Cotidiano

Doença da Vaca Louca: entenda o que acontece quando o corpo se volta contra si mesmo

A doença da vaca louca é uma doença rara neurodegenerativa que causa lesões cerebrais graduais e definitivas, provocando sintomas como perda de memória, dificuldade para pensar e tremores

Ana Clara Durazzo

Publicado em 03/07/2025 às 12:50

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A doença da vaca louca é uma doença rara neurodegenerativa que causa lesões cerebrais graduais e definitivas, provocando sintomas como perda de memória, dificuldade para pensar e tremores / Freepik

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Você já ouviu falar na "doença da vaca-louca"? Embora o termo não seja tão comum hoje em dia, ele ganhou destaque mundial entre os anos 1980 e 1990, durante um surto no Reino Unido.

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A enfermidade afetava o comportamento dos animais, que se tornavam agitados e imprevisíveis, o que deu origem ao nome popular. O que mais preocupava, no entanto, era o risco de transmissão para humanos por meio do consumo de carne contaminada.

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A doença da vaca louca é uma doença rara neurodegenerativa que causa lesões cerebrais graduais e definitivas, provocando sintomas como perda de memória, dificuldade para pensar e tremores, por exemplo.

Conhecida cientificamente como Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJv), a doença é rara de acontecer em pessoas, no entanto o consumo de carne infectada de bovinos contaminados por príons pode levar ao desenvolvimento da doença em humanos.

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As chamadas doenças priônicas afetam o sistema nervoso e têm características parecidas com outras doenças graves, como Alzheimer e Parkinson. Mas um ponto as torna ainda mais preocupantes: elas são transmissíveis. E o mais surpreendente é que não são causadas por vírus ou bactérias, mas por uma proteína do próprio corpo que passa a agir de forma errada.

Essa proteína foi chamada de príon, uma combinação das palavras “proteína” e “infecciosa”. Quando ela muda de forma, consegue “convencer” outras proteínas a fazerem o mesmo, espalhando o problema.

A busca por respostas

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) querem entender exatamente como uma proteína normal se transforma em algo perigoso. O objetivo é descobrir como esse processo acontece e, no futuro, encontrar maneiras de evitá-lo.

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Em parceria com cientistas do Instituto Butantan e da Universidade de São Paulo (USP), o grupo publicou um estudo na revista RNA Biology com novas pistas. Eles descobriram que certas moléculas de RNA, aquelas que ajudam na produção de proteínas dentro das células,  podem participar da transformação do príon em sua forma nociva.

O que os testes mostraram

No laboratório, os cientistas usaram células cerebrais de camundongos para testar como o RNA interage com a proteína príon. Quando colocaram os dois juntos, a proteína começou a formar pequenos aglomerados, parecidos com os que aparecem no cérebro de pessoas com doenças priônicas. Esses aglomerados eram tóxicos para outras células e ainda incentivavam a criação de novos.

A equipe identificou que a maioria desses RNAs vem dos ribossomos, estruturas celulares que “leem” as instruções do DNA e produzem proteínas. Chamou atenção o fato de o RNA ribossômico (RNAr), o tipo mais comum no corpo, estar fortemente envolvido nesse processo.

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Mesmo quando os cientistas tentaram quebrar esse RNA com enzimas, algumas partes continuaram grudadas na proteína, mostrando que a ligação é forte e pode ter papel decisivo na mudança do príon.

A quantidade também importa

Os testes também mostraram que a quantidade de proteína em relação ao RNA faz diferença. Quando há pouca proteína, o resultado é uma mistura líquida e menos perigosa. Mas, se a concentração de proteína aumenta, surgem aglomerados mais duros e difíceis de reverter, e é aí que a doença se torna mais agressiva.

Em estudos anteriores, o grupo já havia visto que, com o tempo, essa mistura líquida pode virar um gel e depois endurecer, formando uma estrutura que o corpo não consegue desfazer. Essa transformação é essencial para que a proteína se torne infecciosa.

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Quando o corpo colabora sem querer

Outro ponto importante da pesquisa é a ideia de que o próprio sistema de defesa da célula pode facilitar a formação do príon. Em momentos de estresse, como febre, infecção ou falta de nutrientes, a célula cria estruturas chamadas "grânulos de estresse". Elas ajudam a economizar energia e proteger o que é essencial, mas, por terem muito RNA e proteínas, acabam se tornando um ambiente propício para que a proteína príon mude de forma e fique perigosa.

Essas descobertas mudam a forma como se vê o papel do RNA ribossômico. Ele não serve apenas para ajudar na produção de proteínas, mas também pode estar envolvido diretamente em processos que levam a doenças graves.

Um passo em direção a possíveis tratamentos

A pesquisa foi financiada por instituições como CNPq, FAPERJ, FAPESP, CAPES e a Fundação Butantan. Embora ainda falte muito para entender completamente essas doenças, os cientistas acreditam que essas descobertas poderão ajudar, no futuro, a criar tratamentos que impeçam a formação ou a propagação desses aglomerados tóxicos.

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Se o RNA ribossômico está no início do problema, ele também pode ser a chave para encontrar uma solução. Esse conhecimento pode abrir caminho para terapias que ajudem não só no combate às doenças priônicas, mas também a outras condições neurodegenerativas sem cura até hoje.

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