Artigo
Ação começou a ser pensada a partir do desenvolvimento de Startups e inovação para o setor portuário e logístico
Um mar que contém porto, turismo, pesca, náutica, esporte, cultura, culinária, história, biodiversidade, bioeconomia, educação e ciência, tecnologia e a memória afetiva de milhares de pessoas / Nair Bueno/DL
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A economia azul vem se consolidando como uma das grandes estratégias globais para impulsionar o desenvolvimento sustentável neste século. No Brasil, poucos territórios são tão promissores quanto a costa paulista. É nesse contexto que surge o Corredor Azul.
Um movimento colaborativo que propõe uma nova governança para o mar, integrando as vocações econômicas regionais com a preservação ambiental e a valorização das culturas e comunidades costeiras.
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O Corredor Azul começou a ser pensado a partir do desenvolvimento de Startups e inovação para o setor portuário e logístico com o objetivo de potencializar a principal vocação regional, no maior complexo industrial portuário do hemisfério Sul. O desafio lançado pelo Sebrae-SP era a construção de uma aceleradora voltada à vertical portuária e logística.
No entanto, à medida que as conversas com os atores locais avançavam, entre eles o Parque Tecnológico de Santos, a Autoridade Portuária, universidades, entidades empresariais, ONGs e lideranças comunitárias, compreendi que a vocação da região não se resumia ao porto: ela era o mar.
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Um mar que contém porto, turismo, pesca, náutica, esporte, cultura, culinária, história, biodiversidade, bioeconomia, educação e ciência, tecnologia e a memória afetiva de milhares de pessoas.
Foi nesse processo que encontrei o colega Renato Regazzi, do Sebrae RJ, autor de três livros sobre economia azul. Inspirado por essa nova perspectiva, percebi que não bastava acelerar negócios: era preciso construir um ambiente propício ao surgimento de soluções sustentáveis, articulando os atores da hélice quíntupla: governo, empresas, universidades, sociedade civil e meio ambiente.
Em 2022, lançamos o Marine StartupLab, o primeiro programa de inovação portuária e marítima do Sebrae, em parceria com o Parque Tecnológico de Santos e o ecossistema local. Foram cerca de 15 startups aceleradas, em uma jornada que revelou o potencial criativo e inovador do território.
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Durante o Bootcamp do programa, realizado no final daquele ano, João Amaral, da Voz dos Oceanos (família Schurmann), lançou um desafio: criar ações concretas de apoio ao oceano. Essa provocação foi o ponto de partida para uma parceria com Edmar Moraes, CEO do Ilhahub, com quem iniciei a construção de um documento voltado à reflexão e articulação dos principais desafios ligados ao mar.
Na sequência, realizamos uma pesquisa com atores estratégicos e formamos um grupo de trabalho com instituições como UNESP (IEAMar), UNIFESP (IMAR), Fundação Cenep, Parque Tecnológico, Ilhahub, e Sebrae, promovendo visitas técnicas em alguns ecossistemas de inovação e missões, uma delas ao Rio de Janeiro, onde já existiam iniciativas semelhantes.
Em agosto de 2023, na sede da Fundação Cenep, braço de ensino e pesquisa da Autoridade Portuária de Santos, realizamos um encontro histórico com representantes do Litoral Norte, Baixada Santista e Litoral Sul.
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Dessa reunião nasceu o Manifesto do Corredor Azul, lançado oficialmente durante a SP Ocean Week 2023, evento promovido pela Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Cerca de 900 pessoas já assinaram o manifesto.
Esse momento marcou a consolidação de um movimento pela governança da costa paulista, com foco no desenvolvimento sustentável, na inovação e na inclusão. Desde então, o Corredor Azul promoveu cinco fóruns regionais (em Santos, São Sebastião, Registro e Iguape), sempre conectando os cinco eixos da hélice quíntupla e envolvendo mais de 400 participantes.
Além disso, o Sebrae investiu R$ 225 mil em uma pesquisa inédita para compreender os desafios enfrentados pelos atores do litoral no desenvolvimento da economia azul, na proteção ambiental, no fortalecimento das comunidades costeiras e como vencer os desafios da Construção do Polo Científico e Tecnológico de Economia Azul, Porto e Logística.
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Em 2025, o movimento ganhou sua primeira entrega estruturada: o projeto Cidade Empreendedora Azul, uma plataforma de desenvolvimento econômico que reconhece e valoriza as vocações dos municípios. Cananéia, Ilha Comprida, Iguape e Cubatão já aderiram à iniciativa, que inclui:
• Semana de Tecnologia e Empreendedorismo Azul, com debates, formações e desafios voltados à inovação sustentável;
• Oficinas de mapeamento de potencialidades da economia azul;
• Programas de capacitação para negócios do mar, economia da praia, turismo, economia criativa, inclusão produtiva e educação empreendedora;
• Apoio técnico para a modernização de códigos municipais e políticas públicas para melhoria do ambiente de empreendedorismo e inovação e valorização das vocações locais.
Ao final de cada ciclo, será realizada a Expo Cidades Azuis, evento que reunirá os municípios participantes, consolidará as agendas locais e premiará os prefeitos que mais se destacarem no fomento à economia do mar.
O Corredor Azul já demonstra impactos concretos:
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• Mais de 40 startups aceleradas pelo Marine StartupHub;
• Mobilização de lideranças em três regiões litorâneas;
• Apoio no reconhecimento das Cadeias Produtivas Locais – CPLs;
• Adesão de cidades ao projeto Cidade Empreendedora Azul;
• Engajamento de universidades, ONGs, empresas e órgãos públicos;
• Apoio à formação de uma governança da costa, com encontros periódicos e definição de agendas comuns.
O Corredor Azul é uma resposta concreta à Década do Oceano (ONU, 2021-2030) e à Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Seu propósito é claro: criar um modelo de desenvolvimento que respeite o oceano e valorize quem vive dele e com ele. Um modelo onde inovação, cultura oceânica, ciência, educação e empreendedorismo caminham juntos.
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Nosso sonho é construir uma costa integrada, resiliente e protagonista. Um território onde a economia azul gera emprego, renda e dignidade. Onde os saberes tradicionais se unem ao conhecimento científico. Onde a natureza e o progresso não competem, mas se fortalecem mutuamente.