Os tatuís passam por um longo período de desenvolvimento em mar aberto antes de retornar à areia / Mariana Terossi/UFRGS
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A redução na presença de tatuís nas praias brasileiras voltou a preocupar a comunidade científica. Pesquisadores do Rio de Janeiro observam uma nova fase de desaparecimento desses pequenos crustáceos, fenômeno que já vem sendo registrado em diversas partes do mundo, incluindo Estados Unidos, Índia, Irã, México e Uruguai.
Com papel essencial no ecossistema costeiro, os tatuís são considerados bioindicadores da qualidade ambiental. Sua sensibilidade a impactos causados por atividades humanas e variações naturais do ambiente os torna um termômetro da saúde das praias arenosas.
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O sumiço dos tatuís, da espécie Emerita brasiliensis, não é novidade. Ao longo das últimas décadas, os registros de sua presença vêm oscilando, com períodos de recuperação seguidos por novos desaparecimentos.
Recentemente, pesquisadores de instituições como UERJ, UNIRIO e Fiocruz, com apoio da FAPERJ, revisaram mais de 60 estudos sobre o tema.
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O trabalho apontou seis principais fatores antrópicos como causadores do declínio: poluição por toxinas, presença de microplásticos, impacto direto sobre a areia (como pisoteio), aumento da temperatura da água, alterações na descarga de água doce e obras de engenharia na faixa litorânea.
Esses fatores contribuem para o desaparecimento não apenas no Brasil, mas também em diversos países. A situação reforça a necessidade de entender se as ausências são parte de ciclos naturais ou resultado direto da degradação ambiental.
Os tatuís passam por um longo período de desenvolvimento em mar aberto antes de retornar à areia, onde vivem enterrados. Nessa fase inicial, as larvas são transportadas por correntes e marés, o que cria uma dinâmica ecológica conhecida como metapopulação.
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Algumas praias funcionam como fontes, com condições ideais para reprodução e crescimento, enquanto outras são sumidouros, locais onde os tatuís chegam, mas não conseguem se estabelecer.
Mesmo com alta fecundidade – uma única fêmea pode gerar milhares de ovos –, a sobrevivência até a fase adulta é mínima. Estima-se que menos de 1% dos ovos gerados na Praia de Fora e na Restinga da Marambaia resultem em indivíduos adultos, devido a perdas naturais e à ação humana.
O ciclo de chegada dos jovens tatuís às praias acontece majoritariamente no verão, entre dezembro e março. Coincidentemente, é nesse período que as praias recebem mais turistas.
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Essa sobreposição aumenta a vulnerabilidade da espécie, já que os juvenis ainda não possuem carapaça resistente e estão mais expostos a impactos físicos causados pela presença humana, como o pisoteio e práticas de limpeza intensiva.
Nas praias mais impactadas, como Copacabana e Praia Vermelha, os tatuís quase não aparecem ou são vistos apenas nesse estágio inicial, sem conseguirem completar seu ciclo de vida.
Diferente dessas praias urbanas, áreas com menor interferência humana, como a Praia de Fora e a Restinga da Marambaia, ambas sob controle militar, funcionam como refúgios.
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Nesses locais, é possível encontrar tatuís durante todo o ano e em diversos estágios de desenvolvimento. Estudos de longo prazo têm mostrado que essas regiões ainda mantêm populações mais estáveis, o que as torna essenciais para a manutenção da espécie.
Os pesquisadores seguem avaliando a conectividade entre diferentes praias do Rio de Janeiro para entender melhor como as metapopulações funcionam e qual é o real nível de ameaça à espécie.
O objetivo é estabelecer diretrizes de conservação e manejo, que levem em conta tanto as condições naturais quanto os efeitos da ação humana.
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Preservar os tatuís significa proteger uma engrenagem fundamental do ecossistema costeiro. A sua presença ou ausência revela muito mais do que um simples dado biológico: é um alerta sobre o estado de saúde das praias e sobre a urgência em repensar o uso que fazemos delas.