14 de Outubro de 2024 • 04:40
O copiloto do voo 4U9525 da Germanwings Andreas Lubitz tinha pesadelos com acidentes de avião, reclamava da pressão, das condições de trabalho e do salário na companhia e planejava "fazer algo" que levaria todo o mundo a conhecer seu nome. As revelações foram feitas por sua ex-namorada Maria W., aeromoça da mesma empresa que por cinco meses também voou com o jovem em rotas pela Europa. Ela confirma que o acusado por derrubar o Airbus A320 e matar 150 pessoas na terça-feira tinha problemas psiquiátricos e fazia tratamento. Ele frequentou um clube de voo na região do acidente.
A entrevista foi concedida ao jornal sensacionalista alemão Bild. Maria, de 26 anos, disse ter se chocado com a informação do procurador da República de Marselha, na França, Brice Robin, que na quinta-feira acusou Lubitz de ter destruído o avião de forma deliberada. A jovem diz então ter se lembrado de uma conversa que lhe parecera banal com o ex-namorado. "Um dia eu vou fazer algo que vai mudar o sistema, e todo mundo conhecerá meu nome e se recordará", teria dito o copiloto.
Na visão de Maria, seu ex-namorado pode ter tomado a iniciativa de cometer o ato suicida, provocando a morte de outros 149 pessoas, "porque compreendera que, por causa de seus problemas de saúde, seu grande sonho de ser um empregado da Lufthansa, como capitão e piloto de voos de longa duração, era praticamente impossível". A jovem revelou ainda que Lubitz tinha pesadelos nos quais sonhava que estava caindo durante um voo. "À noite, ele se acordava e gritava: 'Nós estamos caindo!'", contou.
Além disso, o copiloto também demonstrava irritação com as condições de trabalho na Germanwings. "Nós sempre falamos muito do trabalho. Nessas horas, ele se tornava outra pessoa e ficava irritado sobre as condições de trabalho, da falta de dinheiro, do medo por seu contrato, da pressão excessiva", disse Maria.
Lubitz também teria demonstrado seus problemas psiquiátricos em discussões do casal, quando o jovem perdia o controle e gritava. "Estava cada vez mais claro que ele tinha um problema", relatou, explicando a razão do fim do relacionamento. "Ele era capaz de esconder dos outros o que realmente acontecia com ele", disse a aeromoça, lembrando que o copiloto "não falava muito de sua doença, apenas que ele seguia um tratamento psiquiátrico por causa dela".
Apesar das revelações, Maria diz que considerava Lubitz "gentil e aberto" no ambiente de trabalho e "muito doce" na vida privada. "Era alguém que precisava de amor", disse.
A ação deliberada de destruir o Airbus A320 foi revelada pelas gravações do Cockpit Voice Recorder (CVR), a caixa-preta que registra os sons da cabine, localizada em meio aos destroços, ao sul dos Alpes da França. O equipamento revelou que Lubitz teria se aproveitado de um momento de ausência do comandante na cabine para trancar a porta, impedindo o retorno do chefe do voo. Então teria programado o avião para perder altitude até o choque, segundo as investigações do procurador Brice Robin.
Buscas realizadas pela polícia da Alemanha em um apartamento do jovem, em Düsseldorf, e na casa de seus pais, em Montabaur, resultaram na apreensão de documentos médicos que revelaram que Lubitz não apenas tinha problemas psiquiátricos e passava por um tratamento, mas havia consultado pela última vez em 10 de março e tinha uma licença de saúde que determinava seu afastamento do trabalho, inclusive na terça-feira, dia do crash.
A companhia Germanwings disse não ter sido informada do atestado médico. Ainda assim, cresce na Europa a controvérsia sobre se a Lufthansa, a holding que controla a empresa low cost para a qual o jovem trabalhava, não teria sido relapsa no acompanhamento do estado de saúde mental de seu funcionário. A questão deve ser decisiva em uma provável disputa judicial com as famílias de vítimas do voo 9U9525.
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