X

Cotidiano

Desativação de usina em Cubatão ameaça empregos na Região

Empresa pretende fechar áreas primárias nos próximos meses e demitir funcionários no início de 2016

Publicado em 30/10/2015 às 12:10

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Oito mil empregos diretos e indiretos ameaçados. Este é o saldo que prevê o Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista após a notícia de que a Usiminas irá desativar áreas primárias da Usina de Cubatão dentro dos próximos quatro meses. Segundo o presidente do sindicato, Florêncio Resende de Sá, a empresa comunicou a decisão de interromper as atividades da unidade apenas hoje, mas sem detalhar prazos e quantidade total. O sindicalista afirma que a siderúrgica gera 10 mil empregos diretos e indiretos na Região. “30 mil pessoas serão afetadas direta e indiretamente  na Baixada com essas demissões”, afirmou ao DL.

A notícia pode ter surpreendido a população da Cidade e da Região, mas o sindicato e até a própria prefeita Marcia Rosa (PT) já havia profetizado o problema. “Essa medida da Usiminas prejudica diretamente toda a Baixada Santista. Precisamos nos unir para reverter esse quadro e manter os postos de trabalho onde hoje estão milhares de cidadãos de Cubatão e da Baixada Santista”, contesta a chefe do Executivo.

A previsão de demissões da empresa é mais discreta. Quatro mil desligamentos: dois mil diretos e, embora ainda esteja sendo mensurado, dois mil indiretos. “Este ajuste no quadro funcional deverá ocorrer com mais intensidade no início de 2016, acompanhando o cronograma de desligamento dos equipamentos da usina, que deverá ser concluído em três ou quatro meses”, esclareceu a empresa.

No comunicado enviado hoje à Comissão de Valores Mobiliados (CVM), a Usiminas afirmou que o processo de desativação envolve sinterizações, coquerias e altos fornos e que visa reposicionar a Usiminas em “um novo patamar de escala e competitividade, perante um contexto econômico de deterioração progressiva do mercado siderúrgico”.

A empresa anunciou um deficit de R$ 1,042 bilhão no terceiro trimestre do ano (Fotos: Arquivo/DL)

A Usina de Cubatão deixará de produzir placas, mas serão mantidas as atividades das linhas de laminação a quente e a frio, bem como as operações relacionadas a seu terminal portuário. A linha de laminação de chapas grossas continuará temporariamente suspensa. Hoje, cerca de 40% do aço bruto produzido pela Usiminas vem dessa unidade.

A empresa também anunciou ontem um prejuízo líquido de R$ 1,042 bilhão no terceiro trimestre do ano, ante perdas de R$ 24 milhões no mesmo período do ano passado, pior do que o esperado pelo mercado. Já a geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi negativa em R$ 65 milhões no período, ante um Ebitda positivo de R$ 357 milhões. Na prática, esse número no vermelho significa queima de caixa, o que coloca em xeque a sustentabilidade da empresa.

Justificativa

A decisão foi tomada diante da crise econômica no País e no mundo, seguindo problemas financeiros enfrentados pelo mercado do aço. Segundo a siderúrgica, em nível mundial, o excesso de capacidade produtiva de aço já é da ordem de 700 milhões de toneladas e os patamares de preço encontram-se depreciados, sem perspectivas de recuperação consistente. Já no plano doméstico, números preliminares do Instituto Aço Brasil indicam queda no consumo aparente de aços planos de 14% neste ano em relação a 2014 e de 22% em relação a 2013, refletindo a atual crise econômica e a perda de participação da indústria de transformação no PIB brasileiro. “Com isso, a siderurgia brasileira tem operado com um nível de capacidade instalada da ordem de menos de 70%. Somam-se os elevados custos de produção e a falta de isonomia competitiva frente à concorrência desleal do aço importado, notadamente da China”, justifica.

Segundo o presidente da Usiminas, Rômel Erwin de Souza, estes fatores têm influenciado os resultados da empresa, o que exigiu a reconfiguração de suas operações. “O cenário mundial e doméstico para a siderurgia foi determinante para reposicionarmos a Usiminas em um patamar de escala mais viável à sua competitividade no curto e médio prazos”, afirma.

A Usina de Cubatão já havia tido um de seus dois altos-fornos desligados em maio deste ano, bem como seu laminador de chapas grossas em setembro. No entanto, os estudos da Usiminas apontaram que a alternativa mais viável, no atual cenário, era a paralisação das áreas primárias da unidade.

Segundo sindicato da categoria, usina de Cubatão gera 10 mil postos de trabalho diretos e indiretos

“A Usiminas tem consciência do impacto social desta medida sobre a empregabilidade na Região da Baixada Santista. Porém, ressalta que diante dos últimos resultados financeiros, a desativação foi necessária para a própria sustentabilidade da Usiminas como empresa e, como tal, movimentadora de uma cadeia produtiva estratégica para a economia, como a indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, construção civil, linha branca, naval, óleo e gás, distribuidores, entre outros”, complementa.

Prefeita busca apoio em Brasília para reverter decisão

Assim que tomou conhecimento de que a Usiminas irá suspender a produção de aço na sua planta em Cubatão, a prefeita Marcia Rosa cobrou do diretor-presidente da companhia, Rômel Erwin de Souza, explicações sobre essa decisão, além de solicitar garantias da manutenção dos empregos dos funcionários diretos e terceirizados da siderúrgica.

Marcia Rosa alertou o presidente sobre os fortes impactos negativos que essa paralisação causará na economia não só de Cubatão, mas de toda a região e informou que não poupará esforços para reverter essa situação.

A prefeita também já solicitou uma audiência com o ministro Ricardo Berzoini, titular da Secretaria de Governo da Presidência da República e responsável pela articulação política da presidente Dilma Rousseff. O objetivo é buscar o apoio do Governo Federal, ministros e demais lideranças políticas para reverter a decisão da Usiminas de suspender a produção do aço em Cubatão.

 Prefeita Marcia Rosa tenta reverter decisão da empresa pedindo ajuda ao Governo Federal (Foto: Luiz Torres/DL)

Impactos na arrecadação

Marcia classificou a decisão da Usiminas em desativar suas unidades de produção como “extrema” e “muito preocupante”. Atualmente, a empresa é uma das maiores contribuintes do Município em ICMS, IPTU e demais tributos, e ao paralisar a produção irá afetar a cidade diretamente e de forma expressiva.

A chefe do Executivo determinou que técnicos das secretarias de Finanças e Planejamento façam um estudo para estimar os impactos desta medida tomada pela companhia siderúrgica nas contas do Município. “Ainda não está muito claro qual é a real intenção da Usiminas, mas o que é certo é que a paralisação da produção irá afetar profundamente nossa arrecadação, que já vem sofrendo tombos nos últimos anos e se agravou com a crise que atinge a economia nacional neste momento. Mas posso garantir que iremos trabalhar duro para que a população sofra o menor impacto possível desta situação”, explicou a prefeita.

Para a prefeita, essa desativação representa um duro golpe não só no Polo Industrial cubatense, mas em todo o Brasil, por conta da importância que a siderúrgica tem para a economia nacional.

Crise preocupa terceirizados

A desativação das áreas primárias da Usiminas preocupa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial (Sintracomos), Macaé Marcos Braz de Oliveira.

A entidade representa cerca de três mil operários terceirizados de 18 empreiteiras que prestam serviços à siderúrgica. Para o sindicalista, “são três mil famílias, perto de 10 mil pessoas, preocupadas com a possibilidade de desemprego e comprometimento de seu futuro imediato”. Segundo ele, há rumores ainda de que a empresa poderia transformar sua atividade industrial em portuária.

O Sintracomos terminou, recentemente, após 26 dias de greve, uma campanha salarial vitoriosa. Com data-base em agosto, a categoria conseguiu correção salarial de 10%, com pagamento de 16 dias de paralisação e compensação de dez.

Os operários garantiram ainda uma Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) de R$ 1.100 e elevaram o tíquete-alimentação de R$ 150 para R$ 165, embora façam as refeições no trabalho. Para Macaé, “foi um resultado bastante positivo”.

“Infelizmente, nos deparamos agora com essa notícia bombástica da Usiminas”, diz o sindicalista, que marcará uma reunião de diretoria, para a próxima semana, a fim de debater o problema. Para ele, “o enfrentamento da crise tem que ser coletivo e não individual”.

Macaé defende ainda união de sindicatos e outros segmentos. “Não resolverá o Sintracomos adotar medidas próprias. Temos que pensar em bloco, inclusive com outros segmentos sociais, empresariais e políticos”, defende.

 

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Santos

Santos tem melhor temporada de cruzeiros em 12 anos, com mais de 1 milhão de passageiros

Foi a segunda melhor temporada da história, com aumento de mais de 13% em relação a 2022/2023

Santos

Despejo de lixo é diminuído por barreiras flutuantes no estuário de Santos

Mais do que interromper o despejo de resíduos sólidos no manguezal, outra frente da Operação Enrede é promover a educação ambiental na região

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter