Os rumos das disputas eleitorais

Deixarei de abordar a importância da morfologia financeira, material e humana nas campanhas eleitorais, uma vez que focarei apenas nas elaborações conceituais e estratégicas da busca pelo sufrágio popular. No período entre 1986 e 2016, as contendas foram travadas através de discursos lineares, ou seja, construções lastreadas no âmbito da realidade factual.

Porém, no transcurso dos anos de 2018 e 2022, ocorre a overdose de ações comunicacionais ancoradas em premissas mágicas que, ao invés de fortalecer convicções e teses firmadas por evidências concretas, objetivavam potencializar instintos, devaneios e crenças místicas.

Apoiada nessa asserção, as plataformas digitais atuaram na condição de ponta de lança à massificação da desinformação, notadamente por meio do fomento de ideias que remetiam aos desígnios de Deus, o papel do diabo no pleito, a iminente invasão armada chinesa em solo brasileiro, o fechamento de igrejas, a obrigatoriedade de banheiros unissex nas escolas, junto a demais incongruências mentais. Como resultado, a nação achou-se exposta ao surto de paranoia coletiva que ganhou força exponencial a partir de 1 de novembro de 2022, alcançando o ápice em 8 de janeiro de 2023.

Agora, o que poderemos aguardar do embate no próximo ano? Tratando-se de narrativa localizada, provavelmente observaremos o protagonismo das polêmicas centralizadas na qualidade de vida do munícipe com inserções periféricas de conteúdos delirantes. Desta maneira, os planos, táticas e métodos que serão instrumentalizados por profissionais a serviço dos postulantes terão que observar alguns princípios exteriorizados pelo canal Global Politik, quando avalia o desempenho da Ucrânia no enfrentamento à Rússia, a saber:

1) Perícia em operar conformações menores com inteligência e eficácia; 2) empreender operações de baixa probabilidade de detecção pelo opositor; 3) forçar o adversário a lutar em campo desconhecido; 4) criar modelos cognitivos com a faculdade de antecipar a movimentação inimiga; 5) adaptação permanente diante das mudanças no palco de batalha; 6) sustentar o monitoramento constante de informações imparciais e precisas.

Em outros termos, evitar o erro de transformar as estruturas dos oponentes robustos em arquétipo da própria organização.

Porquanto, o primeiro a assimilar as temáticas prioritárias e estabelecer a pauta do confronto reunirá os elementos essenciais para controlar a cadência do jogo e, consequentemente, o resultado final. Importante salientar que as candidaturas invariavelmente apresentam dificuldades singulares, pois há milênios os humanos cultivam a compulsão inata à conduta repetitiva e sistematizada.

Isto significa que o bom sniper subsiste naquele que interpreta previamente a provável trajetória do alvo e estabelece o padrão lógico ao zigue-zague anárquico de deslocamento da vítima. Em síntese, ter leitura e capacidade para interpretar sinais e signos, tantos os subjacentes, como os manifestos, converter-se-á na chave que abrirá o portal da morada da vitória.

Portanto, “devemos julgar um homem mais por suas perguntas do que pelas respostas (Voltaire); a pergunta certa é mais importante do que a resposta correta à pergunta errada (Alvin Tofller); o trabalho mais importante e difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa (Peter Drucker)”. Os especialistas em dinâmicas comportamentais e marketing eleitoral devem incorporar o momento de limiar à rotina de trabalho, antevendo a ruptura que redefine a proposta de contemporaneidade, além de estar em sintonia com as engrenagens que regem a costura do tecido social.

 

Nilton C. Tristão
Cientista Político