X

Olhar Filosófico

A cadeira

Ano de 2020. Era uma manhã comum de aula na escola estadual de ensino médio "Senadora Filha da Anunciação". Quase todos os alunos estavam sentados em suas carteiras, ouvindo atentamente, por obrigação ou deleite (nunca saberemos), a aula de filosofia do professor Pessoa.

No fundo da sala, um aluno chamado Schatten, embora sentado em sua cadeira, não estava prestando a mínima atenção na aula. Em vez disso, olhava para a cadeira que estava ao lado dele.

Schatten sempre foi um aluno curioso e questionador. Ele gostava de pensar sobre as coisas e tentar entender o mundo ao seu redor. E, naquele dia, estava pensando sobre a tal cadeira que sempre estava ao seu lado em quase todas as aulas.

E ele começou a refletir sobre o que é uma cadeira. O que é que faz uma cadeira ser uma cadeira? É a sua forma? O seu tamanho? O seu material?

Pensou e pensou, e quanto mais pensava, mais ele ficava confuso. Ele não conseguia encontrar uma resposta que o satisfizesse.

De repente, Schatten teve uma ideia. Ele se esticou até a cadeira. A tocou, a cheirou, deu-lhe uma leve lambida e a olhou de perto.

A cadeira parecia real. Ela era feita de madeira, tinha quatro pernas e um assento. Mas Schatten não conseguia acreditar que ela realmente existia.

Ele voltou para a sua carteira e continuou a pensar sobre o assunto. E se perguntou se a cadeira existia apenas na sua cabeça. Ou se ela existia independentemente dele, mesmo que ele não pudesse vê-la ou tocá-la.

Schatten começou a pesquisar sobre o assunto. Ele leu livros sobre filosofia e metafísica. Descobriu que o problema da existência das coisas é um problema que tem sido discutido por filósofos há séculos. E um dos filósofos que mais interessou Schatten foi Markus Gabriel. Um filósofo alemão jovem e contemporâneo que defende uma teoria chamada "novo realismo". (E se eu fosse você, começaria a lê-lo agora! Até sugiro, comece com o já clássico “Por que o mundo não existe”).

Segundo Gabriel, as coisas existem independentemente de nós, mas elas só são possíveis porque nós as percebemos.

Schatten ficou fascinado pela teoria de Gabriel. Ele começou a (tentar) usar os argumentos de Gabriel para defender sua tese de que a cadeira ao lado dele não existia como algo do mundo.

Em uma aula de filosofia, Schatten levantou a mão e perguntou ao professor Pessoa:

Professor, a cadeira ao lado de mim existe?

O professor olhou para a cadeira e respondeu:

Claro que existe. Eu posso vê-la.

Schatten, sorriu e disse:

Professor, você pode ver a cadeira, mas isso não significa que ela realmente existe.

O professor ficou confuso.

O que você quer dizer? - ele perguntou.

Schatten explicou:

E se as coisas existirem independentemente de nós, e só sejam possíveis porque nós as percebemos. Em outras palavras, as coisas existem, mas elas só existem para nós.

O professor ficou pensativo.

Isso é uma ideia interessante - ele disse.

Schatten continuou:

Então, a cadeira ao lado de mim só existe porque eu a estou percebendo. Se eu parar de percebê-la, ela deixará de existir?

O professor não respondeu. Ele ficou olhando para Schatten , pensativo.

Schatten continuou a defender sua tese nas aulas de filosofia. Ele argumentava que a cadeira ao lado dele não passava de uma ilusão se vista como um ornamento ou função no mundo.

Os outros alunos ficaram curiosos com a tese de Schatten. Eles começaram a discutir o assunto nas aulas e nos intervalos.

A discussão sobre a cadeira que não existia se espalhou pela escola. Os alunos começaram a falar sobre o assunto com os professores e com os pais. Num dado momento, alguns até sugeriram se Schatten não deveria ser analisado por um psiquiatra, pastor ou padre.

E Schatten ficou famoso na escola. Ele era conhecido como o aluno que acreditava que as coisas não existiam. Diziam que por isso nunca se fez religioso ou pessoa de fé, afinal, se ele duvida até do que existe…

Schatten não se importava com a fama negativa. Ele estava feliz por poder discutir sobre o assunto que ele tanto amava. E continuou a estudar filosofia e a debater sobre a existência e importância das coisas.

E a cadeira que não existia? Ela ainda está lá, na sala de aula da escola "Senadora Filha da Anunciação", esperando para ser percebida.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Cotidiano

Haja paciência! Motorista encara trânsito para chegar até São Paulo

Tanto a imigrantes quanto a Anchieta apresenta tráfego

Itanhaém

Catador de reciclável dá exemplo e garante renda extra em Itanhaém; conheça a história

George Bonfim sai todos os dias para recolher papelão e plástico e complementar a renda da família

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter