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Nilton C. Tristão

Tática de desinformação eleitoral

A prática de procurar ludibriar a opinião pública através de narrativas que buscam subverter a realidade factual para construir uma versão distorcida da verdade não revela nenhuma originalidade. Pois no decorrer da história, diversos Estados nacionais contaram com agências especializadas na mitificação de personagens, fatos e eventos, tal como no caso da KGB na antiga União Soviética, que entre as suas funções de espionagem, encontrava-se também, a dedicação à eliminação do saber indesejado.

O alicerce ao exercício desse tipo de operação, invariavelmente, consiste na adulteração de dados e estatísticas com a finalidade de manipular os movimentos de massa e gerar processos de dissonância cognitiva, muitas das vezes, ancorados na criação de crises artificiais que articulam insatisfações e induzem a pressão popular à defenestração de lideranças políticas e destruição de reputações. Tudo se resume a propagação de conteúdos falsos e fabricados a fim de fecundar uma nova contextualidade, ou seja, bolhas impermeáveis com fidedignidades próprias, capazes de confundir a consciência por via da idealização de espantalhos quiméricos, utilizando-se do tripé que envolve as figuras do operador, adversário e agente involuntário, faceta que se incumbe de representar o vetor nos ataques e sabotagens (Canal História do Mundo).

Hoje, para compreendermos o potencial de alcance e a força malévola das Fake News, devemos dar especial atenção à compreensão dos impactos causados pelas redes e mídias sociais na saúde mental dos internautas, tais como: ansiedade, depressão, transtornos, impulsividade, esgotamento, agressividade e obsessão. Fenômenos psicossociais que convulsionam a autoestima e comprometem a percepção de meio circundante. Em resumo, o ciberespaço transformou-se no ambiente apropriado ao cultivo de preconceitos, propagação de estereótipos e a negação dos dessemelhantes. Portanto, o impacto desse sintoma não se restringe à proliferação de notícias inautênticas, mas ao fortalecimento de convicções delirantes, baseadas nos sentimentos de rancor, medo, raiva e frustração. Um lugar em que o diálogo racional invariavelmente subjaz na presença da retórica ficcional e as premissas com abordagens cientificamente corroboradas sucumbem perante as crenças ilusórias.

Resumidamente, adentramos numa era onde os eventos comunicacionais possuem maior relevância mediante os seus significados emocionais do que pela veracidade conjuntural e intrínseca. No próximo ano, encontraremos esses ingredientes nas disputas dos pleitos municipais. Possivelmente com menor intensidade do que o ocorrido na contenda presidencial de 2022, mas com força determinante para influenciar na conquista de valores, signos e ícones inseridos no imaginário do eleitor.

A batalha pelo domínio do universo simbólico terá que estar adequadamente estruturada no esboço da campanha, caso contrário, a derrota no sufrágio, resultante da disseminação sistemática de mentiras e pré-julgamentos, acontecerá de maneira inexorável. Quer dizer, dominar a competência de qualificar a fama alheia e pautar as guerras de versões constituirão fundamentos essenciais ao protagonismo no certame. Assim, não confunda a preservação da conduta ética com o comportamento tolo e ingênuo.

De outro modo, os concorrentes maus intencionados e desprovidos de escrúpulos encontrarão o campo perfeito ao espalhamento de boatos passionais, além de calúnias, injúrias e difamações, circunstância adequada para arruinar os melhores projetos e assumir o comando da municipalidade. “A prudência está justamente em saber conhecer a natureza dos inconvenientes e adotar o menos prejudicial como sendo bom.” (Maquiavel).

Nilton C. Tristão
Cientista Político

 

*foto: Sdecoret

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