Pesquisadores alertam para impacto de ecstasy em organismos marinhos da Baía de Santos / Renan Lousada/ DL
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Nos últimos anos, os alertas sobre a presença de elementos tóxicos nas águas da Baía de Santos vêm chamando a atenção de pesquisadores e ativistas ambientais. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já havia constatado a presença de cocaína em organismos marinhos.
Agora, um novo potencial poluente emergente está sob análise: o ecstasy, ou MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina). Embora ainda não tenha sido detectado no litoral paulista, cientistas temem que isso possa acontecer em breve, devido ao aumento do consumo nos últimos meses.
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A droga chega aos mares e lagos após ser excretada pelo corpo humano, já que as estações de tratamento de esgoto não conseguem remover completamente essas substâncias. Testes realizados em animais marinhos mostram os efeitos toxicológicos causados por esses compostos.
Para os experimentos, os pesquisadores utilizaram as ostras-do-mangue, conhecidas por serem excelentes bioindicadores ambientais. Em entrevista à Agência FAPESP, o coordenador do projeto e professor da Unifesp, Camilo Dias Seabra, alertou: “Apesar de a concentração teoricamente ser menor no mar, sua toxicidade pode ser maior. Portanto, os efeitos tóxicos em animais marinhos são mais graves.”
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Os estudos mostraram que a exposição das ostras ao MDMA causou efeitos significativos — tanto letais (5.000 nanogramas por litro, ng/L) quanto subletais (5 a 50 ng/L) — mesmo em concentrações ambientais, o que indica alta sensibilidade desses organismos à substância.
Em pesquisas anteriores, voltadas a avaliar os impactos da cocaína em mexilhões-marrons e enguias, os cientistas observaram que os efeitos ocorriam em concentrações menores do que as do ecstasy. “Os efeitos do ecstasy nesses animais marinhos podem ser ainda mais intensos do que os da cocaína”, reforçou Seabra.
Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram amostras de MDMA apreendidas no Porto de Santos por agentes da Polícia Civil de São Paulo e doadas ao laboratório da Unifesp mediante autorização judicial.
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Segundo Seabra, essa parceria foi essencial para o avanço das pesquisas sobre os riscos ambientais e à saúde humana das drogas ilícitas e de seus metabólitos, classificados como poluentes de preocupação emergente. “O monitoramento sazonal de drogas ilícitas, como a cocaína, em ambientes costeiros é fundamental no Brasil, pois já se tornou um problema ambiental na nossa costa”, afirmou o pesquisador.
As concentrações de cocaína registradas na Baía de Santos, por exemplo, são mil vezes superiores às observadas na Baía de São Francisco, nos Estados Unidos. Além de Santos, a presença da droga e de seu metabólito, a benzoilecgonina, também foi detectada em organismos marinhos de outras cidades litorâneas brasileiras.
Os resultados desses estudos foram apresentados durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Poluentes Emergentes, realizada em Santos.
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