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Repórter da Terra

Há uma década, estudo da FAO já alertava para risco de epidemias letais como a Covid

Se o ‘tempo é o senhor da razão’, como diz o ditado popular, a Covid-19 se encarregou de confirmar o alerta feito pela FAO em dezembro de 2013. O estudo advertia que 70% das doenças que surgiram no mundo após a década de 1940 estavam diretamente ligadas à expansão da agropecuária. E o motivo principal para o surgimento dessas novas doenças é a derrubada de florestas, o que coloca o homem em contato com patógenos antes restritos ao mundo animal. Mais: o documento da agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura destacava vários tipos de viroses causadoras “até de epidemias letais”. O risco à saúde global foi revelado com exclusividade há exatos dez anos, na primeira edição do Repórter da Terra, publicada pelo Diário do Litoral em 3 de janeiro de 2014.

Cinco anos depois do alerta da FAO, a humanidade ficou perplexa com o surgimento do SARS-CoV2, o coronavírus que matou mais de 20 milhões de pessoas nos cinco continentes, segundo cálculos da Organização Mundial de Saúde. E descobriu o tal ‘novo normal’, o isolamento, as máscaras, o álcool gel e uma dor que nenhum ser vivo jamais havia presenciado. 

Zoonótico, ou seja, transmitido de animais para humanos, o SARS-CoV2 surgiu em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China. Os doentes tinham em comum o contato prévio com o mercado da cidade, conhecido por vender alimentos in natura.

Os cientistas pensam que a transmissão do novo coronavírus aconteceu de forma semelhante aos vírus de 2003 — que infectaram humanos em contato com morcegos infectados. Ao usar seu sonar, por exemplo, morcegos liberam partículas de saliva que podem estar carregadas de potenciais patógenos, como o SARS-CoV-2.

Provavelmente o animal hospedeiro da Covid-19 estava sendo vendido no mercado de Wuhan. Retirado da floresta para alimentar humanos, o pangolim foi, ao que tudo indica, o protagonista dessa transição do vírus para os humanos.

Segundo o alerta veiculado pela FAO há uma década, a lista de doenças transmitidas de animais silvestres para bois, porcos e aves criados em cativeiro e, daí, para os humanos, inclui também infecções mais banais como a bronquite e a laringite. A agência da ONU citava também a dengue e a aids, que surgiram após o avanço das áreas agrícolas sobre florestas desmatadas.

O motivo do surgimento de tantos vírus é a necessidade de produção cada vez maior de bovinos, porcos e aves para alimentar a crescente população humana. Essa demanda por proteína animal tem obrigado produtores a ampliar as áreas de pastagem em todo o mundo.

E esse avanço provoca o contato com espécies silvestres até então isoladas em regiões remotas. Segundo a FAO, em dezembro de 2013 um quarto da superfície terrestre já era usada para pastagem e 40% da produção global de cereais servia exclusivamente à alimentação desse rebanho.

De acordo com o documento revelado pelo Repórter da Terra, naqueles dias a pecuária já usava mais terra do que qualquer outra atividade humana. Além disso, os animais eram criados em ambientes cada vez menores, o que facilitava a rápida transmissão desses vírus entre o rebanho confinado.

E o alerta deixava claro: ou a humanidade para de crescer nos níveis atuais ou será necessária uma mudança nos hábitos alimentares em escala global. E essa transição deverá levar em conta tanto o risco de novas epidemias globais quanto as mudanças climáticas provocadas pela derrubada das árvores que absorvem os gases causadores do aquecimento global.

Por mais orgânicos e...

O Paraná fechou 2023 em primeiro lugar na produção de alimentos orgânicos do Brasil. No total, o Estado soma 3.911 produtores rurais certificados, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Somente de janeiro a setembro, foram certificados 347 novos produtores com o apoio do Governo do Estado, que tem capacitado gratuitamente agricultores familiares. Isso corresponde a 47,7% de todos produtores certificados no período.

...menos venenos agrícolas

São Paulo contabiliza 2.196 agricultores certificados, espalhados por 265 municípios. Na Região Metropolitana da Baixada Santista, há produtores cadastrados na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento em Santos, Guarujá e Itanhaém. No Litoral Norte, Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião também têm agricultura livre de venenos agrícolas. Em Sete Barras, Registro, Ribeira, Pedro de Toledo, Pariquera-Açu, Juquiá, Itariri, Iporanga, Iguape, Eldorado, Cananéia, Cajati, Barra do Turvo, Barra do Chapéu e Apiaí, no Vale do Ribeira, também há agricultores 100% orgânicos.

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