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Cem Dias de Estupidez Crônica

Nesse artigo tentarei estabelecer paralelos existentes entre os cem dias de mandato do Presidente Donald Trump, utilizando o discurso conferido em Michigan em 29 de abril de 2025, e as teses contidas no livro "A Psicologia da Estupidez"

Nilton C. Tristão - Cientista Político

Publicado em 03/05/2025 às 09:17

Atualizado em 03/05/2025 às 09:21

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Trump se apresenta como medida absoluta da competência, inteligência, eficácia e moralidade / Reprodução/Instagram

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Nesse artigo tentarei estabelecer paralelos existentes entre os cem dias de mandato do Presidente Donald Trump, utilizando o discurso conferido em Michigan em 29 de abril de 2025, e as teses contidas no livro “A Psicologia da Estupidez”, organizado pelo jornalista científico Jean-François Marmion.

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Assim, começarei citando Serge Ciccotti quando afirma que “pessoas incompetentes tendem a superestimar o próprio nível de competência”, circunstância que constatamos no discurso de Donald Trump através das seguintes manifestações: “Estamos aqui para celebrar os mais bem-sucedidos cem dias de qualquer governo na história do nosso país”; “nós cortamos mais regulamentações do que qualquer presidente na história, incluindo Roosevelt”; “nada acontece com as outras pessoas como acontece comigo”; “estamos trazendo a era de ouro da América”; “eu tenho a obrigação de salvar o nosso país”; “todos estão vindo do mundo para ver seu presidente”.

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Ou seja, Trump se apresenta como medida absoluta da competência, inteligência, eficácia e moralidade, rotulando os divergentes de tolos, loucos, estúpidos ou criminosos. Já Jean-François Dortier diz que “estupidez se mede a partir de um ponto de referência estipulado por quem se considera superior”, fato observado perante as seguintes expressões: “eles são lunáticos”; “eles perderam a confiança”; “eles são radicais, doentes, criminosos, selvagens”; “Joe Biden, o sonolento”; “Kamala não sabia nada da fronteira”.

Nesse sentido, Trump reorganiza a realidade com base em ponto de referência integralmente egocêntrica. Aaron James exprime que “há muito mais cretinos nos EUA de hoje do que no de outros tempos”, contexto facilmente detectado por meio das seguintes frases: “eles disseram que era impossível acabar com a cidadania por nascimento, mas no fim, só precisávamos de um novo presidente”; “criamos a maior deportação em massa”; “eles disseram que não podíamos fazer, mas fizemos”; “eles saqueiam, matam e ninguém os pune”.

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Trump assume a figura de cretino-mor que procura edificar uma nação alicerçada na contemplação da arrogância, desprezo pelas normas e impunidade estamental, em síntese, Donald trabalha arduamente pela naturalização do cinismo, zombaria e crueldade.

Pascal Engel enuncia que “babaca sofisticado reside uma forma de amoralidade... cegueira em relação à natureza dos fins... mesquinho e cruel... sempre desdenha de valores morais”. Trump se encaixa nessa categoria quando afirma: “eu assinei um decreto para não conceder cidadania por nascimento”; “nós criamos o ICE, que prendeu uma série de criminosos, traficantes, pessoas vindas de manicômios, condenados em outros países”; “estamos entregando uma deportação em massa, os piores estão sendo enviados para uma prisão em El Salvador”; “eles esvaziaram as prisões da Venezuela e do Congo”; “estão vindo da América do Sul, África, Ásia, de todas as partes ruins da Europa”; “os democratas começaram a defender os maiores selvagens”.

Trump defende a institucionalização da brutalidade enquanto mecanismo legítimo de governança e legalidade. Jean-François Marmion profere que “preservamos aquilo que confirma a nossa visão de mundo e minimizamos ou negamos o que pode vir a demonstrar que ela é falsa”, elemento detectado por intermédio das afirmações: “criamos a fronteira mais segura da história da América”; “a MSNBC é pior que a CNN”; “eles fazem pesquisas com mais democratas do que republicanos”; “os juízes estão tentando tirar o poder dado ao presidente para manter o país seguro”.

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Concluindo, Trump preserva com insistência tudo que confirma sua narrativa pessoal e nega ativamente qualquer dado que possa desmontá-la. A lógica que rege a fala não se encontra na veracidade, mas na seletividade da própria visão de mundo.

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