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Olhar Filosófico

O nada ao redor do redemoinho

Olho pela janela e vejo o nada. O céu está nublado, as árvores estão sem folhas e o chão está coberto de terra seca. O vento sopra calmamente, mas não traz nenhum som. O mundo parece estar em silêncio. Sinto-me um pouco perdido. Não sei o que pensar ou sentir. O nada me deixa perplexo. Penso contigo sobre. Sobre o quê?

O nada é um conceito que nos acompanha desde o início da nossa existência. É o que está antes do nascimento, o que está no além da vida, o que está entre o sonho e a realidade. É um mistério que nos fascina e nos amedronta ao mesmo tempo.

O nada é um tema recorrente na filosofia. Sócrates, por exemplo, dizia que o saber começa com a consciência da nossa ignorância. Para ele, o nada é o que nos leva a buscar a sabedoria, pois é o que nos mostra que não sabemos tudo. Supunha, assim, que o maior bem da vida é saber que não sabemos nada. “Só sei que nada sei!” Acreditava, por isso, que o conhecimento é a chave para a felicidade, mas que também é importante reconhecer os nossos limites. Não sabemos o que está “para lá” desse nosso mundo contingente, não sabemos o que acontece depois da nossa partida, não sabemos o que é a verdade absoluta.

O nada pode nos deixar desconfortáveis, porque nos lembra da nossa finitude e da nossa imperfeição. Mas também pode nos abrir para novas possibilidades, porque nos convida a explorar o desconhecido.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), foi um dos principais expoentes do niilismo (embora o mesmo não se reconhecesse como tal), uma corrente filosófica que nega a existência de valores absolutos. O niilismo pode ser visto como uma forma de enfrentar o nada. Se não existe um sentido predeterminado para a vida, então somos nós que devemos dar sentido a ela. Para Nietzsche, o nada é o que está além do bem e do mal, do certo e do errado. É o caos, o desconhecido, o que nos desafia a criar nossos próprios valores. E essa força que nos leva à vontade de superação, de dar sentido urgente à existência, chamou-a de "vontade de poder".

O filósofo francês Jean-Paul Sartre, que viveu no século XX, também abordou o tema do nada em sua obra. Defendia que o nada é próprio da condição humana. Sartre acreditava que o homem é condenado à liberdade, ou seja, ele é livre para escolher seu próprio caminho, o que também o torna radicalmente responsável por suas escolhas. Portanto, o nada é o que nos permite fazer essas escolhas, pois é o que nos dá a possibilidade de sermos o que queremos a partir daquilo que podemos. A liberdade, assim, nos coloca diante do nada e a angústia é a sensação que sentimos diante dessa experiência mais profunda, inclusive, porque nos confronta com a probabilidade de escolher também o mal e o erro.

O nada é um conceito complexo e multifacetado. É um paradoxo, pois é ao mesmo tempo o que nos define (o que nos torna humanos, o que nos permite criar, pensar e escolher) e o que nos escapa. O nada está presente em nossas vidas de diversas formas. Podemos encontrá-lo na natureza, na nossa própria mente, ou no mundo social.

E o que fazer diante do nada? Cada um de nós deve encontrar sua própria resposta para essa pergunta. Mas podemos nos inspirar (e nos aprofundar) nas ideias de Sócrates, Nietzsche e Sartre.

Podemos aceitar o nada como uma expressão da nossa ignorância e da nossa finitude. Podemos usar o nada para nos abrir para novas possibilidades. Ou podemos enfrentar o nada com a nossa liberdade e a nossa responsabilidade.

O importante é encontrar uma forma de lidar com o nada que nos permita viver uma vida plena e significativa. O nada que nos cerca pode nos parecer um abismo, mas também pode ser uma porta aberta para o novo.

E novamente, talvez renovado, olho pela janela e vejo o nada. Penso contigo sobre. Sobre o quê? Sobre quando? Sobretudo, nada!

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