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Cotidiano

Conheça os prós e contras de trabalhar em navio

Três santistas contam como é a rotina de quem atende hóspedes. Um dos problemas é lidar com vários chefes

Publicado em 29/04/2013 às 11:25

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Alegrias? Muitas. Tristezas? Idem. A rotina de quem trabalha em navio de cruzeiro é norteada pelos dois sentimentos. Que se intercalam. A bagagem dos tripulantes no retorno ao lar é repleta de experiências interessantes e paisagens exuberantes. Quem conversa com quem trabalhou em navio ouve uma certeza: todos trabalharam muito, quase sem folga, em alto-mar.

Para quem sonha com rotina a bordo, a fotógrafa santista Ge Agosti, de 35 anos, alerta que tem “muita agência picareta no Brasil que só quer tirar dinheiro com cursos que não servem para nada” e lembra que não se faz fortuna trabalhando em navios de cruzeiro.

Quanto ao lado positivo, Ge Agosti destaca ter conhecido o Principado de Monaco, Barcelona (Espanha) e Atenas (Grécia), e ter aprendido um pouco de outras culturas. Matar a saudade é complicado, diz a fotógrafa, se referindo aos custos de ligação internacional e de uso da internet.

 “Ninguém te conta que você vai morar em um espaço tão minúsculo que mal dá para você guardar sua mala”, revela a fotógrafa santista (foto em Veneza, Itália) (Foto: Divulgação)

Apesar de ter sentido saudade grande dos amigos, o também santista Cícero de Andrade, de 22 anos, cogita a ideia de fazer mais três ou até quatro contratos com empresas de navegação. “A parte mais difícil é se adaptar ao idioma e ao sotaque de cada país”.

Os nove meses, tempo de duração de uma temporada, resultam em novas amizades, relata Cícero. “Você acaba fazendo uma nova família dentro do navio. Isso também ocorre com alguns hópedez, fiz amizades principalmente com argentinas”.

As formas de como as pessoas chegam até o trabalho no navio variam muito. O estudante de Jornalismo Vinício Mancuso, de 22 anos, tinha intenção de fazer intercâmbio, mas não tinha recursos para tal finalidade. O trabalho em navio se transformou em oportunidade para, segundo ele, “ter uma experiência diferente, treinar idiomas, especialmente Inglês e Italiano, e juntar dinheiro”.

Vinício começou a trabalhar embarcado em novembro de 2011 e ficou pouco tempo, mas o suficiente para conhecer um pouco Buenos Aires (Argentina), Punta Del Este (Uruguai), além de Fortaleza, Ilhabela, Rio de Janeiro.

Segundo relata Vinício, entre as dificuldades, era normal ouvir tripulantes brasileiros reclamando da sujeira deixada por indianos e filipinos, depois das refeições. “Além da carga horária, há uma certa pressão por parte dos chefes”.
Trabalhar no mar não foi uma rotina de sonhos para Vinício. “Imagine trabalhar no meio do mar por pelo menos dez horas por dia, tendo de mostrar eficiência no serviço de hotelaria, com uns três chefes, todos de nacionalidades diferentes, e receber um salário que não é nada demais”.

A adaptação ao tratamento das chefias, concorda Cícero de Andrade, chega a ser uma das maiores dificuldades do trabalho em navio. “O dinheiro vale a pena, sim”, avalia ele, diferente de Vinício.

Segundo Vinício, trabalhar em navios é uma ótima maneira de aperfeiçoar outras línguas (Foto: Divulgação)

Vinício e Cícero também diferem quanto ao futuro em alto-mar. Enquanto Cícero ainda pretende trabalhar em outras temporadas, a “carreira” de Vinício foi “interrompida” por ter recebido cinco advertências, “que implicam em convites para sair (do trabalho)”. Estes ‘warnings’, destaca o estudante de Jornalismo, são dados por vários motivos, desde atrasos até “contatos indevidos com passageiros”.

Mesmo com a pouca experiência, Vinício relata que ainda deu para aproveitar um pouco a noite de Buenos Aires. “Na Argentina, o navio ficava atracado até o dia seguinte. Tínhamos o ‘overnight’ e podíamos sair sem problemas”.

Problema com filipina

Assim como Vinício, Ge Agosti também tem na bagagem uma história infeliz cuja protagonista foi uma filipina. Em uma das viagens, ela chegou a dividir a cabine com filipinas e brasileiras. “Tive problema com uma das filipinas que acabou sendo mandada embora, não por minha causa, mas porque roubava”.

Ge Agosti tem histórico diferente de Vinício Mancuso. Ela conta que a ideia de trabalhar em navio partiu de uma conhecida, que era dona de uma agência de turismo em Santos.

Depois de ser chamada para entrevista e ser selecionada, passou por um treinamento, que lhe foi cobrado. Mas deu tudo certo. Três meses depois, ela embarcava para Miami (Estados Unidos), atuando na maior concessionária do setor fotográfico de navios de cruzeiro do mundo.

O primeiro contrato de Ge Agosti foi estendido por um ano e ela passou um mês na longínqua Ucrânia. Ela também passou por Portugal, Malta, Grécia, Turquia e Croácia. Ge atuou por cinco companhias de cruzeiros e por cinco navios diferentes e conclui: “Hoje, dois anos depois do meu último contrato, ainda sinto falta de muita coisa da vida do mar, mas não sei se voltaria”.

Cícero (na Grécia) relata que acabou tendo afinidade com os demais trabalhadores do navio (Foto: Divulgação)

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