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Cotidiano

Dor e comoção no reconhecimento das vítimas do acidente na Mogi-Bertioga

Corpos já foram liberados; maior parte segue para São Sebastião, onde ocorre velório coletivo

Publicado em 09/06/2016 às 22:01

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Acidente na Mogi-Bertioga matou 18 pessoas / Matheus Tagé/DL

Sentados na porta do Instituto Médico Legal (IML) de Guarujá, a família do pedreiro Damião Nunes Braz, de 33 anos, aguardava o momento de reconhecer oficialmente o corpo do ente querido. Filho de uma família com 10 irmãos, ele foi uma das 18 pessoas que morreram no acidente com o ônibus que transportava estudantes de Mogi das Cruzes para São Sebastião, na noite da última quarta-feira (8). Assim como a maioria dos jovens que perderam suas vidas na tragédia, o futuro engenheiro sonhava com uma vida melhor à si e aos seus. 

“Ele era de uma família muito humilde. Começou trabalhando como cozinheiro de hotel e agora trabalhava como pedreiro. Batalhava para pagar a faculdade. Tinha 10 irmãos. Era o filho do meio. Fica a saudade. A gente não se conforma dele morrer com uma morte dessa”, disse José Antonio Faustino, primo de Damião.

O estudante cursava Engenharia, tinha 33 anos e era morador de Barra do Una, em São Sebastião. Enquanto a Reportagem conversava com o primo dele, um dos irmãos de Damião, que mora em Guarujá, foi chamado para reconhecer o corpo.

O cenário na porta do IML era desolador. Choro, gritos e lamentos de quem aguardava por notícias ou já havia feito o reconhecimento do corpo do ente querido e esperava apenas a liberação. Carros das funerárias se misturavam aos da imprensa e de familiares. 

A funcionária do instituto andava em meio as pessoas procurando parentes de vítimas, as quais chamava nominalmente. A dor da perda fez com que alguns precisassem de atendimento médico, como a mãe de uma estudante que não aguentou o baque de ver a filha morta e foi ao chão. Foi amparada por abraços e palavras de conforto. Outra mãe gritou em prantos: “É meu filho. Só tenho eles. Só tinha ele de filho”, ao abraçar a filha.

Filha única

A dor também estava presente nos olhos do caseiro Otacílio Pereira de Lima Filho. Sua única filha, Rita de Cássia Alves Lima, de 19 anos, é uma das 18 vítimas da tragédia. A mãe da estudante do terceiro ano do curso de Enfermagem também estava – em estado de choque - no IML aguardando a liberação do corpo da jovem. 

“É um momento inexplicável. Não existe palavra para definir. Vi ela saindo da ambulância e entrando no hospital. Não se movia. Não sei estava com vida ou não. Ela estava contente fazendo Enfermagem. Ainda não trabalhava, mas já participava dos eventos de saúde”, disse Otacílio com os olhos marejados.

O caseiro, que mora em São Sebastião, buscava a filha todos os dias no ponto e a estava aguardando quando soube da notícia do acidente. “Fiquei sabendo do que aconteceu através dos amigos. Um enviava para o outro nas redes sociais”, afirmou.

Jorge Sousa Silva, que mora em São Paulo, acompanhava o amigo Otacílio e sua esposa no IML. Conhecia Rita desde que ela tinha três anos de idade. Segundo ele, a jovem sonhava em comprar uma casa para os pais. “Uma moça linda e educada. Era o braço direito do pai e da mãe”, destacou.

Funerária

Dos 18 corpos, um será enterrado em outro estado, em uma cidade do interior do Paraná. O motorista do carro da funerária que fará o traslado é tio de Janaina Oliveira Pinto, de 20 anos, estudante do último ano de Farmácia, que será sepultada no município de origem de seus familiares. 

“Ela estava fazendo estágio em Mogi e morava lá. O estágio acabou e então ela estava descendo e subindo todos os dias. Tenho mais uma filha”, disse Jair, pai de Janaína. O motorista da funerária é seu irmão.

Uma das amigas de Janaina falou da mobilização para atender as vítimas do acidente. “Pessoas de folga foram para o hospital em Bertioga e para o local do acidente para ajudar no socorro. O hospital não tem tanta estrutura para atender um acidente desta proporção”, destacou.

Motorista

Entre as vítimas fatais também está o motorista do ônibus. Antônio Carlos da Silva, de 37 anos, morava em Caraguatatuba. Segundo seu irmão, o marinheiro Anderson Luiz Alves da Silva, de 27 anos, o condutor do coletivo estava noivo e deixa dois filhos: um de 10 e outro de 14 anos.

Em meio a dor, o acolhimento

Em meio a tantas informações desencontradas, duas famílias chegaram ao Hospital Santo Amaro, em Guarujá. Buscavam informações sobre duas jovens. Já haviam passado por diversos hospitais e nada. A assistente social e a psicóloga do hospital acompanhou os parentes das estudantes até o IML e os ajudaram a encontrar notícias, que não foram boas. 

“Nessas horas não podemos perder o controle da situação. Temos que acolher a pessoa. É um trabalho de acolhimento. Os familiares se desdobraram para buscar informações. Estamos com eles desde cedo”, disse a psicóloga do hospital.

Em seguida, a Reportagem soube que as duas estudantes foram encontradas no IML e que o reconhecimento foi feito com base em detalhes que haviam nos corpos.

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