguirem completar seu ciclo de vida.

Áreas de proteção ajudam na conservação

Diferente dessas praias urbanas, áreas com menor interferência humana, como a Praia de Fora e a Restinga da Marambaia, ambas sob controle militar, funcionam como refúgios. 

Continua depois da publicidade

Nesses locais, é possível encontrar tatuís durante todo o ano e em diversos estágios de desenvolvimento. Estudos de longo prazo têm mostrado que essas regiões ainda mantêm populações mais estáveis, o que as torna essenciais para a manutenção da espécie.

O futuro dos tatuís e das praias

Os pesquisadores seguem avaliando a conectividade entre diferentes praias do Rio de Janeiro para entender melhor como as metapopulações funcionam e qual é o real nível de ameaça à espécie. 

O objetivo é estabelecer diretrizes de conservação e manejo, que levem em conta tanto as condições naturais quanto os efeitos da ação humana.

Continua depois da publicidade

Preservar os tatuís significa proteger uma engrenagem fundamental do ecossistema costeiro. A sua presença ou ausência revela muito mais do que um simples dado biológico: é um alerta sobre o estado de saúde das praias e sobre a urgência em repensar o uso que fazemos delas.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software