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Cotidiano

Morto por policial, atleta sonhava com novo voo no hóquei

Apontado como autor do homicídio, o soldado da Polícia Militar Jarbas Colferai Neto, 23, está preso desde terça (19)

Folhapress

Publicado em 25/09/2017 às 08:30

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Matheus foi atraído para uma emboscada por meio de um perfil falso / Arquivo Pessoal

"Você sabe quais planos que ele tinha?" O estudante de engenharia química Leandro Battisti Justo, 26, respira fundo ao telefone. Permanece mudo por alguns segundos, mas, logo em seguida, não consegue conter as lágrimas pela perda recente do amigo, a quem chamava por irmão, Matheus Garcia Vasconcelos Alves, 24.

A morte do ex-jogador da seleção brasileira de hóquei, assassinado com um tiro na região da nuca na noite da última segunda-feira (18), em São Vicente, pôs fim a sonhos.

"Tínhamos, desde pequenos, a intenção de jogar fora do país e nos profissionalizarmos na modalidade. O foco acabou mudando, ficamos no Brasil para fazer faculdade, mas retomamos os planos. O Matheus estava vendo uma pós-graduação em Portugal, de dez meses, juntando o hóquei", diz Battisti.

A ida para Portugal poderia ser uma espécie de última grande chance no esporte para Matheus. Apesar da carreira paralela como modelo e de cursar o último ano de publicidade e propaganda, o hóquei sempre foi uma espécie de obsessão.

O país europeu é considerado um dos principais polos do esporte, com uma liga organizada por três divisões, além da seleção local, a mais vitoriosa da história.

"O hóquei sempre foi a vida dele. Considero o maior talento que vi nascer no clube. Podia estar machucado, como fosse, que não parava. Já o vi jogar com ferida aberta e cabeça enfaixada", afirmou outro ex-companheiro de time, o gerente comercial Gustavo Merighi Picca, 22.

A dupla tinha uma amizade íntima construída pela modalidade. Em 1998, começaram praticamente juntos no Clube Internacional de Regatas, em Santos. Matheus com 5 e Leandro com 7. Na década atual, chegaram à seleção brasileira adulta.

"Tratava ele como um irmão mais novo, e ele com o respeito do mais velho. Eu dava broncas nele por ser mais calmo, e ele aceitava por ser mais explosivo", disse.

Mas Portugal não era o único sonho do jovem de 24 anos. Matheus comentava em roda de amigos e com um dos principais treinadores da carreira o desejo de partir para uma pós-graduação na Austrália.

"Ele nos falava bastante em ir para lá e explorar a sua atividade, a publicidade", conta o técnico Ricardo Assef, 53, conhecido como Pinguinha.

O treinador, que trabalhou com Matheus nos últimos cinco anos, descreve o antigo pupilo como alguém que não tinha medos e que "era um sonhador" no hóquei: "ele dizia que o país estava crescendo na modalidade, que poderia fazer carreira por lá".

O discurso comum de companheiros e amigos é de que Matheus não media esforços pela evolução do esporte. No último ano, acertou sozinho um patrocínio com uma concessionária da marca alemã Audi, em Santos, para o clube que defendia.

Além disso, era o responsável por alimentar a página oficial da equipe numa rede social e já chegou, até mesmo, a desenhar e confeccionar sozinho novos uniformes.

O caso

Leandro foi um dos primeiros a saber da notícia, mas custou a acreditar. Recebeu a ligação de uma amiga em comum com Matheus por volta de 23h questionando o nome completo do amigo.

Ao responder, ela disse que uma enfermeira de plantão no hospital havia lhe informado sobre a morte de um rapaz com esse mesmo nome, identificado pelo crachá da universidade. "Não acreditei. Pensei, sinceramente, que haviam roubado a carteira dele. O que ele ia fazer por ali? Não fazia sentido."

Em casa, enviou uma mensagem à família e recebeu, horas depois, a confirmação.

O caso é investigado pela Polícia Civil de São Vicente. Apontado como autor do homicídio, o soldado da Polícia Militar Jarbas Colferai Neto, 23, está preso desde terça (19).

Matheus foi atraído para uma emboscada por meio de um perfil falso em uma rede social. Imagens de uma câmera de monitoramento mostram o registro dele chegando ao local, conduzido por um motorista de aplicativo, e sendo baleado pouco depois. Ele ainda foi levado para o hospital municipal da cidade, mas não resistiu.

O policial alegou um envolvimento da namorada, com quem tem um filho, com o atleta. Eles estudaram juntos durante a infância. Para a polícia, não houve traição.

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