Cotidiano

Médico expõe a fragilidade da UPA Central de Santos

Anderson Mendes fala de falta de medicamentos, abuso de autoridade e problemas trabalhistas

Carlos Ratton

Publicado em 13/05/2016 às 10:00

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Médico revela que a UPA Central, recém inaugurada, já apresenta problemas como falta de profissionais, medicamentos e procedimentos operacionais adequados / Matheus Tagé/DL

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O médico Anderson Silva Mendes, em entrevista ao Diário, revela a fragilidade operacional da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, inaugurada no início do ano pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

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Mendes foi quem encontrou, acidentalmente, um paciente morto no banheiro da unidade, segundo ele acredita, por conta das características do corpo e da ocorrência, por infarto fulminante.   

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Ele revela, após ouvir funcionários, que o paciente chegou com dor torácica e pressão alta. Porém, ao invés de ser encaminhado para a sala de emergência, teria sido levado para a sala de medicação que estava cheia e com uma longa fila de espera.

“A esposa dele (paciente) o teria levado ao banheiro, local em que teve uma arritmia fatal no momento que tentava urinar, caindo entre o vaso sanitário e a parede divisória fechando parcialmente a porta”, revela o médico.

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Para o médico, ao chegar com dor torácica e hipertensão, o atendimento deveria ser classificado como emergência (cor vermelha), que risco de vida e encaminhado em cadeira de rodas para a sala de emergência, onde a enfermagem deveria fazer a monitorização cardíaca e instalar o aparelho que monitora a quantidade de oxigênio no sangue periférico e punção na veia.

“Tudo sem necessidade de ordem médica”, aumentando as chances de sobrevivência do paciente.
Falta de Medicação.      

O médico revela que havia falta de várias medicações, inclusive para infarto, e o sistema de informatização dos consultórios e sala de medicação não funcionava como o prometido na inauguração do equipamento.

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“Além disso, havia número menor de profissionais recomendado pelo Ministério da Saúde, o que fazia com que os funcionários estivessem sempre pressionados a trabalhar sem descanso e sem ser observado os intervalos para as refeições previstos na legislação”.

OS

Mendes acredita que a principal argumentação da Administração de que a colocação de uma Organização Social (OS) daria mais agilidade na resolução dos problemas não ocorreu. “Isso não aconteceu durante o período que trabalhei lá”, afirma o médico.

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Ele revela que foi dispensado do trabalho sob a alegação que não teria o perfil desejado para atendimento na UPA após reclamar do excesso de trabalho, falta de profissionais em número adequado e inobservância por parte da chefia médica e administrativa dos horários de almoço e repouso dos profissionais garantidos por lei.

Mendes tem 17 anos de experiência em emergências e disse que existem falhas também de gestão e que profissionais sofreriam abusos de autoridade, como os de serem impedidos de fazer pausas para conversar com colegas de profissão durante o plantão.

Ele revela que chegou a ser seguido. “Foi com custo que convenci a gerente a sair sem que antes me alertasse do cargo que ela possuía na UPA e que iria querer saber qual o assunto da conversa. Estes abusos de autoridade, somada a proibição da saída da UPA para fazer uma refeição digna, afastam os profissionais”, conta.   

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Finalizando, o médico dispara: “será que é para dar esse tipo de tratamento de feitor de escravos que a Prefeitura de Santos elegeu a Fundação ABC para gerir a UPA? Para ter funcionários sem vínculo empregatício e direitos trabalhistas? É essa a verdadeira intenção por trás das promessas de boa gestão de saúde?”.    

MP

Vale lembrar que a 18ª promotora de Justiça de Santos, Marisol Lopes Mouta Cabral Garcia, instaurou inquérito civil para apurar possíveis irregularidades na UPA, localizada na Rua Joaquim Távora, 260, na Vila Mathias, inaugurada em 15 de janeiro último.

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O procedimento – que pode ser tornar ação civil pública – ocorre por conta de denúncia do vereador Evaldo Stanislau (Rede), que apontou inúmeros procedimentos supostamente irregulares. O parlamentar está exigindo explicações da Administração Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).
Prefeitura e ABC.

A Prefeitura de Santos informa que a Fundação do ABC, gestora da UPA Central, já prestou os esclarecimentos solicitados pelo Ministério Público sobre a referida unidade, conforme demanda encaminhada via Secretaria de Saúde.

A Fundação ABC ratificou o que respondeu a Prefeitura e especificamente sobre o médico citado informa que ele foi demitido por não se encaixar no perfil necessário para o atendimento realizado na UPA.

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